No BM&C Talks, a Secretária Municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Angela Gandra, detalhou, em conversa com Carlo Cauti, como a diplomacia municipal, ou paradiplomacia, vem se consolidando como instrumento prático para melhorar a vida do paulistano. Em um mundo “totalmente internacionalizado”, como define a secretária, a pasta funciona como secretaria-meio para apoiar programas de todas as áreas e, ao mesmo tempo, como secretaria-fim em agendas como desenvolvimento sustentável e economia circular.
Além disso, Angela descreveu a estratégia de missões internacionais “eficientes e eficazes”, orientadas a resultados mensuráveis e ao bom uso do dinheiro público. “São Paulo tem ampliado redes com outras cidades, intensificado a cooperação com consulados e provocado efeitos concretos em políticas de habitação, segurança alimentar, geração de emprego e transição ecológica“, destacou a secretária. Por outro lado, o foco não é apenas econômico: relações internacionais também são humanas, sociais e culturais.
A Secretaria Municipal de Relações Internacionais e a diplomacia
Com 12 milhões de habitantes (23 milhões na região metropolitana) e 32 subprefeituras, São Paulo é vista como megacidade dinâmica, com inovação, tecnologia, startups e sustentabilidade. Além disso, a cidade combina protagonismo econômico com humildade institucional, vai para aprender e para compartilhar soluções. Resultado, mais de 10 mil empresas se instalaram na capital nos últimos anos, atraídas pelo ambiente de negócios e por políticas públicas reconhecidas.
A secretaria oferece plataforma para que outras pastas levem políticas públicas e boas práticas ao cenário global, concorram a prêmios e acessem financiamento. Enquanto isso, coordena agendas transversais como ODS (com “pegada antropológica”, não ideológica), integração de imigrantes e articulação com mais de cem consulados. O objetivo é ampliar cooperação, destravar investimentos e fortalecer a imagem de São Paulo como cidade aberta e inovadora.
Segundo Angela, cada missão é planejada com metas e retorno esperado: agendas intensas, prazos curtos e foco em parcerias acionáveis. Nesse sentido, a participação em redes como Urban20 (alinhada ao G20) gera um communiqué de políticas urbanas com acompanhamento de prefeitos, em eixos como housing, empregabilidade 60+, segurança alimentar e cultura de paz. Por outro lado, a equipe avalia gasto, impacto e desdobramentos, sob cobrança direta do prefeito.
Quais iniciativas concretas nasceram dessa paradiplomacia?
- Rede de Cidades (U20/G20): alinhamento em habitação, emprego 60+, segurança alimentar e cultura de paz.
- Integração com consulados: cafés regionais temáticos, protocolos de cooperação e resolução de problemas práticos (mobilidade consular, acolhimento, eventos culturais).
- Virada ODS: demonstração de políticas das secretarias com foco em direitos humanos, educação ambiental e participação social.
- Captação de investimentos via prêmios: reconhecimento internacional em segurança, gestão metropolitana e educação, abrindo portas a projetos e parcerias.
Diplomacia municipal e a COP30
Angela aponta que 2025 é “ano de COP em São Paulo” no sentido de mobilização local, educação ambiental, rodadas de negócios sustentáveis, matchmaking entre empresas, turismo de base ecológica e economia circular. Nesse sentido, mesmo com desafios logísticos e custos elevados da conferência em Belém, a capital organiza um “hub” de conexões para transformar a discussão em contratos e empregos verdes.
São Paulo trabalha “sob medida” com cada comunidade e consulado. Enquanto isso, ações como a Vila Reencontro oferecem moradia, refeições e trilhas de qualificação. Nas escolas, há alunos de 110 nacionalidades e programas para prevenir bullying e promover convivência; línguas como coreano, mandarim, alemão, italiano e francês são oferecidas nos CEUs. Por outro lado, campanhas culturais — de Armênia a Israel, de Ucrânia a comunidades árabes — difundem história, memória e pertencimento.
Prêmios internacionais ajudam mesmo a cidade?
Sim. Além do reconhecimento a equipes e políticas (como o Smart Sampa, com reconhecimento facial sob LGPD para capturar foragidos sem letalidade), os prêmios funcionam como “selo de confiança” para investidores. Nesse sentido, a capital já recebeu distinções em gestão de subprefeituras, educação e preparação ao G20, e disputa dezenas de novas candidaturas, inclusive da SPCine e da Secretaria de Educação.
Qual legado São Paulo quer deixar? Uma cidade de paz é possível?
Para a secretária, o legado é consolidar São Paulo como cidade de paz, aberta a todos os povos, competitiva, inovadora e humana, onde a diplomacia municipal gera negócios, empregos e qualidade de vida. Além disso, a coordenação entre secretarias, a disciplina fiscal de projetos e a cooperação com o governo do Estado sustentam políticas estáveis. Por outro lado, o desafio é comunicar que “internacional” não é luxo: é ferramenta concreta para atrair investimentos, fortalecer direitos e acelerar soluções que façam diferença no dia a dia do cidadão.