O setor imobiliário, que começou o ano cercado de incertezas e previsões pessimistas, se tornou um dos grandes destaques da Bolsa em 2025. Empresas do segmento de construtoras e incorporadoras registraram altas expressivas, com valorização de até 181% em alguns casos. Segundo o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a recuperação do setor foi impulsionada por políticas públicas de habitação, expansão regional e mudanças estruturais no crédito imobiliário.
Entre as empresas que mais se valorizaram no ano, estão nomes como Cyrela, Direcional, Cury, Tenda, Elbor, Plano & Plano e Moura Dubeux, esta última liderando o ranking com alta de 181%. Apenas a Gafisa destoou, registrando queda de 65% até o momento. “O cenário era visto como desafiador, mas o desempenho superou todas as expectativas. As empresas mudaram de patamar”, avaliou Cruz em entrevista à BM&C News.
O que explica o desempenho positivo das construtoras em 2025?
Gustavo Cruz reconhece que o início de 2025 foi marcado por ceticismo entre analistas e investidores. “Eu mesmo me incluía nesse grupo que acreditava que o aumento dos juros frearia a concessão de crédito imobiliário e a busca por financiamentos”, afirmou. No entanto, o estrategista destacou que o avanço do programa Minha Casa, Minha Vida foi decisivo para sustentar o crescimento das construtoras voltadas ao público de baixa e média renda.
Segundo ele, a ampliação dos limites de renda e dos valores dos imóveis enquadrados no programa ajudou a manter o ritmo de vendas. “Empresas como Cury, Direcional e Plano & Plano foram diretamente beneficiadas pela expansão do Minha Casa, Minha Vida, que aumentou a faixa de imóveis incluídos e a renda máxima das famílias aptas a obter crédito”, explicou.
Além disso, rumores recentes de que o governo poderá ampliar novamente o programa em 2026 criaram um ambiente de otimismo no setor. “Mesmo com juros ainda elevados, as linhas de financiamento subsidiadas continuaram oferecendo suporte ao segmento”, destacou Cruz.
Nordeste se destaca como motor de crescimento
Outro fator que impulsionou o setor foi a performance das construtoras regionais, especialmente no Nordeste. A Moura Dubeux, companhia com foco na região, viu suas ações dispararem à medida que o mercado imobiliário local se consolidava. “O Nordeste é hoje a região que mais cresce no Brasil. A Moura Dubeux se consolidou como referência ao atender um público com renda per capita mais alta e uma demanda consistente, mesmo em cenários desafiadores”, observou o estrategista.
Para Cruz, esse perfil de consumidor garante resiliência em momentos de desaceleração econômica e potencializa os ganhos em períodos de crescimento. “Esse público dificilmente enfraquece em fases negativas da economia e tende a reagir ainda melhor em ciclos de alta. Isso explica boa parte do sucesso da empresa ao longo de 2025”, afirmou.
O desempenho das construtoras pode se manter?
Embora o cenário atual seja amplamente positivo, Gustavo Cruz faz um alerta: a continuidade desse movimento depende de variáveis econômicas que ainda inspiram cautela. “Quer dizer que vai continuar assim para sempre? Não. Já começamos a ver sinais de alerta econômico que podem ou não descer para o setor”, ponderou.
Entre os fatores que podem limitar os ganhos estão o comportamento da inflação, as decisões do Banco Central sobre a taxa de juros e eventuais ajustes fiscais que reduzam o espaço para políticas de incentivo. Por outro lado, a manutenção de programas habitacionais e a estabilidade no crédito podem sustentar parte da valorização observada até aqui.
O estrategista ressalta que, apesar dos desafios, o setor imobiliário mostrou capacidade de adaptação. “O fato de termos empresas performando acima de 90% em um ano que começou com tantas dúvidas é uma surpresa positiva. Mostra que há solidez operacional e espaço para crescimento em nichos específicos”, completou.
Setor imobiliário assume protagonismo na Bolsa
Com os resultados de 2025, o setor de construção e incorporação se consolidou entre os principais destaques da Bolsa brasileira. O avanço das ações refletiu não apenas a recuperação da demanda, mas também o fortalecimento das margens e a confiança do investidor em empresas que conseguiram se posicionar bem em diferentes faixas de renda.
Para Gustavo Cruz, o ano marcou uma virada de percepção: “O que era visto como um segmento de risco elevado se mostrou capaz de entregar resultados sólidos mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador.”
Com a perspectiva de novas expansões regionais e o possível reforço das políticas de habitação, as construtoras entram em 2026 com um novo status no mercado. “O setor mudou de patamar e mostrou que, com gestão eficiente e adaptação às políticas públicas, pode seguir sendo um dos motores da Bolsa brasileira”, concluiu Cruz.