O Banco Central deveria fazer uma intervenção no câmbio para controlar a escalada do Dólar? Esse é um questionamento que vem sendo feito porque o Brasil detém hoje US$ 355,5 Bilhões em reservas internacionais e esse valor poderia ser utilizado para segurar a valorização do Dólar. Somente no ano de 2024, o Dólar já teve uma elevação de 17% até hoje. Em janeiro estava em R$ 4,92 e agora bateu R$ 5,70, mas encerrou em R$ 5,67. Esse é o maior patamar para o câmbio desde janeiro de 2022.
A taxa de juros mais elevada lá nos EUA é uma parte do problema. O Fed vem mantendo os juros altos, que deixam o câmbio num patamar mais alto, mas as incertezas aqui sobre a política fiscal e as declarações seguidas do presidente Lula tem, claro, contribuído bastante para que o câmbio seja pressionado, com a saída de investidores do Brasil.

Então, há preocupações com relação aos impactos que um câmbio mais alto pode trazer para a inflação brasileira já que muitos dos insumos utilizados no setor produtivo são importados ou têm seus preços cotados internacionalmente, desde o trigo, passando pelo petróleo e incluindo a soja e o milho. Até as carnes bovina, suína e de frango acompanham os preços internacionais.
Essa pressão deve levar a um impacto na inflação, fazendo com que as taxas de juros no Brasil demorem mais a cair, desde que esse impacto da inflação seja refletido diretamente no IPCA, deixando-o acima da meta. Daí surge, então, a justificativa de utilizar as reservas internacionais. Esse discurso é sempre recorrente e o Banco Central já utilizou as reservas internacionais, através de operações de swap cambial para a suavizar a volatilidade da cotação do Dólar.
O Brasil adota, desde 1999, um regime de câmbio flutuante onde o Banco Central, eventualmente, faz operações para suavizar as fortes volatilidades da variação do preço da moeda e as reservas internacionais servem de proteção para ataques especulativos. O problema é quando o Real sofre um ataque por fogo amigo.
No caso, o fogo amigo é o próprio governo, com declarações de que não vai promover um ajuste fiscal relevante, o que pode fazer com que o déficit seja ainda maior. Isso traz mais risco para a economia brasileira. Então, os investidores naturalmente saem de um mercado que oferece mais risco, impactando o câmbio, depreciando a moeda local.
As reservas internacionais seriam usadas em vão nesse momento, desperdiçando munição. A solução vem de um discurso mais alinhado com a trajetória do Arcabouço Fiscal, com medidas efetivas de redução de gastos. Aí sim, essas declarações e consequente movimentações podem fazer com que o câmbio retorne a patamares mais aceitáveis.

*Coluna escrita por Ecio Costa (@eciocosta no twitter), economista pela UFPE, com Mestrado, Ph.D. e Pós-Doutorado em Economia pela University of Georgia. Atualmente é Professor Titular de Economia da UFPE e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral. Sócio-fundador da CEDES Consultoria e Planejamento. Economista-Chefe do LIDE Pernambuco, palestrante e conselheiro de empresas.
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