
O mercado financeiro é repleto de jargões que envolvem a vida selvagem. Você pode ser um sardinha ou um tubarão, a bolsa pode estar em tendência de “bear” (urso, em inglês) ou em “bull” (touro, em inglês). E na indústria de fundos, não é diferente. Me apropriando do gigante Zeca Pagodinho: “camarão que dorme a onda leva” e a onda da vez parece ser a Trígono Capital.
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Recapitulando um pouco a lista dos melhores (e piores) fundos de ações do primeiro semestre, tem um fundo que chama muito a atenção: o FIA Trígono Verbier.
O fundo, gerido pela Trígono Capital, teve uma impressionante rentabilidade de 53,62% na primeira metade do ano, ficando atrás apenas do fundo Hayp FIA, da Zenith Asset. Só que esmiuçando um pouco mais, o que chama muito a atenção é a escolha dos ativos da carteira da Trígono.
Enquanto os outros fundos investem em empresas de renome, que estão no Ibovespa, o da Trígono foca em Small Caps, companhias que estão completamente fora do radar dos investidores e que tem uma excelente análise a longo prazo.
Entre os principais ativos do fundo estão:
- Cristal;
- Wlm Ind Com;
- Ferbasa;
- Tupy;
- São Martinho;
- Schulz;
- Kepler Weber.
Por conta desses fatores que saltam aos olhos de qualquer apaixonado pelo mercado financeiro, conversei com o CIO e co-fundador da Trígono Capital, Werner Roger, confira a entrevista:
Qual foi o principal fator que fez a Trígono ter essa performance no primeiro semestre?
[Werner Roger]: Na verdade, não é um fator, é uma combinação de fatores, né. Então, vamos lá. Termos de estratégia, desde 2015, eu, como gestor na outra gestora, quando o Governo Dilma começou a fazer água com as pedaladas fiscais, eu assumi que nós tínhamos que ter uma posição defensiva, né? E qual que era a posição defensiva, não é ficar vendido, é investir em empresas que eh tem a suas receitas vinculadas ao dólar, né? E assim, pra mim, tudo é dólar, né? Petróleo. Então, qualquer coisa que acontecesse aqui na economia local, ou internacional, global, o dólar é proteção. Então, pra nós, assumimos essa postura, com aumento.
[WR]: Portanto, a nossa estratégia, digamos, não é top down, não é nada disso, é uma estratégia defensiva. Proteger as carteiras. Com essas empresas, né? Tem setores como o agronegócio, ou subsidiados no exterior. Então, essa foi uma estratégia importante.
[WR]: Um segundo ponto é ser contra um consenso, né? Todos compram as mesmas coisas. Aí, todo mundo quer varejo, todo mundo é caro, e em todas as carteiras da concorrência é tudo muito parecido, a gente olha e tem 70% de sobreposição que todos os gestores. O que nós fazemos? Investimos em justamente tudo aquilo que o mercado não quer. Na crise, o que que vai mal? É industrial, é commodity, é logística. E por que eu faço isso? Por que está barato, né? Porque a crise, eu sei que passageira, eu tô aí quarenta anos no mercado, né? Então, é da crise que ganha dinheiro. Portanto, eu vou me posicionar que eles estão baratos, porque a crise vai passar. Mas lembrando que não é uma uma decisão setorial. As empresas estavam baratas, porque aquele setor estava numa redução.
[WR]: Outra coisa importante, que a gente sempre comenta é que somos agnósticos com benchmark. O que significa? Eu não olho o benchmark. Quando eu monto a carteira, ela não tem nenhuma correlação com o peso no índice. Hoje, nossa carteira tem 98% de gestão ativa.
[WR]: O nosso índice não é como a bolsa. A bolsa calcula a negociabilidade, o que ela faz? Ela pega 85% das empresas mais negociadas ou o índice de administrabilidade, ela corta, dali pra baixo, e aí tem que cumprir uma série de requisitos, né? Então, o índice da bolsa não é de capitalização, não é de tamanho, é de liquidez.
[WR]: Nós não, nós escolhemos a empresa de menor valor em capitalização, nós somos small caps verdadeiros. Portanto, nossa posição não tem nada a ver com a bolsa. Se todo mundo compra as mesmas coisas e todo mal compra e vende as mesmas coisas, todo mundo cai junto.
[WR]: Acho que o último fator, o mais importante, é a forma como avaliamos cada uma das empresas. Nós usamos na Trígono uma metodologia que chama-se: o valor econômico adicionado cocriado, né? Nós usamos uma metodologia que ninguém usa. Portanto, eu vou chegar, onde mercado não chega. Todo mundo usa a mesma fórmula, né? E se as empresas dão boas informações para todos nós, todo mundo vai chegar no mesmo preço, o que cria um consenso e todo mundo fica igual.
[WR]: Em resumo: uma metodologia diferente, a seleção das empresas tem um critério diferente do índice, né? Uma estratégia contrassenso, contracíclico, contra o consenso que é esse setores que eu falei, tudo combinado, trouxe esse resultado.
O que o investidor pode esperar da Trígono para o segundo semestre?
[WR]: Pode esperar mais do mesmo. Então, por quê eu falo isso? Porque nós estamos conversando com as empresas, nós estamos olhando o que está acontecendo nos mercados elas atoa, né? A gente tem todos os dados econômicos, de preço, etc, né?
e que nós percebemos que a conjuntura está cada vez melhor, tá? Então o que que é, o que a gente espera no setores, a cada trimestre agora será melhor do que o outro. O segundo será melhor do que o primeiro, o terceiro melhor que o segundo e assim vai. Então, à medida que as empresas apresentarem seus resultados, o mercado vai perceber e aí vem aquela surpresa boa. E por que é surpresa? Porque o mercado não acompanha a empresa de perto, né? O mercado está olhando uma Petrobras ou Itaú da vida.
[WR]: Outra coisa importante, eu acabei não falando, nós damos uma um peso muito importante pra dividendos, que vai (ou não) ser tributado, né? Isso é outra discussão. As empresas que precisavam de liderança ano passado, por conta das incertezas. Então, assim, eu vou distribuir menos dividendos para poder aguentar a crise.
[WR]: Se a tributação vier pro ano que vem, todo mundo vai descarregar o que puder esse ano. Então, nós estamos esperando, caso seja aprovado, principalmente no quarto trimestre, um monte de dividendos. Nós estamos muito bem posicionados também no quesito dividendos.
[WR]: Então, pra finalizar, o que é o nosso trígono de investimentos? É a metodologia que eu falei que é: o EVA (sigla em inglês para Valor econômico adicionado), os dividendos e o ESG, que usamos como uma ferramenta de proteção de nossas carteiras.