As exportações brasileiras para os Estados Unidos recuaram 20,3% no segundo mês de vigência das novas tarifas. O movimento pressiona a balança comercial e força empresas a redesenhar rotas de venda, com impactos de curto prazo na logística e nos preços.
Segundo Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, a queda nas vendas diretas vem estimulando alternativas em mercados como México, Colômbia e Europa. Além disso, essa realocação preserva parte dos embarques, mas com custos mais elevados e margens comprimidas. Nesse sentido, a melhora na balança tende a ser limitada no curto prazo, apesar de oportunidades pontuais em carne, milho e combustíveis.
O que explica a queda e quais efeitos imediatos?
O encarecimento do acesso ao mercado americano reduziu a competitividade de diversos produtos brasileiros. Enquanto isso, empresas passaram a buscar triangulações comerciais, redirecionando contratos e adaptando cadeias de fornecimento para manter volumes. Por outro lado, esse ajuste traz fricções: transporte mais caro, seguros maiores e prazos alongados, fatores que erodem a rentabilidade.
De acordo com Sanchez, “a melhora direta na balança comercial será limitada”. O Brasil pode preencher lacunas na cadeia global ao se posicionar como alternativa em commodities, mas ganhos robustos exigem tempo, previsibilidade regulatória e confiança dos compradores. Nesse sentido, “investidores buscam fluxo contínuo e credibilidade”, o que demanda consistência na política comercial e estabilidade institucional.
Brasil como alternativa na cadeia global é suficiente?
O apetite internacional por diversificação de fornecedores favorece o Brasil, especialmente em alimentos e energia. Além disso, há espaço para capturar demanda redirecionada de países que enfrentam restrições. Por outro lado, sem avanços logísticos e acordos que reduzam barreiras, parte dessa vantagem competitiva escoa em custos e volatilidade cambial.
Nesse sentido, a construção de uma imagem de “porto seguro de suprimentos” requer previsibilidade, padronização sanitária e capacidade de execução. Enquanto isso, a diplomacia econômica tem papel central para transformar oportunidades potenciais em contratos firmes e recorrentes.
Quais são os principais desafios para as Exportações Brasileiras?
A conjuntura atual impõe obstáculos que vão além das tarifas. A infraestrutura nacional ainda é um gargalo, com portos e rodovias operando no limite em janelas de safra. Além disso, custos logísticos sensíveis ao diesel e ao câmbio elevam o preço final, reduzindo competitividade. Por outro lado, a insegurança regulatória em temas ambientais e sanitários pode atrasar habilitações e dificultar expansão de mercados.
Para consolidar protagonismo, o país precisa alinhar política comercial, regulação e investimentos em corredores logísticos, ampliando a previsibilidade operacional do embarque ao desembarque. Isso reduz riscos e sustenta volumes em ciclos de preço menos favoráveis.
Como o Brasil pode aumentar sua competitividade?
- Investimentos em infraestrutura: modernizar portos, ampliar terminais, dragagens e conexões ferroviárias para reduzir tempo e custo de escoamento.
- Acordos comerciais: priorizar parcerias que reduzam tarifas, simplifiquem regras de origem e acelerem certificações sanitárias.
- Inovação e eficiência: adotar tecnologias de rastreabilidade, automação de armazéns e gestão de risco para ganhar produtividade.
- Financiamento e seguros: ampliar instrumentos de crédito à exportação e coberturas de risco político e cambial.
- Agenda de credibilidade: assegurar estabilidade regulatória, previsibilidade fiscal e cumprimento de contratos.
Quais setores podem amortecer a perda de vendas aos EUA?
Além do agronegócio, celulose, mineração e combustíveis podem sustentar parte dos embarques por meio de realocação geográfica. Enquanto isso, manufaturas com alto conteúdo importado sofrem mais, pois perdem margem tanto pela tarifa quanto pelo custo de insumos. Nesse sentido, cadeias com escala, certificações robustas e logística integrada têm maior chance de preservar contratos.
O redirecionamento compensa a queda para os EUA?
Em um primeiro momento, o redirecionamento mitiga a perda de volume, mas não compensa integralmente a rentabilidade. Além disso, novos destinos exigem negociação de prazos, adaptação de especificações e, muitas vezes, preços de entrada. Por outro lado, se combinado a melhorias logísticas e a acordos comerciais, o redesenho pode fortalecer as exportações brasileiras no médio prazo.
O que esperar nos próximos meses?
Enquanto persistirem as tarifas, a tendência é de volatilidade nos embarques e pressão em margens. Nesse sentido, empresas devem priorizar contratos de longo prazo, hedge de frete e prêmios por confiabilidade, além de relações comerciais que reduzam risco de ruptura. Por outro lado, qualquer sinal de alívio tarifário ou avanço diplomático pode acelerar recomposição de volumes, sobretudo em commodities com demanda resiliente.
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