A utilização de células-tronco mesenquimais representa uma das grandes apostas da medicina regenerativa atual. No portal do National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, há atualmente 1.728 estudos clínicos utilizando essas células para tratar diversas condições, incluindo osteoartrite, diabetes tipo 1, cirrose hepática e lesões renais. Este artigo explora o uso dessas células na medicina regenerativa, focando em pesquisas conduzidas no Brasil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Essas células estão principalmente envolvidas na aceleração da cicatrização de feridas e tratamento de condições complexas como fibrose cística, lesão espinhal e doenças respiratórias, como a Covid-19. No Brasil, o Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da UERJ está na vanguarda dessas pesquisas, utilizando técnicas de bioimpressão 3D para potencializar o uso de células-tronco mesenquimais no tratamento de fibrose hepática e lesão pulmonar aguda.

O que são células-tronco mesenquimais?
As células-tronco mesenquimais (MSCs) são células multipotentes que podem ser isoladas de diversos tecidos, como medula óssea, tecido adiposo e cordão umbilical. Elas têm capacidade de se diferenciar em vários tipos de células, incluindo osteócitos (células ósseas), adipócitos (células de gordura) e condrócitos (células de cartilagem). Esta versatilidade torna as MSCs uma opção promissora para a regeneração de tecidos e tratamento de várias doenças degenerativas.
Como funciona a terapia celular?
A ideia básica é introduzir células saudáveis e especializadas em um órgão doente, com o objetivo de:
- Reparar tecidos danificados: As células introduzidas podem substituir as células mortas ou danificadas,promovendo a regeneração do tecido.
- Modular a resposta imune: Algumas células podem ajudar a reduzir a inflamação e a resposta imune excessiva,que contribuem para o desenvolvimento de fibrose e lesão pulmonar.
- Secretar fatores de crescimento: As células podem liberar substâncias que estimulam o crescimento de novos vasos sanguíneos e a produção de colágeno, auxiliando na cicatrização.
Como as células-tronco podem ajudar na medicina regenerativa?
As MSCs podem ser usadas para tratar uma variedade de condições devido à sua capacidade de secreção de proteínas e fatores de crescimento que ajudam na regeneração dos tecidos danificados. No caso específico das pesquisas da UERJ, as células são direcionadas para tratar fibrose hepática e lesão pulmonar aguda, condições frequentemente agravadas pela Covid-19 e outras doenças respiratórias.
Quais são os estudos realizados pela UERJ?
Desde a pandemia da Covid-19, pesquisadores da UERJ têm explorado a utilização de células-tronco mesenquimais em modelos animais. Em seus estudos, camundongos da linhagem C57BL/6 com fibrose hepática e lesão pulmonar aguda receberam secretoma de MSCs de tecido adiposo. O secretoma é composto por proteínas e moléculas bioativas secretadas pelas células, que demonstraram diminuir inflamações e ajudar na recuperação dos tecidos.
Quais os resultados obtidos até agora?
Os estudos mostraram uma redução significativa nas citocinas inflamatórias no plasma sanguíneo dos camundongos tratados, indicando uma recuperação sistêmica. Houve também uma diminuição das enzimas hepáticas e do acúmulo de colágeno no fígado, bem como uma regeneração do parênquima pulmonar, indicando que o secretoma das MSCs pode ser eficaz na recuperação de fibrose hepática e lesões pulmonares concomitantes.
Quais são as próximas etapas da pesquisa?
Com o sucesso inicial, o projeto em andamento na UERJ visa aprimorar a plataforma de bioimpressão para a produção de secretomas com potencial terapêutico melhorado. Esta pesquisa foi premiada pela empresa BioEdTech e pretende estabelecer composições ideais de biomoléculas para biotintas usadas na bioimpressão de MSCs. O objetivo é obter um secretoma de alta viabilidade para tratamentos em larga escala.
- Bioimpressão de biotintas com células-tronco mesenquimais.
- Análise proteômica para definir a composição dos secretomas.
- Escalonamento da produção para armazenamento e uso clínico.
Quais são as implicações globais dessa pesquisa?
Dada a ausência de publicações sobre bioimpressão e secretoma de células-tronco mesenquimais para tratamento de doenças concomitantes, o trabalho da UERJ é pioneiro. Os resultados promissores indicam que as proteínas secretadas pelas MSCs têm um potencial considerável na medicina regenerativa. Este avanço pode trazer novas esperanças para pacientes com doenças complexas que afetam múltiplos órgãos.
Além disso, a pesquisa também se destaca pela preparação que oferece em termos de resposta a emergências sanitárias, como a potencial mutação de vírus zoonóticos que podem causar doenças respiratórias graves. A preparação contínua e a inovação são essenciais para enfrentar novos desafios de saúde pública.
Em suma, a pesquisa com células-tronco mesenquimais na UERJ está avançando rapidamente e oferecendo novas possibilidades para a terapia regenerativa. Com os avanços em bioimpressão e o apoio de instituições como a Faperj e empresas pioneiras, há grande esperança de que estas técnicas possam, em breve, ser usadas em larga escala para o bem-estar de muitos pacientes.
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