O Banco Daycoval avalia que as condições financeiras no Brasil continuam restritivas, o que deve adiar o início do ciclo de cortes de juros para 2026. Em seu relatório mensal de outubro, a instituição manteve a projeção de Selic em 15% até o fim deste ano e indicou que os primeiros cortes graduais de 0,25 ponto percentual devem ocorrer apenas a partir de janeiro do próximo ano.
De acordo com o estudo, o Índice de Condições Financeiras Ampliado (ICF-A) já antecipava a deterioração da atividade econômica observada nos últimos meses, refletindo “juros e spreads elevados, queda do volume de crédito e maior risco”. A métrica, que costuma se antecipar ao ciclo econômico em até oito meses, sinaliza que o desaquecimento deve se estender até o fim de 2025.
Atividade e crédito em desaceleração
O banco manteve a estimativa de crescimento do PIB em 2,1% para 2025, com desaceleração para 1,9% em 2026. O relatório destaca retração generalizada na indústria, com exceção de bens intermediários, segmento que, porém, deve perder fôlego diante do “tarifaço” dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
O Daycoval projeta que o saldo real de crédito crescerá 3,8% em 2025 — resultado inferior aos 6,4% de 2024 — com retração nas concessões tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. “O repasse da política monetária segue evidente nas taxas finais e nos spreads, restringindo a demanda de crédito”, aponta o documento. A inadimplência, por sua vez, deve encerrar 2025 acima dos níveis de 2015 e 2016.
Inflação de serviços segue como obstáculo
Apesar de revisão ligeiramente menor na projeção do IPCA de 2025 — de 4,9% para 4,8% —, o relatório destaca que a inflação de serviços permanece elevada e representa o principal entrave para a redução dos juros. “O mercado de trabalho segue resiliente e constitui importante fonte de atenção para a dinâmica inflacionária”, afirma o estudo.
O banco também elevou a projeção para a inflação de 2026 de 4,0% para 4,1%, refletindo o aumento do ICMS sobre combustíveis a partir de janeiro. Ainda assim, a expectativa é de desaceleração gradual da inflação ao longo do próximo ano.
Fragilidade fiscal e risco de revisão de metas
Na frente fiscal, o Daycoval projeta que o governo deve cumprir a meta de resultado primário de 2025 dentro do limite inferior (-0,25% do PIB), mas alerta para a “qualidade frágil do ajuste”. A instituição aponta dependência crescente de receitas não recorrentes e pressões de gastos obrigatórios, como o BPC, cujo gasto real deve crescer 12% em 2026.
“Caso as receitas recorrentes não entreguem o esperado, aumenta o risco de revisão das metas já em 2026”, avalia o relatório. O cenário sugere que o desafio fiscal tende a se intensificar, o que reforça o ambiente de cautela para o Banco Central.
Próximos passos da política monetária
Segundo o economista-chefe do Daycoval, Rafael Cardoso, o contexto de inflação resiliente, mercado de trabalho ainda aquecido e incerteza fiscal sustenta a postura conservadora da autoridade monetária. “Mesmo com avanços no quadro inflacionário, esses fatores não são suficientes para alterar a posição do Banco Central em manter os juros em terreno contracionista por mais tempo”, afirma.
Com isso, o banco projeta que a Selic cairá para 11,5% ao fim de 2026, refletindo um ciclo de cortes mais lento e gradual do que o antecipado anteriormente.
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