O Ibovespa encerrou a sessão desta quinta-feira (2/10) em queda de 1,04%, aos 144.005 pontos, pressionado pelo avanço dos juros futuros e pela alta do dólar, que fechou em torno de R$ 5,34. O movimento reflete preocupações com a trajetória fiscal e os impactos das recentes mudanças na tabela do Imposto de Renda e na taxação de dividendos. Enquanto isso, Nova York avançou e renovou recordes, evidenciando a descorrelação dos ativos locais.
Segundo analistas, o cenário de abdicação de receita em ano pré-eleitoral eleva a percepção de risco. Para o head de renda variável da Levante, Flávio Conde, “a notícia fiscal é ruim: abdicar de receita em ano eleitoral pressiona a relação dívida/PIB, que já está em 77,5%, e abre prêmio nos juros. Nesse cenário, o mercado realizou após bater 147 mil pontos”.
Quais fatores explicam a pressão no mercado?
Além da questão fiscal, o investidor local acompanha a cautela internacional em meio às discussões sobre a política monetária americana. Ainda que a expectativa seja de corte de juros pelo Federal Reserve apenas em 29 de outubro, declarações recentes de dirigentes reforçaram a necessidade de prudência diante da instabilidade causada pelo shutdown nos EUA.
Conde destacou que “o grande vendedor do mercado brasileiro desde o ano passado é o institucional, não o estrangeiro. O estrangeiro colocou neste ano R$ 27 bilhões líquidos, enquanto pessoas físicas aportaram R$ 7 bilhões. Quem tem realizado posições são os fundos multimercados e de ações”.
Setores mais atingidos no pregão de 2 de outubro
Os setores mais sensíveis ao juro futuro sofreram fortes perdas, em especial o varejo e empresas ligadas ao consumo. Isso porque a alta da taxa de juros encarece o crédito, reduzindo a perspectiva de vendas no prazo. “Juro futuro em alta significa menor consumo das famílias, porque vai ficar mais caro comprar a prazo. O mercado, então, pega as empresas ligadas ao varejo e soca”, afirmou Conde no programa Closing, da BMC News.
- Varejo: quedas expressivas em Magalu, Pão de Açúcar e CVC.
- Consumo: Ações como Cogna e outras ligadas à educação também recuaram.
- Bancos: Itaú e Bradesco cederam, mas foram apontados por Conde como oportunidades de entrada.
Como posicionar a carteira em um cenário adverso?
Apesar da queda, Flávio Conde destacou que o investidor pode encontrar oportunidades de médio prazo. “Em dias de estresse, a estratégia é esperar o mercado cair mais e comprar qualidade. Bancos como Bradesco e Itaú continuam lucrativos e podem ser reforço importante na carteira.”
Nesse sentido, o analista reforçou a importância de diferenciar ruídos de sinais. Para ele, o ruído são as incertezas políticas e fiscais do momento, mas o sinal que deve prevalecer adiante é a tendência de queda de juros, que sustenta a bolsa no médio prazo.
O que esperar do dólar até o fim do ano?
Sobre o câmbio, o especialista foi enfático: “O dólar é para baixo no cenário-base. Se Lula moderar gastos e Trump reduzir o tom, é plausível ver a moeda na faixa de R$ 5,10 a R$ 5,15 até dezembro. Caso contrário, deve permanecer próximo ao atual patamar de R$ 5,34”.
Enquanto isso, o investidor estrangeiro segue relevante no fluxo da B3, mas o humor do mercado interno segue ditado pelo risco fiscal e pela condução da dívida pública, cujo juro médio de 15% pressiona ainda mais o quadro.
Conclusão: ruído ou sinal?
Em síntese, o pregão de hoje mostrou que o Ibovespa continua vulnerável às discussões de Brasília. Entretanto, como ressaltou Flávio Conde, “Trump e os gastos do Lula são ruídos; o sinal é a queda de juros, que vai sustentar a bolsa adiante”. O investidor, portanto, deve manter cautela no curto prazo, mas aproveitar correções em setores resilientes como bancos e infraestrutura.