Apesar de ainda pouco difundido no Brasil, o seguro residencial pode evitar prejuízos relevantes em situações corriqueiras — de um rompimento de tubulação que atinge o vizinho a um incêndio que compromete a estrutura do imóvel. Nesse sentido, a entrevista com Daniel Paim, sócio da Globus (grupo Maldivas), ajuda a traduzir como o produto funciona na prática, quais coberturas fazem diferença e por que o custo costuma ser bem menor do que as pessoas imaginam. Além disso, o especialista alerta para equívocos comuns, como confundir a apólice do condomínio com a proteção da unidade.
Segundo Paim, cerca de 20% dos lares brasileiros têm proteção, número baixo para o tamanho do risco. Por outro lado, o preço é convidativo, em um exemplo de cobertura para imóvel de R$ 500 mil, a apólice “padrão” pode sair por algo em torno de R$ 300 ao ano, algo próximo de R$ 30 por mês. Ou seja, proporcionalmente ao valor do bem, trata-se de um custo reduzido. Enquanto isso, muita gente prioriza o seguro de automóvel e subestima a casa, que frequentemente é o principal patrimônio da família.
O que o seguro residencial cobre?
O ponto de partida é a cobertura básica contra incêndio, que protege a estrutura do imóvel. A partir disso, é possível adicionar módulos que ampliam o alcance da apólice e a deixam mais aderente ao seu dia a dia. Por outro lado, o mercado oferece diferentes níveis de assistência (básica, intermediária e completa), que impactam o preço e a conveniência de uso. Nesse sentido, conhecer as opções evita surpresas na hora do sinistro.
- Cobertura básica (estrutural): Incêndio (obrigatória/central), com possibilidade de incluir queda de raio e explosão, protegendo a construção (“prédio”).
- Rompimento de tubulação: Reembolsa consertos hidráulicos e danos aos seus bens; pode ser combinada com responsabilidade civil.
- Responsabilidade civil (terceiros): Indispensável em apartamentos; cobre prejuízos causados a vizinhos (ex.: vazamento que danifica o teto/armários do andar de baixo).
- Roubo/furto qualificado (conteúdo): Protege móveis, eletros e outros bens dentro da residência; muito buscada em casas.
- Assistências 24h: Chaveiro, eletricista e encanador; nos pacotes mais completos entram conserto de linha branca/marrom, help desk, assistência pet e serviços de caçamba/desentulho vinculados a sinistros.
Seguro condomínio cobre meu apartamento?
Nesse sentido, vale desfazer um mito recorrente, a apólice do condomínio protege áreas comuns e a estrutura do prédio. Por outro lado, “da porta para dentro” a responsabilidade é do morador. Portanto, a sua apólice residencial é quem cobre o conteúdo (bens) e eventos que acontecem na unidade e a responsabilidade civil ampara danos a terceiros. Em resumo: condomínio não substitui seguro residencial individual.
Além disso, a contratação pode ser moldada a sua realidade. Apartamentos tendem a privilegiar responsabilidade civil e tubulação; casas frequentemente pedem atenção a roubo, portões, jardins e danos a veículos na garagem. Enquanto isso, quem possui itens de alto valor (joias, obras de arte, equipamentos) deve declarar e documentar, pois algumas seguradoras exigem avaliação e limites específicos (importância segurada dedicada).
- Prédio x conteúdo: Você pode segurar apenas a estrutura, apenas o conteúdo, ou ambos. Em locação, proprietários costumam exigir proteção do prédio; já os bens do inquilino exigem apólice própria.
- Documentação de bens especiais: Notas fiscais, fotos, laudos e, quando aplicável, avaliação pericial solicitada pela seguradora.
- Assistências por pacote: Do básico (chaveiro/encanador/eletricista) ao completo (linha branca, linha marrom, help desk, pet), com acréscimo de prêmio conforme a amplitude.
Quanto custa? E por que o custo-benefício costuma surpreender
Os principais fatores de precificação incluem idade da construção, localização, tipo de imóvel e valor segurado (prédio e/ou conteúdo). Enquanto isso, a percepção de caro geralmente nasce de um paralelo inadequado com o seguro auto. No residencial, a relação prêmio/valor do bem é, em geral, mais baixa. Em um imóvel de R$ 500 mil, por exemplo, uma combinação de cobertura básica + assistência + duas coberturas adicionais pode ficar na casa de poucas centenas de reais ao ano e a maioria das seguradoras parcela em até 12 vezes.
Quando acionar o seguro residencial:
- Incêndio: Sinistros que afetem a estrutura (danos à construção, instalações). Acione imediatamente a seguradora e os bombeiros.
- Rompimento de tubulação: Vazamentos internos que exijam reparo e tenham danificado móveis/forros. Registre fotos e notas.
- Responsabilidade civil: Danos a vizinhos (ex.: infiltração no apartamento de baixo). Informe dados do terceiro e orçamentos.
- Roubo/furto qualificado: Boletim de ocorrência, relação de bens e comprovantes (notas/fotos) aceleram a regulação.
- Assistências 24h: Precisa de chaveiro, eletricista ou encanador? Ligue para a central antes de contratar por conta própria.
Seguro residencial vale para quem “nunca precisou”?
Por outro lado, a lógica do seguro é mitigar riscos de baixa frequência e alto impacto. “Nunca aconteceu” não é garantia de “nunca acontecerá”, lembra Daniel Paim. Enquanto isso, eventos simples, como um cano que estoura num sábado à noite, viram dores de cabeça (e de bolso) quando não há assistência e cobertura. Por fim, se a casa é seu maior ativo, deixar de protegê-la significa expor o patrimônio e a rotina da família a imprevistos caros.
Checklist rápido para contratar sem erro
- Mapeie necessidades: incêndio (obrigatório), tubulação, responsabilidade civil, roubo e assistências.
- Defina importâncias seguradas para prédio e conteúdo; liste bens relevantes e armazene comprovantes.
- Compare pacotes de assistência e franquias; entenda o que é reembolso e o que é prestação direta de serviço.
- Revise cláusulas de exclusões e limites por item (eletrônicos, joias, obras de arte, bicicletas, etc.).
- Atualize a apólice ao trocar móveis/eletros, reformar a casa ou mudar de endereço.
O seguro residencial combina três atributos difíceis de encontrar juntos: preço baixo frente ao valor do bem, amplitude de coberturas personalizáveis e conveniência de assistências 24h. Além disso, a responsabilidade civil protege relações de vizinhança e evita litígios desgastantes. Enquanto isso, manter documentação e avaliar limites por item reduz fricção no sinistro. No fim do dia, é uma decisão de prudência: trocar incerteza alta por um custo previsível que cabe no bolso e preserva sua tranquilidade.