Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating, analisou como a política fiscal expansionista do governo afeta a atividade e a inflação no Brasil. Ele avalia que o estímulo sustenta o PIB no curto prazo, porém dificulta cortes de juros e mantém a pressão sobre os preços. O Banco Central encontra menos espaço para afrouxar a política monetária.
Segundo Agostini, a desaceleração já aparece em indicadores de atividade, mas os gastos públicos e isenções seguem oferecendo suporte temporário. Além disso, esse arranjo aumenta o risco de desequilíbrio fiscal e pode prolongar a inflação acima do desejado. Nesse sentido, a credibilidade das contas públicas torna-se peça central para liberar a queda dos juros.
Qual é o efeito da política fiscal sobre 2026?
Agostini projeta que, se mantido o ritmo de despesas e incentivos, a economia pode atravessar 2026 com crescimento modesto e inflação mais persistente. A política fiscal expansionista funciona como amortecedor de curto prazo, mas eleva incertezas sobre a trajetória da dívida e sobre o prêmio de risco. Além disso, quanto maior a dúvida fiscal, maior tende a ser a exigência de juros reais para financiar o setor público.
Nesse sentido, a coordenação entre Fazenda e Banco Central é determinante para reancorar expectativas. Por outro lado, sem uma âncora de gastos crível, os agentes passam a antecipar inflação mais alta, o que encarece o crédito e reduz o investimento. Enquanto isso, a demanda sustentada por estímulos tende a manter serviços pressionados, segmento sensível a mercado de trabalho aquecido.
Como inflação e juros altos afetam o investimento?
Inflação controlada é condição para horizonte de planejamento mais longo. Com inflação elevada e juros restritivos, empresas adiam projetos, encurtam prazos de financiamento e exigem retorno maior. Agostini ressalta que esse ambiente comprime a formação bruta de capital fixo e limita ganhos de produtividade, reduzindo o potencial de crescimento do PIB.
Além disso, a persistência de preços pressionados pode demandar postura mais cautelosa do Banco Central. Por outro lado, sinais críveis de consolidação fiscal permitem reduzir o prêmio de risco e destravar a curva de juros futuros. Nesse contexto, caem os custos de capital e melhora o apetite por investimentos produtivos, especialmente em infraestrutura e indústria de transformação.
Quais os desafios futuros para a economia brasileira?
O Brasil precisa equilibrar estímulo e disciplina. A continuidade de gastos elevados sem contrapartidas ameaça a sustentabilidade das contas públicas e limita a política monetária. Enquanto isso, o cenário externo pode adicionar volatilidade por meio de choques de commodities e mudanças nas taxas de juros globais, exigindo resiliência doméstica.
Agostini sugere reforçar a qualidade do gasto e priorizar reformas de produtividade, como simplificação regulatória e melhoria do ambiente de negócios. Além disso, metas fiscais factíveis e mecanismos automáticos de ajuste ajudam a reduzir incertezas. Por outro lado, postergações sucessivas de consolidação fiscal mantêm o prêmio de risco alto e adiam a recuperação do investimento.
- Estímulos sustentam o PIB no curto prazo, mas elevam a inflação subjacente.
- Inflação alta e juros elevados encarecem o crédito e reduzem o investimento.
- Âncora fiscal crível diminui prêmios e abre espaço para cortes de juros.
- Coordenar política fiscal e monetária é essencial para reancorar expectativas.
- Reformas de produtividade ampliam crescimento sem pressionar preços.
Em síntese, o impulso de curto prazo da política fiscal expansionista não substitui a necessidade de credibilidade e eficiência no gasto. Além disso, um arcabouço fiscal previsível reduz incertezas, melhora a precificação de risco e cria condições para que a política monetária avance com cortes consistentes. Assim, o país pode conciliar crescimento sustentável, inflação em convergência e maior confiança do investidor.
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