Falar de doação de órgãos ainda é um tabu no Brasil. Por que tantas famílias negam a doação de órgãos? Um dos principais obstáculos é a recusa familiar. Neste ano, o Ministério da Saúde tem como tema da campanha: “Doação de órgãos: precisamos falar sim”, que alerta para a necessidade do diálogo sobre a doação e a desmistificação do assunto. Nos canais digitais da pasta, a veiculação começou nesta quarta (18). Nos canais abertos de televisão e rádio, a campanha inicia no final do mês.
Dentre os motivos para não autorizar a doação, estão a não aceitação da manipulação do corpo, crença religiosa, medo da reação dos parentes, desconfiança da assistência e a não compreensão do diagnóstico de morte encefálica. Por isso, falar sobre o assunto é o primeiro passo para se tornar um doador.

Por que as famílias recusam a doação de órgãos?
O processo decisório para a doação de órgãos é complexo e emocionalmente delicado. Muitos familiares recusam a doação devido à não aceitação da manipulação do corpo do ente querido. Além disso, crenças religiosas e medo da reação de outros parentes também desempenham um papel significativo. A desconfiança no sistema de saúde e a falta de compreensão sobre o diagnóstico de morte encefálica são outros fatores que levam à recusa familiar.
- Falta de informação: Muitas pessoas não possuem conhecimento sobre o processo de doação, os critérios de seleção dos receptores e os benefícios que ela pode trazer. A falta de informação clara e precisa sobre a morte encefálica, por exemplo, pode gerar dúvidas e incertezas.
- Medo e tabus: O medo da morte, da mutilação do corpo e de que o doador não receba os cuidados adequados são sentimentos comuns. Além disso, existem tabus sociais e culturais relacionados à morte e ao corpo que podem dificultar a decisão de doar.
- Crenças religiosas: Algumas religiões possuem posicionamentos diferentes sobre a doação de órgãos, o que pode influenciar a decisão das famílias.
- Dificuldade em lidar com a perda: A decisão de doar os órgãos de um ente querido é muito difícil em um momento de grande sofrimento. A dor da perda pode dificultar a tomada de decisões racionais.
- Desconfiança: A desconfiança em relação ao sistema de saúde e o medo de que os órgãos sejam comercializados podem influenciar a decisão.
- Pressão social: A família pode sentir pressão social para tomar uma decisão, seja para doar ou não, o que pode dificultar a escolha.
Como incentivar a doação de órgãos?
Para incentivar a doação de órgãos, é fundamental que tanto os potenciais doadores quanto seus familiares estejam bem informados. O doador pode manifestar em vida seu desejo de doar, mas a família também precisa comunicar à equipe médica sobre o ato. Os profissionais de saúde, por sua vez, têm um papel essencial no diálogo com os familiares e a sociedade. Fortalecer essa comunicação é crucial para aumentar o número de doações.
Quais são os números atuais de transplantes no Brasil?
Patrícia Freire, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, explica que, apesar do aumento nos números de doações, a lista de espera por um transplante continua grande. “Conversar sobre o tema é uma forma de quebrar barreiras, fortalecer a confiança e saber do desejo de cada um. Um dia, a família que doou órgãos pode precisar de um doador”, lembra.
No primeiro semestre deste ano, 14.352 mil transplantes foram viabilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país. O número já é maior que o do mesmo período de 2023, quando foram realizados 13,9 mil transplantes. Os órgãos mais doados foram os rins, fígado, coração, pâncreas e pulmão, além da córnea e medula óssea. No total, 4.580 órgãos e 8.260 córneas foram doados nos primeiros seis meses de 2024, um aumento de 3,2% em relação a 2023.
Como funciona o Sistema Nacional de Transplantes (SNT)?
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o maior programa público de transplantes do mundo, responsável pela regulamentação, financiamento, controle e monitoramento do processo de doação e transplantes realizados no Brasil. Cerca de 88% do custeio é realizado pelo SUS, que atualmente conta com 1.197 serviços distribuídos em 728 estabelecimentos habilitados para a realização de transplantes em todos os estados.
Etapas simplificadas do processo:
- Manifestação de Interesse: A primeira etapa é a manifestação de interesse em ser um doador de órgãos. Isso pode ser feito por meio da carteira de motorista, do cartão do SUS ou diretamente nos hospitais.
- Doação: Em caso de morte encefálica, a equipe médica responsável pelo paciente entra em contato com a Central de Transplantes do estado.
- Avaliação: A Central de Transplantes realiza uma avaliação para verificar se o doador é compatível com algum receptor na lista de espera.
- Captação: Se houver compatibilidade, a equipe médica realiza a captação dos órgãos.
- Transplante: Os órgãos são transportados para o hospital onde se encontra o receptor e o transplante é realizado.
Como o SNT funciona na prática?
- Centralização: O SNT funciona de forma centralizada, com o Ministério da Saúde coordenando todas as atividades.
- Rede nacional: Existe uma rede nacional de transplantes que conecta todos os estados e municípios.
- Lista única de espera: Há uma única lista de espera para cada tipo de órgão, o que garante a equidade na distribuição.
- Critérios de compatibilidade: A compatibilidade entre doador e receptor é determinada por diversos fatores, como tipo sanguíneo, tamanho dos órgãos e características imunológicas.
- Logística: O transporte dos órgãos é feito em condições especiais para garantir sua integridade.
A doação de órgãos é um ato de amor e solidariedade que pode salvar muitas vidas. Portanto, é crucial que mais pessoas e suas famílias estejam cientes da importância de dizer “sim” à doação.
Para mais informações:
- Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/snt/doacao-de-orgaos
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