Segundo análise de Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, O movimento da Bolsa nesta sexta-feira pode ser atribuído, na minha opinião, a uma combinação de fatores positivos e negativos. Durante o dia, o Ibov trabalhou no positivo mas acabou virando.
O que de certa forma segurou o Ibovespa foi especialmente o setor de commodities. Empresas como Vale e Usiminas apresentaram balanços trimestrais sólidos, com lucros significativos que superaram as expectativas do mercado. A Vale, por exemplo, registrou um lucro líquido de US$ 2,412 bilhões no terceiro trimestre e anunciou um acordo importante para a reparação do acidente da Samarco, o que trouxe mais confiança aos investidores.
Além disso, os preços do minério de ferro e do petróleo subiram, impulsionando as ações de empresas produtoras de matérias-primas. O contrato mais negociado do minério de ferro subiu 2,81% em Dalian, na China, enquanto os preços do petróleo avançaram favorecendo as ações da Petrobras. No entanto, a cautela ainda prevalece no mercado, refletida na valorização do dólar. O mercado está aguardando mais clareza sobre as medidas de cortes de gastos e ajustes fiscais prometidos pelo governo, o que gera um ambiente de incerteza.
Em resumo, vejo que a alta da Bolsa é impulsionada pelos bons resultados das empresas e pelo aumento nos preços das commodities, mas a cautela nos mercados impede um tom mais otimista. Entre as altas, a CVC liderou os ganhos do Ibovespa, sendo negociada a R$ 2,12, o maior preço desde agosto. Isso aconteceu apesar da alta dos DIs, que geralmente prejudica ativos dependentes de crédito. O mercado parece estar se preparando para o balanço da companhia, previsto para 12 de novembro. Mesmo com dificuldades recentes, a empresa mostrou avanços significativos no segundo trimestre, como redução do endividamento, aumento das vendas, do take rate e abertura de novas lojas. Isso sugere um turnaround promissor.
As ações da Usiminas subiram também com mais de 11 mil negociações, liderando as altas do Ibovespa após reportar um lucro líquido de R$ 185 milhões no terceiro trimestre. Isso reverteu o prejuízo de R$ 166 milhões do mesmo período de 2023 e superou em mais de três vezes as expectativas do mercado. Esse desempenho sólido certamente atraiu a atenção dos investidores.
As ações da Vale subiram ainda impulsionadas pelo bom desempenho trimestral e pelo acordo relacionado ao desastre de Mariana (MG), assinado mais cedo com o governo federal. A resolução desse acordo deve ajudar a remover incertezas, o que é um grande alívio para os investidores. Essa valorização ajudou a Vale a recuperar R$ 10 bilhões em valor de mercado, totalizando R$ 281,6 bilhões. Na NYSE, as ações também subiram 4,39%.
Entre as quedas, temos HYPE3. As ações da Hypera caíram liderando as quedas do Ibovespa. A possibilidade de uma fusão com a EMS continua no radar, de acordo com analistas. Ontem, após a negativa do conselho da farmacêutica, as ações chegaram a registrar uma queda de 7%.
As ações de empresas mais sensíveis ao ciclo econômico estão operando majoritariamente em queda, pressionadas pela alta dos juros futuros. Entre as maiores perdas do Ibovespa, as ações da IRBR3 caíram 5,27%, enquanto as ações do CRFB3 caíram 3,35%.
Na minha visão, o movimento dos juros futuros hoje reflete principalmente o cenário de incertezas fiscais e o avanço do dólar. O mercado já está no compasso de espera pelas medidas de corte de gastos prometidas pelo governo, mas, honestamente, o ceticismo é forte. Com tantas promessas e poucas ações concretas, é difícil acreditar que essas medidas virão com força suficiente para melhorar a situação fiscal.
Outro ponto é a alta do dólar, que tem pressionado ainda mais a curva de juros. Quando o dólar sobe, aumenta a expectativa de inflação, e o mercado começa a precificar uma necessidade maior de ajuste na taxa Selic. A possibilidade de uma alta de 75 pontos-base na próxima reunião do Copom acaba ficando mais próxima, ainda mais com as projeções de inflação desancoradas.
Além disso, os dados recentes, como a confiança do consumidor em queda e a alta no IPC-Fipe, jogam mais lenha na fogueira. Isso só reforça a percepção de que a inflação continua sendo uma preocupação séria, o que dificulta o trabalho do Banco Central em manter os juros controlados. Com tudo isso, não vejo um cenário de alívio imediato nos juros, pelo menos até que medidas fiscais concretas sejam anunciadas e, de preferência, implementadas de forma convincente.
O movimento do dólar para cima hoje é uma combinação de incertezas fiscais no Brasil e fatores externos complicados. Aqui, o mercado está cada vez mais cético com as promessas de cortes de gastos. O governo fala muito, mas até agora não mostrou nada de concreto, e isso só gera mais desconfiança. Além disso, o aumento dos investimentos fora do arcabouço fiscal, mantem o alerta, alimentando a percepção de que a situação pode piorar.
Externamente, o cenário também traz uma pressão. A eleição nos Estados Unidos traz um clima de incerteza, e os investidores ficam cautelosos com o impacto nas decisões de corte de juros por lá, acrescentando também a situação econômica da China, que segue instável, o que só reforça a busca por segurança, levando os investidores a se protegerem no dólar. Basicamente esse é um movimento defensivo em meio a tantas dúvidas, tanto aqui no Brasil quanto no cenário internacional.
Confira aqui os dados de fechamento do Ibovespa e demais índices:
- Ibovespa: 129.893,32 (-0,13%)
- S&P 500: 5.808,12 (-0,03%)
- Nasdaq: 18.518,61 (+0,56%)
- Dow Jones: 42.114,40 (-0,61%)
- Dólar: R$ 5,75 (+0,75%)
- Euro: R$ 6,15 (+0,43%)