Nos últimos dias, os empresários começaram a prestar mais atenção à candidatura do governador paranaense Ratinho Jr. O recolhimento momentâneo de Tarcísio de Freitas – até pouco tempo atrás, visto como o nome ideal para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 – fez o empresariado analisar o pleito do ano que vem com outros olhos.
Tarcísio, na visão de parte da Faria Lima, teria exagerado na dose de bolsonarismo desde o início do tarifaço, culminando com o esforço empreendido pela anistia aos envolvidos na chamada trama golpista e nos atos de 8 de janeiro de 2023. Muitos destes observadores até entendem sua posição, já que o governador precisa mostrar fidelidade ao seu mentor político, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesmo assim, acreditam que o tom usado em declarações públicas o distanciou do centro político e o aproximou de extremistas de direita (embora isso possa ser eventualmente contornado no futuro).
Em política, como se sabe, não há vácuo. Com o recuo de Tarcísio, que vem falando apenas na reeleição ao Palácio dos Bandeirantes para 2026, Ratinho acabou ocupando um espaço importante junto aos empresários. Recentemente, cumpriu uma agenda em São Paulo e agradou pelo equilíbrio com o qual defendeu a agenda liberal e, ao mesmo tempo, mostrou investimentos consistentes em infraestrutura, educação e saúde.
Os altos índices de aprovação de seu mandato também impressionam. A pesquisa Quaest realizada entre 13 e 17 de agosto de 2025 mostra que 84% dos paranaenses aprovam o governo Ratinho Junior. A avaliação positiva (ótimo ou bom) chega a 71%, enquanto apenas 6% consideram o governo ruim ou péssimo. São números impressionantes. O paranaense perde apenas, no ranking nacional, para Ronaldo Caiado (outro presidenciável), de Goiás, que conta com 86%.
O desafio do governador sulista está no Nordeste. Lá, será necessário construir pontes com lideranças locais, adaptar o discurso às demandas regionais e apresentar propostas realistas em áreas como saúde, educação e geração de renda.
No campo econômico, Ratinho Jr. terá de lidar com medidas populares do governo federal, como a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000,00. Sua resposta pode vir na forma de uma crítica ao populismo fiscal, acompanhada de propostas que combinem responsabilidade com inclusão.
Os empresários do agronegócio também são um elemento importante na sucessão presidencial, uma vez que representam cerca de um quarto do PIB brasileiro e mais da metade das exportações. É uma força econômica e política que influencia diretamente o voto em regiões-chave como Paraná, Mato Grosso, Goiás e interior São Paulo.
Ratinho Jr. fala a linguagem do campo e tem números para mostrar: ele foi o governador que mais investiu no setor no primeiro semestre de 2025. Neste período, o Paraná destinou R$ 730 milhões ao agronegócio, contra R$ 570 milhões do Rio Grane do Sul, R$ 534 milhões de Santa Catarina e R$ 438 milhões de São Paulo.
Agora, os empresários aguardam para ver se o recuo do governador paulista é mesmo definitivo. Se Tarcísio de fato permanecer fora do tabuleiro nacional, Ratinho Jr. poderá emergir como o nome capaz de unir o empresariado, o agronegócio e setores moderados da direita em torno de uma candidatura viável e competitiva. Com discurso pragmático, gestão bem avaliada e capacidade de articulação, o paranaense começa a desenhar um caminho que pode levá-lo do Sul ao Planalto Central. Resta saber se ele terá fôlego — e ambição — para cruzar essa ponte.