Na última edição do programa Money Report, apresentado por Aluizio Falcão na BM&C News, três vozes de peso debateram como tecnologia e gestão estão transformando os negócios: o cirurgião plástico Alexandre Serra, a executiva Bruna Assunção (Líder Aviação) e o gestor Andrew Lage Hancock (INC Capital). A conversa percorreu tendências de longevidade, a evolução da aviação executiva e a virada de chave no wealth management, sempre conectadas por um fio condutor: tempo, eficiência e acesso.
Nesse sentido, o painel destacou que inovação não é um fim em si, mas um meio de entregar valor, seja em segurança de voo, em protocolos cirúrgicos com melhor recuperação, ou em portfólios que combinam liquidez e ativos privados. Além disso, os convidados contextualizaram cases práticos: da cultura “one stop shop” na Líder Aviação ao uso crescente de inteligência artificial na medicina e nos serviços financeiros, reforçando a ideia de que estratégia e execução caminham juntas.
Quais são os pilares da longevidade que influenciam saúde, carreira e negócios?
Alexandre Serra abriu o debate com uma visão direta: viver mais exige viver bem. Por outro lado, não há estética que compense falta de saúde integral. Ele organizou a discussão em quatro “M’s”, apontados como pilares para uma vida longa e produtiva, com impacto real sobre decisões profissionais e empresariais.
- Move — O corpo precisa de movimento e músculo para sustentar a vida ativa.
- Meals — Alimentação adequada como base de energia e prevenção.
- Measure — Check-ups e acompanhamento de indicadores para agir cedo.
- Mind — Saúde mental, plasticidade cerebral e relações sociais como proteção.
Além disso, ele ressaltou o papel da espiritualidade (sem confundir com religiosidade) e do convívio social para a saúde. Enquanto isso, tecnologias como lipoaspiração a laser, prontuários digitais e suporte de IA aceleram diagnósticos e decisões clínicas; mas Serra foi categórico: tecnologia potencializa, não substitui o bisturi onde ele ainda é indispensável.
Aviação executiva: eficiência, segurança e a jornada do cliente
Bruna Assunção trouxe o olhar da Líder Aviação, empresa fundada em 1958, com 67 anos de operação e atuação “one stop shop”. Segundo ela, a aviação executiva é frequentemente mal enquadrada como luxo; na prática, é ferramenta de trabalho que devolve o ativo mais escasso da economia moderna: o tempo. Hoje, cerca de 90% dos fretamentos têm uso corporativo e atendem executivos e grandes companhias que precisam otimizar agendas e processos decisórios.
Para dar escala e previsibilidade, a Líder integra cinco unidades de negócios (fretamento, vendas de aeronaves, gerenciamento/operacional, manutenção e atendimento aeroportuário), com frota própria e gerenciada que soma dezenas de aeronaves, além de 22 bases pelo país. Nesse ecossistema, a empresa opera com foco inegociável em segurança e investe continuamente em tecnologia regulatória e operacional, como Electronic Flight Bag e diário de bordo digital certificados pela ANAC.
O horizonte próximo também mira sustentabilidade. A companhia firmou parceria com a Beta Technologies, nos EUA, para representar e operar aeronaves elétricas, com modelos de decolagem e pouso convencionais (eCTOL) e verticais (eVTOL). A expectativa é avançar na certificação internacional a partir de 2026, ampliando a eficiência energética e reduzindo custos e emissões, um vetor que reposiciona a própria definição de valor na aviação de negócios.
Wealth management: independentes ganham espaço e o acesso vira diferencial
Andrew Lage Hancock mapeou a transformação do wealth management, comparando Brasil e EUA. Enquanto lá o capital migrou de grandes bancos para plataformas independentes, aqui o movimento está em curso e deve acelerar. Nesse novo desenho, a oferta “boutique” e multidisciplinar substitui a escala industrial: sucessão patrimonial, governança familiar, planejamento tributário e soluções sob medida tornam-se centrais.
Além disso, ele destacou dois eixos. Primeiro, a digitalização e a IA tendem a reduzir custos e assimetrias na camada líquida (ETFs, indexados e execução), empurrando o investidor a buscar alfa em mercados privados. Segundo, o “negócio do acesso”: relações e curadoria para entrar em rodadas de empresas fechadas e ativos ilíquidos com potencial de retorno superior. Enquanto isso, educação financeira e sucessão antecipada são chaves para preservar patrimônios entre gerações, um ponto sensível em famílias empresárias.
IA já mudou a prática clínica, a aviação, serviços financeiros e os negócios?
Sim, e a mesa foi unânime nisso. Na saúde, IA e big data aceleram leituras de imagem, triagens e estudo de evidências, liberando tempo médico para decisões de alto valor. Na aviação, analytics e manutenção preditiva elevam segurança e disponibilidade. Nas finanças, algoritmos otimizam processos, mas não criam, por si, relacionamento ou acesso, os “intangíveis” que diferenciam propostas de valor em negócios complexos.
Da cultura ao legado: gestão de longo prazo como estratégia de negócios
Entre histórias pessoais e exemplos de gestão, os convidados convergiram na ideia de legado como prática, não como retórica. Empresas longevas cultivam valores, segurança, confiabilidade, inovação e constroem rotinas que resistem a ciclos. Por outro lado, as transições geracionais exigem preparo: formação contínua, governança e metas claras. No caso da Líder, “quem lidera, inova” virou bússola para expandir serviços, adotar tecnologias e preparar novas lideranças com visão de longo prazo.
O que fica para executivos e investidores?
De um lado, saúde integral e gestão do tempo como ativos estratégicos individuais. De outro, empresas “plataforma”, capazes de orquestrar serviços e tecnologia para reduzir atritos e elevar padrões de segurança e experiência. Além disso, portfólios eficientes combinam liquidez inteligente com ativos privados selecionados, onde relacionamento e diligência importam tanto quanto planilhas.
Em síntese, o episódio reforça um recado simples e poderoso: inovação só faz sentido quando melhora a vida real do paciente, do passageiro, do investidor e do time que entrega. E, enquanto isso, a vantagem competitiva volta ao básico: gente bem preparada, processos confiáveis e cultura que aprende continuamente. É assim que a tecnologia deixa de ser moda e passa a ser motor de valor nos negócios.