O cenário corporativo brasileiro vive um momento de ajustes e oportunidades. Em meio à incerteza tributária e à expectativa de mudanças nas regras de distribuição de lucros, o CIO da MSX Invest, Marco Saravalle, apresentou uma análise detalhada das empresas listadas na Bolsa de Valores que possuem uma característica rara e estratégica, mais caixa do que dívida. Essa configuração financeira coloca essas companhias em uma posição de destaque no mercado, especialmente diante da possível alteração na tributação de dividendos prevista para os próximos anos.
Segundo Saravalle, o levantamento foi construído a partir de uma tabela que compara o valor de mercado das empresas com o seu Enterprise Value (EV), métrica que representa o valor total de uma companhia, considerando seu patrimônio, suas dívidas e seu caixa. O executivo destacou que, ao analisar esses indicadores, é possível identificar empresas com estrutura de capital extremamente saudável, operando com caixa líquido positivo e lucratividade consistente. “Esse grupo de companhias, pode se tornar protagonista no ciclo de distribuição de dividendos que se avizinha“, destacou o especialista.

Por que ter mais caixa do que dívida é um diferencial competitivo?
Ter caixa líquido significa que a empresa possui mais recursos disponíveis do que o montante total de suas dívidas. Em outras palavras, se quitasse todas as suas obrigações financeiras, ainda restaria dinheiro em caixa. Para investidores, isso representa uma combinação de baixo risco e grande potencial de retorno, especialmente quando há espaço para ampliar o pagamento de dividendos ou recomprar ações. Saravalle ressalta que, em um ambiente de juros ainda elevados e incertezas fiscais, a solidez de caixa se torna um verdadeiro escudo contra turbulências econômicas.
“Essas companhias têm uma chance muito grande de acelerar a distribuição de dividendos, porque está sobrando caixa”, afirmou o CIO da MSX Invest. Ele lembrou que, em muitos casos, o caixa líquido dessas empresas representa entre 20% e 50% do valor total do Enterprise Value, um número expressivo que demonstra a robustez financeira e a eficiência na gestão de recursos.
Possíveis impactos tributários e antecipação de dividendos
O especialista também chamou atenção para o contexto fiscal. Caso o governo avance com mudanças na tributação de dividendos em 2026, companhias que possuem caixa elevado podem optar por antecipar o pagamento aos acionistas ainda em 2025. Essa movimentação estratégica visa proteger o capital dos investidores e preservar a atratividade das ações. “Se houver qualquer alteração tributária que afete a distribuição, as empresas devem se antecipar para evitar perda de rentabilidade aos acionistas”, explicou Saravalle.
Além disso, o analista destacou que as empresas listadas em seu ranking apresentam não apenas folga de caixa, mas também lucro operacional positivo. Essa combinação, eficiência operacional e estrutura de capital enxuta, amplia o potencial de valorização de longo prazo e reduz a exposição a choques externos. “Todas as companhias listadas estão com operação saudável e resultados consistentes. Isso é o que dá sustentação para pensar em dividendos mais generosos”, completou.
Dívidas e caixa: quais empresas podem se beneficiar?
Embora Saravalle não tenha revelado os nomes das companhias durante a transmissão, ele explicou que o ranking inclui tanto empresas consolidadas quanto small caps com boa gestão de caixa. O analista excluiu o setor bancário da análise, que naturalmente opera com grande volume de recursos financeiros, para concentrar o estudo em companhias de outros segmentos, como indústria, varejo e tecnologia.
Segundo ele, essas empresas compartilham três características principais:
- Baixo nível de endividamento e elevada liquidez.
- Capacidade de gerar lucro operacional constante.
- Potencial de distribuir dividendos acima da média do mercado.
Esses fatores tornam o grupo especialmente interessante para investidores que buscam segurança e previsibilidade em seus rendimentos. “Não estou dizendo que essas ações vão subir ou cair imediatamente, mas são nomes que precisam estar no radar de quem busca dividendos”, afirmou o especialista.
Um alerta sobre eficiência e uso do capital
Por outro lado, Saravalle lembrou que o excesso de caixa também pode levantar questionamentos sobre eficiência no uso de capital. Empresas com montantes muito elevados em caixa podem ser cobradas pelo mercado a empregar esses recursos de forma produtiva, seja em investimentos, inovação ou remuneração aos acionistas. “É importante entender o momento operacional. Se há caixa sobrando, ele precisa ser usado de maneira estratégica, e não apenas acumulado”, ponderou.
O debate proposto pelo CIO da MSX Invest reforça a importância de olhar além do endividamento bruto e considerar o equilíbrio entre dívida e liquidez. Em um cenário de incertezas fiscais e mudanças regulatórias, empresas com baixo endividamento e alta geração de caixa podem sair na frente, tanto pela resiliência quanto pela capacidade de manter atratividade junto aos investidores.
Assim, a discussão sobre companhias com mais caixa do que dívida vai além de uma simples curiosidade contábil: trata-se de um sinal claro de que a saúde financeira, aliada à boa governança e à gestão prudente, continua sendo um dos pilares mais sólidos para atravessar períodos de volatilidade e, ao mesmo tempo, gerar valor para o acionista.