O pregão desta sexta-feira (03/10) terminou com o Ibovespa andando de lado, com 0,2% de alta aos 144 mil pontos, enquanto a Ambipar (AMBP3) voltou a ser o epicentro de tensão após um mês de perdas quase totais. Além disso, o noticiário de tutelas judiciais, dúvidas sobre caixa e rebaixamentos de rating manteve o investidor na defensiva, reduzindo apetite a risco e ampliando a busca por liquidez.
Nesse sentido, a sessão foi marcada por forte assimetria: o índice tentou se sustentar, mas o derretimento de AMBP3 dominou a narrativa e contaminou o humor. Por outro lado, profissionais de mercado reforçaram a leitura de que o caso é idiossincrático, sem necessariamente comprometer o restante do setor de soluções ambientais, ainda que o episódio acenda alertas de governança e transparência.
Ambipar no foco: números e marcos que pressionam o papel
Enquanto isso, a ponta vendedora ganhou força em AMBP3 com a soma de riscos financeiros, jurídicos e reputacionais. Além disso, a discussão sobre a efetiva liquidez de parcelas do caixa e a escolha da jurisdição para proteção contra credores adicionaram incerteza regulatória e dúvidas sobre a trajetória de curto prazo.
- Queda mensal próxima de 90% em AMBP3.
- Desvalorização intradiária extrema nesta semana, com sessões acima de 50% de baixa.
- Preço colapsado: de patamares acima de R$ 20 em 2024 para a casa de R$ 1 neste mês.
- Pressões de credores, rebaixamentos de rating e questionamentos sobre FIDC com parte relacionada.
Ambipar pode cair mais?
“Faz sentido e a gente acredita que o papel deva cair ainda mais.” Com essa leitura direta, o analista Júlio Borba (Options and Co), no programa Closing (03/10), avalia que a dinâmica de notícias negativas segue intensa e que o risco de eventos de crédito adicionais permanece elevado.
Além disso, Borba lembrou que a saída do diretor financeiro acendeu um sinal amarelo: “às vezes ocorre descoberta de potencial fraude ou situação muito problemática”, disse, ao comentar a sucessão de ruídos. Por outro lado, ele pontuou que enxerga o episódio como específico: “não vejo contágio setorial; é um caso de Ambipar”.
Nesse sentido, o analista também questionou a liminar: “é estranho a decisão no Rio de Janeiro — não é onde está a sede, nem o conselho… fica o questionamento sobre se a Justiça do RJ era a mais apta”. Enquanto isso, sobre o caixa e o FIDC, foi taxativo: “podem existir posições difíceis de desmontar e, se os credores chamarem o capital, talvez esse dinheiro não esteja disponível… ou, no pior caso, não exista”.
Por fim, Borba reiterou a orientação de gestão de risco: “a gente vinha recomendando venda; o mais prudente agora é se desfazer das ações”. E arrematou com o cenário extremo: “os papéis podem cair mais, talvez 100% inclusive… em casos de RJ/falência, as ações tendem a ir a zero”.
Como o episódio se conecta ao restante do mercado?
Além disso, a leitura dos gestores é que choques idiossincráticos podem inflar o prêmio de risco no curto prazo, mas não necessariamente alteram fundamentos do índice por si só. Por outro lado, a coincidência com um debate fiscal mais barulhento e um exterior volátil ajuda a explicar a postura defensiva dos investidores, com rotação tática para nomes de qualidade e balanços mais robustos.
O que monitorar a partir de agora?
- Eventuais comunicados da companhia sobre caixa, governança e reestruturação.
- Trâmite jurídico da tutela e respostas dos credores nas próximas semanas.
- Movimentos de rating, covenants e potenciais gatilhos de default.
- Liquidez do papel e dinâmica técnica (short covering x fluxo vendedor).
Conclusão: risco idiossincrático alto e cautela no curto prazo
Em síntese, a sessão de 03/10 reforçou que a curva de notícias de AMBP3 continua negativa e dominando o noticiário micro, mesmo com o Ibovespa tentando estabilidade. Além disso, as falas de Júlio Borba no Closing adicionam um vetor qualitativo importante à leitura de risco: a tese de queda adicional permanece sobre a mesa, exigindo disciplina de portfólio e gestão de exposição enquanto o caso evolui.