Os mercados globais iniciaram esta quarta-feira (8) em leve alta, mas em um ambiente de cautela crescente diante do prolongamento do shutdown do governo americano e da falta de acordo político nos Estados Unidos. O movimento reflete uma busca por proteção e realização de lucros após as recentes máximas históricas em Wall Street. Além disso, o mercado monitora também a crise política na França e pelas incertezas no Japão, fatores que reforçam a volatilidade nos mercados de câmbio e renda variável.
No Brasil, o foco está em Brasília, com a votação da MP 1.303, que substitui o aumento do IOF sobre operações de crédito. O governo enfrenta resistência no Congresso e tenta aprovar um texto desidratado após ceder em pontos considerados estratégicos pela equipe econômica. A redução de potencial arrecadatório enfraquece o plano fiscal da Fazenda e reacende o debate sobre o equilíbrio das contas públicas às vésperas do ano eleitoral de 2026.
Quais fatores explicam a cautela no mercado brasileiro?
Os investidores brasileiros acompanham com atenção a combinação entre risco fiscal e incerteza política, elementos que têm influenciado diretamente o comportamento da bolsa e da curva de juros. Ontem, o Ibovespa encerrou o pregão em queda de 1,57%, aos 141.356 pontos, enquanto o dólar subiu a R$ 5,35 e os DIs ampliaram prêmios em todos os vértices. Essa movimentação reflete a percepção de que o governo pode recorrer a medidas populistas para manter a popularidade, como o debate sobre a gratuidade do transporte público admitido pelo ministro Fernando Haddad.
O CIO da MSX Invest, Marco Saravalle, destacou que a política, mesmo sendo um tema sensível, não pode ser dissociada da dinâmica de mercado. Segundo ele, o aumento na aprovação do governo captado pela pesquisa Quaest “impacta a percepção de risco fiscal e se reflete tanto na bolsa quanto na curva de juros”. Essa leitura explica a postura mais defensiva dos investidores e a valorização de papéis ligados ao dólar e a setores exportadores.
O destaque da agenda internacional é a divulgação da ata do Federal Reserve, às 15h (horário de Brasília). O documento pode oferecer novas pistas sobre o ritmo de cortes de juros nos Estados Unidos. Até o momento, as projeções indicam que o Fed deve adotar uma postura gradual, avaliando os dados de emprego e inflação antes de avançar em novas reduções.
Entre o fiscal e o político: o que vem a seguir para o Brasil?
No cenário doméstico, o governo enfrenta desafios políticos para aprovar a reforma do Imposto de Renda. O senador Renan Calheiros (MDB) assumiu a relatoria do projeto no Senado e deve propor ajustes de redação sem devolver o texto à Câmara. A disputa com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP), tende a aumentar as tensões entre os Poderes e atrasar a consolidação da reforma tributária. Segundo a MSX Invest, esse tipo de embate institucional mantém o tema tributário como fonte de ruído no curto prazo.
Além disso, a conversa recente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano Donald Trump trouxe novo fôlego às negociações comerciais. O chamado “tarifaço do café”, que elevou os preços do produto em 3,6% nos Estados Unidos desde agosto, foi tema central do diálogo. A reabertura diplomática pode destravar avanços em outros segmentos, como o de big techs e minerais críticos, embora o impasse tarifário ainda pressione os exportadores agrícolas brasileiros.
Empresas em foco: movimentos e análises do mercado corporativo
Entre as companhias com novidades corporativas, a PetroReconcavo (RECV3) reportou produção de 26 mil boe/dia em setembro, leve queda de 1,8% frente a agosto, reflexo natural da maturação dos campos. A Braskem (BRKM5) segue no centro das atenções com a disputa societária envolvendo a Novonor e a Petrobras, enquanto a Ambipar continua enfrentando volatilidade nas dívidas corporativas, tema que vem sendo monitorado de perto pelos investidores.
No setor de consumo, a Assaí (ASAI3) teve aumento de participação da BlackRock para 5,03%, sinalizando confiança no modelo de negócios e na resiliência do varejo alimentar. O Banco BMG (BMGB4) teve seu rating mantido pela Moody’s Local em ‘A-.br’, com perspectiva elevada para positiva, refletindo avanço estrutural em rentabilidade e diversificação. Já a Natura (NATU3) registrou novo aporte da gestora Baillie Gifford, que agora detém 5% das ações, reforçando o otimismo com a reestruturação global da companhia.
Por outro lado, a TIM (TIMS3) anunciou parceria com a IHS Brasil para construção de até 3 mil torres de telecomunicações, ampliando a expansão em conectividade e internet das coisas (IoT). A Infracommerce (IFCM3) aprovou grupamento de ações de 20 para 1, com início em 7 de novembro, buscando melhorar a percepção de preço e liquidez dos papéis. E o Grupo Multi (MLAS3) firmou contrato de R$ 294 milhões com o BNDES para digitalização de suas plantas industriais, investimento considerado positivo para margens futuras.
Perspectivas e conclusão
O mercado segue reagindo de forma sensível aos sinais de Brasília e às movimentações internacionais. A percepção de risco fiscal, somada à incerteza política e ao cenário externo volátil, tende a manter os investidores em modo defensivo. Nesse contexto, a busca por ativos mais seguros e por setores exportadores deve continuar prevalecendo nos próximos dias.
Enquanto a ata do Fed define o humor dos mercados globais, o cenário doméstico segue pautado por política e fiscal. A depender da votação da MP 1.303 e do avanço da reforma do Imposto de Renda, o mercado brasileiro pode ganhar um novo impulso ou mergulhar em mais uma rodada de volatilidade.