O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (10) em queda de 0,73%, aos 140.680 pontos, pressionado por temores fiscais no Brasil e pelo clima de aversão ao risco no exterior. O movimento amplia as perdas acumuladas no mês, que já somam 3,8%, após o índice ter atingido máximas históricas em setembro. O volume financeiro da sessão foi de aproximadamente R$ 22,4 bilhões, indicando menor apetite por risco entre os investidores.
No exterior, as bolsas norte-americanas também recuaram — o S&P 500 caiu 2,71% —, influenciadas pela continuidade do shutdown nos Estados Unidos e pelas novas ameaças tarifárias do ex-presidente Donald Trump contra a China. Além disso, o fim da guerra entre Hamas e Israel reduziu a pressão sobre o petróleo, o que impactou diretamente as ações da Petrobras e, por consequência, o desempenho do Ibovespa.
O que explica o clima de cautela no mercado?
De acordo com Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, o cenário internacional segue dominado pela incerteza. “Hoje a gente tem mais um dia de cautela no mundo todo. Já é a oitava tentativa dos republicanos tentarem aprovar um projeto e os democratas derrubam. De outro lado, o Trump ameaça cortar incentivos e elevar tarifas para a China. Essa situação traz cautela por lá, lembrando que as bolsas dos Estados Unidos vêm de recordes de alta”, afirmou.
Correia destacou ainda que o acordo entre o líder do Hamas e Benjamin Netanyahu, que oficializou o fim da guerra, trouxe alívio geopolítico, mas pressionou os preços do petróleo. “Com o fim da guerra, naturalmente há menos tensão e menor procura por petróleo. O petróleo caiu ontem, continua caindo hoje, e isso pressiona Petrobras, que acaba impactando o Ibovespa também”, explicou o analista.
Como o cenário fiscal afeta o humor dos investidores?
No Brasil, a falta de clareza sobre as medidas fiscais do governo segue como principal fonte de preocupação. Segundo Correia, a derrota na aprovação da MP dos Investimentos reforçou as dúvidas sobre como o governo pretende equilibrar as contas públicas. “Eles já têm um problema de como vão conseguir suprir o rombo fiscal. Estão se falando em taxar bets, desoneração da folha de pagamento… todo mundo aguarda para ver exatamente onde vão cortar. O dinheiro vai ter que sair de algum lugar”, observou.
Além disso, o analista destacou o impacto das medidas populistas nas expectativas do mercado. “Ao mesmo tempo em que não há direcionamento sobre arrecadação, o governo fala em isentar tarifas de ônibus, o que geraria bilhões em custos. Também anunciaram mudanças em financiamentos, o que é interpretado como sinal eleitoral. Isso tudo deixa o mercado tenso e o dólar mais pressionado”, explicou Correia.
Setores mais afetados e destaques positivos do dia
Entre os setores mais pressionados, o de energia liderou as perdas. As ações da Petrobras recuaram — PN caiu 0,89% e ON 0,75% —, acompanhando a queda do petróleo tipo Brent. Por outro lado, a Vale ON avançou 0,41%, impulsionada pela alta do minério de ferro no mercado internacional. O setor financeiro também teve desempenho negativo, com recuos de Banco do Brasil (-2,74%) e Bradesco (-1,35%).
- Petróleo Brent: queda de 3,82%
- S&P 500: recuo de 2,71%
- Ibovespa: baixa de 0,73% (140.680 pontos)
- Volume financeiro: R$ 22,4 bilhões
Enquanto isso, Suzano ON subiu 1,05%, beneficiada pela valorização do dólar e pela aprovação de linha de crédito do BNDES voltada à restauração ambiental. O desempenho positivo da empresa ajudou a atenuar parcialmente as perdas do índice no final do pregão.
O que esperar para as próximas sessões?
O mercado deve seguir atento aos próximos passos do governo em relação à política fiscal. Caso haja sinalização mais clara de responsabilidade nas contas públicas, o Ibovespa pode encontrar espaço para recuperação. Por outro lado, a manutenção do impasse político e o avanço das tensões internacionais tendem a manter o índice em um movimento defensivo.
Como sintetiza Alison Correia, “enquanto não houver clareza de onde virá o dinheiro para equilibrar as contas, o mercado deve continuar defensivo”. Nesse sentido, o cenário segue de prudência, com investidores buscando proteção em ativos dolarizados e em setores menos expostos ao risco político.