O mercado financeiro iniciou esta quinta-feira (9) em clima de cautela, com as bolsas internacionais sem direção definida e investidores atentos ao cenário fiscal e político no Brasil. No ambiente corporativo, o destaque ficou para as movimentações de Ambipar (AMBP3), Tenda (TEND3) e Oncoclínicas (ONCO3), além da repercussão da ata do FOMC e das negociações em torno do shutdown nos Estados Unidos.
No Brasil, o destaque do dia é a divulgação do IPCA de setembro, que deve subir 0,52% após a queda de 0,11% em agosto, levando a inflação em 12 meses de 5,13% para 5,21%. A dissipação do bônus de Itaipu e o retorno da bandeira tarifária vermelha devem manter o Banco Central em postura conservadora nas próximas decisões de política monetária.
O mercado também segue atento à Brasília, com a derrota do governo na derruba da MP do IOF. O texto previa o aumento de tributos sobre investimentos e operações financeiras, com o objetivo de reforçar a arrecadação. A decisão representa um novo ponto de tensão entre o governo e o Congresso em torno da política fiscal e da distribuição de encargos tributários.
Mercado de olho em Tenda
A Tenda apresentou prévia operacional do terceiro trimestre de 2025 com sinais de recuperação no ritmo de lançamentos. O volume geral de vendas (VGV) somou R$ 1,56 bilhão, alta de 40,8% frente ao trimestre anterior, embora ainda 27,3% abaixo do mesmo período de 2024. A operação da Alea, subsidiária da companhia, continua ganhando relevância, representando R$ 76,2 milhões do total lançado.
As vendas líquidas atingiram R$ 1,1 bilhão, com velocidade de vendas (VSO) de 25,8%. O banco de terrenos subiu para R$ 20,7 bilhões em VGV, alta anual de 28,6%, sendo R$ 5,5 bilhões provenientes da Alea. Segundo relatório da MSX Invest, a empresa mostra “recuperação gradual e sólida” após meses de retração no setor de habitação popular.
Ambipar acumula queda de 90% em cinco pregões: mercado monitora
As ações da Ambipar voltaram a cair nesta quarta-feira (8), encerrando o pregão com recuo de 4,23%, cotadas a R$ 0,68. O movimento ocorre após a companhia anunciar o cancelamento da Assembleia Geral Extraordinária que elegeria um novo presidente do conselho de administração. De acordo com informações da Bloomberg, a empresa prepara um pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro.
Para Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, o movimento confirma a leitura de que a empresa vinha operando sem fundamentos sólidos. “A gente fica satisfeito de ter reforçado essa percepção de que não existiam fundamentos para aquela valorização. É importante participar de altas em empresas com bons fundamentos, mas também reconhecer e evitar riscos em companhias que não entregam o que prometem”, afirmou o especialista.
Oncoclínicas aprova aumento de capital
A Oncoclínicas anunciou a aprovação de um aumento de capital de até R$ 2 bilhões, por meio da emissão de até 666 milhões de ações a R$ 3 cada, acompanhadas de bônus de subscrição. O aumento mínimo será de R$ 1 bilhão, e o capital autorizado passa a ser de 3,5 bilhões de ações.
Outras movimentações corporativas também marcaram o dia:
- Itaú (ITUB4) anunciou emissão de letras financeiras subordinadas perpétuas de R$ 3 bilhões;
- Hapvida (HAPV3) aprovou uma emissão de R$ 3,65 bilhões em debêntures para reduzir custos financeiros;
- Oi (OIBR3) informou a renúncia em massa de administradores, incluindo o CEO Marcelo Milliet e o CFO Rodrigo Aguiar.
- Auren Energia (AURE3) teve a cobertura iniciada pelo Goldman Sachs, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 13,50.
Lucro da PepsiCo e volatilidade controlada nas bolsas
O início da temporada de balanços nos EUA trouxe o resultado da PepsiCo, que registrou lucro de US$ 2,6 bilhões no trimestre, queda de 11,1% frente ao mesmo período do ano anterior. Segundo Marco Saravalle, o cenário internacional ainda é de “volatilidade controlada”, com investidores buscando calibrar expectativas sobre o ritmo dos próximos cortes de juros.
Cenário internacional: shutdown e dados do Fed
Nos Estados Unidos, o impasse político sobre o shutdown continua sem solução, o que mantém a incerteza sobre a divulgação de novos dados econômicos. Para César Queiroz, CEO da Queiroz Investimentos e Participações, a paralisia do governo americano está longe de ser resolvida.
“Democratas e republicanos parecem incapazes de fazer o bom senso prevalecer”, afirmou o especialista. Segundo ele, o último relatório de emprego já mostrou uma deterioração significativa no mercado de trabalho, o que deve sustentar a continuidade da política de cortes de juros pelo Federal Reserve. “Mesmo que o payroll não saia por conta da estagnação atual, os indícios que o Fed recebeu nos índices que já haviam sido publicados, na minha opinião, são mais do que suficientes para embasar uma decisão de continuidade na pauta de corte de juros”, completou.