Anteontem, MONEY REPORT realizou um jantar para empresários e CEOs. Nas mesas, havia um assunto dominante: a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à presidência da República. Havia quase que um consenso de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria reeleito e que Tarcísio tinha se escorado demais na figura do ex-presidente Jair Bolsonaro — com tal movimento, havia perdido irrecuperavelmente terreno para o petista.
Poucas vozes contestaram esse sentimento geral. Mas houve quem argumentasse que ainda é cedo para estabelecer qualquer previsão e que o cenário político no Brasil mudava muito rapidamente. Um exemplo disso era justamente o que havia acontecido com o presidente Lula: três meses atrás, poucos apostariam na reeleição de um mandatário acossado por uma queda contínua de popularidade e à frente de um governo sem bandeiras.
A virada se deu com a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro, que passou a trabalhar para impor sanções dos Estados Unidos ao Brasil, com o intuito de pressionar governo e Supremo Tribunal a anistiar o pai. Vieram as sanções e, como em um passe de mágica, Lula ganhou uma bandeira para si e conseguiu estancar os índices de desaprovação. Nos últimos dias, contou com três vitórias. A primeira foi a disposição de Donald Trump de abrir um diálogo com o Brasil. A segunda foi a aprovação, por unanimidade, da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00 mensais, uma proposta levantada na campanha de 2022. Por fim, uma queda significativa na inflação dos alimentos também melhorou a imagem presidencial junto à população brasileira.
Isso não quer dizer, no entanto, que Lula terá céu de brigadeiro daqui para frente. As pesquisas mostram que sua rejeição parou de cair, mas ainda está em patamares altíssimos – em algumas enquetes, superior a 50% dos entrevistados. Os juros altos devem criar uma desaceleração econômica com consequências desconfortáveis à classe trabalhadora, que ainda não entendeu o conceito de independência do Banco Central (essa percepção se torna mais complicada quando lembramos que o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi indicado pelo atual presidente da República).
Voltando a Tarcísio, hoje criticado até por alguns de seus apoiadores: ele condiciona sua candidatura ao apoio de Bolsonaro. A lógica por trás de seu raciocínio faz sentido, pois uma eventual pecha de traidor em relação ao ex-presidente iria inviabilizar a transferência dos votos bolsonaristas a ele.
“Não se tira o sapato antes de se chegar ao rio”, dizia Tancredo Neves. O governador paulista está justamente esperando a hora certa para entrar no páreo – se é que vai entrar. Ele é hoje o preferido do empresariado para disputar com Lula, mas sabe que precisa costurar primeiro o apoio da família Bolsonaro, o que inclui uma espécie de operação abafa em direção ao filho deputado.
Se Tarcísio precisa ser paciente, imaginem a situação do paranaense Ratinho Jr., que também é bem-visto na Faria Lima. Ele não pode ser afoito e sabe que precisa ver definida a situação de Tarcísio para entrar forte na disputa. Se queimar a largada, pode se prejudicar e botar tudo a perder.
Com a polarização, tudo indica que teremos uma disputa acirrada entre esquerda e direita e que os eleitores de centro serão cruciais para definir o vencedor. Também precisamos lembrar que nas últimas eleições, a soma de votos nulos e brancos à abstenção chegou a um percentual em torno de 30%. Portanto, a vitória cairá no colo de quem conseguir sensibilizar o centro ou trazer o apoio de quem deixou de escolher candidatos nos últimos pleitos.
Nesse cenário volátil e imprevisível, Tarcísio e Ratinho Jr. devem agir como estrategistas, não como corredores de 100 metros rasos. A construção de uma candidatura viável exige mais do que carisma ou alinhamento ideológico: requer timing, articulação e capacidade de dialogar com diferentes segmentos da sociedade. Neste cenário, a pressa pode ser inimiga da viabilidade eleitoral. O centro está à espera de alguém que não apenas represente uma alternativa à polarização, mas que também inspire confiança e estabilidade. Quem souber esperar, construir pontes e apresentar propostas concretas poderá surpreender – e talvez, vencer.