O Ibovespa registra uma queda acumulada de 2,7% no ano, enquanto em termos de dólares a desvalorização chega a 17%. A taxa Selic, atualmente fixada em 10,75%, tem atraído os investidores para a renda fixa, que oferece retornos mais atrativos, afastando recursos da renda variável. Paralelamente, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem recebido críticas por ampliar gastos e postergar reformas fiscais, o que tem aprofundado a desconfiança no mercado.
Analistas apontam que uma possível recuperação das ações dependerá de um controle mais rigoroso das contas públicas e do avanço nas reformas. A falta de previsibilidade fiscal e o ambiente de juros altos têm reduzido a atratividade do mercado brasileiro para investidores estrangeiros, que buscam segurança em mercados mais estáveis.
Os fundos multimercado foram diretamente impactados pela deterioração do cenário econômico, com uma queda de 39% no patrimônio líquido desde 2021. O gráfico abaixo revela que o patrimônio líquido dos fundos multimercado atingiu seu pico em dezembro de 2021, com R$ 301 bilhões, mas caiu para R$ 183,9 bilhões em setembro de 2024. Esse recuo reflete o aumento da cautela dos investidores, que têm migrado para produtos mais conservadores, como a renda fixa, devido à volatilidade do mercado e às incertezas fiscais.
Entre os maiores resgates de 2024 estão:
- SPX Capital: R$ 9,6 bilhões em saídas;
- Ibiúna Investimentos: R$ 9,2 bilhões retirados;
- Legacy Capital: R$ 7,9 bilhões em resgates.
Esse movimento de retirada de recursos, iniciado em 2023 e intensificado ao longo de 2024, demonstra uma tendência de maior cautela e menor apetite por risco por parte dos investidores, afetando diretamente a captação de novas aplicações.
Verde Asset passa por reestruturação
Para enfrentar o ambiente adverso, a Verde Asset adotou uma estratégia mais conservadora, apostando em petróleo, moedas internacionais e posições compradas em inflação. Mesmo com essas mudanças, a gestora tem lidado com uma enxurrada de resgates. Numa reestruturação interna a gestora afastou alguns executivos e escalou Daniel Goldberg, ex-CEO do Morgan Stanley no Brasil, como sócio minoritário. A intenção é estabilizar a gestora e buscar uma nova direção estratégica. No entanto, os desafios permanecem, e a Verde ainda luta para conter os resgates e evitar maiores impactos operacionais.
Desafios e Perspectivas
O mercado financeiro brasileiro atravessa um momento de incerteza e volatilidade, com impactos evidentes tanto na bolsa de valores quanto na indústria de fundos multimercado. O aumento das taxas de juros e a falta de clareza nas políticas fiscais continuam a afastar investidores, redirecionando recursos para ativos mais seguros. O governo precisará avançar nas reformas fiscais e adotar uma gestão rigorosa das contas públicas para restaurar a confiança no mercado e atrair novamente o interesse em ativos de risco.
Enquanto isso, gestoras buscam novas estratégias para sobreviver ao cenário adverso, enquanto fundos multimercado enfrentam uma mudança estrutural, marcada pela migração de investidores para alternativas mais seguras.
