
A pesquisa Quaest/Genial divulgada nesta quarta-feira (8) mostra que a avaliação do governo Lula voltou a um empate técnico com a desaprovação. De acordo com o levantamento, 49% dos brasileiros desaprovam a gestão, enquanto 48% aprovam; outros 3% não souberam responder. É a primeira vez desde janeiro que os dois indicadores se igualam dentro da margem de erro, após meses de predomínio da desaprovação.
O movimento consolida uma trajetória de recuperação iniciada no 2º semestre: a aprovação, que havia caído a 40% em maio (pior leitura do ano), subiu para 43% em julho, 46% em agosto e setembro, e agora chega a 48%.
A desaprovação, que atingiu pico de 57% em maio, recuou gradualmente para 53% em julho, 51% em agosto e setembro, e 49% em outubro. O estudo ouviu 2.004 pessoas, presencialmente, entre 2 e 5 de outubro; a margem de erro é de 2 pontos, com 95% de confiança.

O que explica a recuperação de Lula nas pesquisas?
Analistas associam o encurtamento da distância entre aprovação e desaprovação a uma combinação de fatores: sinais de alívio na percepção sobre a economia, a pauta de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil (apoiada por 79% dos entrevistados) e o impacto simbólico da reaproximação com os Estados Unidos, 49% avaliam que Lula saiu “mais forte” após o encontro com Donald Trump na ONU. Além disso, a volatilidade política doméstica tem sido parcialmente compensada por uma comunicação focada em medidas de renda e consumo.

Nesse sentido, segmentos-chave voltaram a apresentar ganhos ao governo. Entre as mulheres, a aprovação supera a desaprovação (52% x 45%). Entre católicos, 54% aprovam e 44% desaprovam, após empate em setembro. No grupo de 35 a 59 anos, houve inversão: se em setembro 51% desaprovavam e 46% aprovavam, agora 51% aprovam e 46% desaprovam. Entre os mais velhos (60+), há empate técnico (50% x 46%). Já nas faixas de renda mais altas (5 salários mínimos ou mais), persiste um equilíbrio com leve viés crítico (52% desaprovam; 45% aprovam).
O que dizem os números por trás do empate na aprovação de Lula?

- Aprova: 48% (46% em setembro)
- Desaprova: 49% (51% em setembro)
- NS/NR: 3% (estável)
- Pico anual de desaprovação: 57% (maio)
- Melhor leitura recente de aprovação: 48% (outubro)
Por outro lado, regionalmente, as variações ficaram dentro da margem de erro, mantendo o desenho tradicional: Nordeste mais favorável ao governo e Sul/Sudeste mais críticos. A fotografia de outubro não altera esse tabuleiro, mas indica perda de tração da desaprovação, sobretudo entre grupos intermediários.
A recuperação do governo Lula é sustentável até 2026?
Para o e analista em economia e política Miguel Daoud, o cenário é positivo para o Palácio do Planalto, mas depende de fatores que extrapolam a fotografia de hoje. “A pesquisa mostra que Lula recuperou boa parte da rejeição que teve no primeiro semestre. Medidas de apelo popular, a agenda do Imposto de Renda e o episódio da ONU contribuíram para esse movimento. Outras iniciativas devem vir para manter a popularidade em alta”, avalia.
Daoud pondera, contudo, que a durabilidade dessa curva dependerá do ciclo político e das restrições fiscais do próximo ano. “O desafio é sustentar o fôlego até a eleição. O calendário impõe limites a novos gastos e a oposição ainda define sua estratégia, com Bolsonaro sinalizando apoio apenas em fevereiro. Isso abre espaço para Lula seguir crescendo, mas a sustentabilidade econômica seguirá no radar dos investidores e do eleitorado mais exigente”, diz analista.
Como a pauta econômica influencia a opinião pública?
Enquanto isso, cai a fatia dos brasileiros que afirmam que a economia “piorou” no último ano, o que contribui para o encurtamento da distância entre os dois polos da avaliação. A defesa de medidas com caráter distributivo, como a ampliação da faixa de isenção do IR, tende a dialogar com o humor de curto prazo do eleitorado, sobretudo nas rendas mais baixas. Além disso, a frente externa continua relevante, a reabertura do diálogo com Washington após a escalada tarifária e os gestos de afrouxamento retórico reduzem ruídos na arena internacional.
No balanço, a leitura de outubro sinaliza um governo que conseguiu interromper a deterioração na opinião pública e, gradualmente, recompor sua base social. A dúvida, daqui em diante, é se a combinação de economia morna, restrições orçamentárias e ruídos políticos permitirá transformar o empate técnico de hoje em vantagem consistente em 2026. Entre promessas de alívio tributário, coordenação política e uma agenda externa menos tensa, o governo tenta consolidar essa tendência, sob o olhar atento de um eleitor que, por ora, demonstra sensibilidade maior a renda e consumo do que ao debate fiscal de longo prazo.