Após meses de incerteza, o empresariado brasileiro começa a demonstrar sinais de retomada da confiança, impulsionado por uma melhora na percepção econômica e uma leve recuperação no crédito. No entanto, líderes de diversos setores alertam que as incertezas fiscais e tributárias ainda podem minar o crescimento e comprometer o ambiente de negócios no médio prazo.
O levantamento, que reuniu declarações de CEOs de instituições financeiras e de investimento, reflete um cenário de otimismo contido. Embora o pessimismo esteja em queda, as preocupações com o custo do crédito e a condução da política fiscal continuam no centro das atenções, especialmente após a discussão da MP do IOF no Congresso.
O otimismo é sustentável ou apenas percepção?
Para Volnei Eyng Félix de Souza, CEO da Multiplike, o avanço da confiança ainda não se traduz totalmente na realidade das famílias. “Há um otimismo moderado, ao mesmo tempo em que dizem ter perdido poder de compra e sentem alta nos alimentos. Essa contradição mostra que o ciclo de recuperação ainda é mais de percepção do que de experiência real”, analisou.
Já João Kepler, CEO da Equity Group, avalia que a percepção positiva tem poder de impulsionar o empreendedorismo e a inovação. “A pesquisa da Quaest mostra um ponto de virada importante: quando a percepção sobre a economia melhora, o empreendedor volta a agir. Esse tipo de otimismo é o gatilho que reaquece o mercado de inovação e investimento anjo… O empreendedor precisa de fôlego, não de novos impostos”, afirmou.
MP do IOF preocupa e reacende debate sobre previsibilidade
O impacto da Medida Provisória do IOF foi um ponto de convergência entre os executivos. Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, destacou que a alteração no custo do crédito pode travar o ciclo de expansão do mercado. “Com uma melhora real na percepção econômica e no mercado de crédito, o efeito é direto… A MP do IOF pode interferir justamente nesse canal de crescimento se alterar o custo do crédito”, pontuou.
Nesse mesmo sentido, Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, reforçou a importância da estabilidade regulatória. “O que define o momento atual não é a euforia, mas a desaceleração do medo… A MP do IOF vai na direção oposta, criando incerteza num momento em que o país precisava mostrar previsibilidade”, disse.
Como o mercado reage às novas condições?
Outros empresários destacaram que o mercado começa a sair do modo defensivo e retomar planos de investimento. Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, afirmou: “Essa retomada da confiança é um sinal de que o mercado começa a sair da defensiva e pensar novamente em crescimento. Mas o ambiente tributário ainda preocupa. A MP do IOF, se aprovada de forma precipitada, pode elevar o custo do dinheiro e apertar o caixa de quem produz”.
Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o desafio está em garantir previsibilidade. “O pessimismo em queda é uma boa notícia… No médio prazo, previsibilidade é o que mais importa. O Brasil tem um enorme potencial de investimento, desde que o ambiente de negócios seja tratado com seriedade”, afirmou.
O que dizem os especialistas sobre crédito e planejamento?
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, vê o momento como um teste de maturidade para o governo. “A MP do IOF entra nesse cenário como um teste de maturidade para o governo. Se vier com transparência e estabilidade, o impacto será pequeno. Mas se criar incertezas tributárias, pode minar a recuperação”, alertou.
Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X, reforçou a importância da gestão. “Quando a população está mais confiante, o consumo reage, e isso abre espaço para expansão de crédito e investimento em crescimento. Mas otimismo sem gestão é ilusão”, disse.
O crédito estruturado e a nova fase do investimento
Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, vê um ambiente fértil para operações estruturadas. “O ambiente segue desafiador, mas mais previsível, e previsibilidade é o principal combustível do crédito… A MP do IOF reforça a necessidade de estruturar o crédito com eficiência e transparência”, destacou.
Na mesma linha, Fábio Murad, economista e CEO da Super-ETF Educação, defende que disciplina e constância são essenciais neste novo ciclo. “O cenário retratado pela Quaest mostra uma virada importante: o pessimismo cedeu e deu lugar à percepção de estabilidade… No médio prazo, o investidor que mantém disciplina e visão de longo prazo se beneficia da própria estabilidade que o país começa a reconstruir”, completou.
Empresariado pede coerência entre política fiscal e produtividade
De forma geral, os líderes empresariais convergem na mensagem: o Brasil precisa de coerência fiscal e estabilidade regulatória para transformar a confiança em crescimento sustentável. A combinação de moderação no otimismo e cobrança por responsabilidade fiscal mostra que o empresariado está disposto a investir — mas exige previsibilidade e compromisso do governo com a produtividade e a eficiência.