O fim de ano no mercado financeiro é sempre cercado de expectativas e, em 2025, não será diferente. Com a proximidade da temporada de resultados e as incertezas externas envolvendo Fed, China, petróleo e tarifas, os investidores se perguntam se haverá espaço para o tradicional rali de Natal. Segundo Gustavo Bertotti, head de renda variável da Fami, há sim elementos que sustentam essa possibilidade, embora o cenário esteja longe de ser isento de riscos.
De acordo com o especialista, o diferencial de juros continua sendo um ponto favorável para os mercados emergentes, atraindo fluxo estrangeiro para a bolsa brasileira. Ao mesmo tempo, o cenário fiscal interno e o ambiente político adicionam obstáculos à construção de um movimento sustentado de valorização. Dessa forma, o rali, ainda que possível, dependerá de fatores de curto prazo e da capacidade de o governo sinalizar maior responsabilidade fiscal.
O mercado já precifica um rali de Natal?
Na avaliação de Bertotti, o mercado já vem antecipando parte desse movimento. A expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, com probabilidade superior a 90% em outubro e em torno de 70% em dezembro, reforça o diferencial em favor do Brasil. Esse cenário mantém o país atrativo para o capital estrangeiro, especialmente diante da continuidade de juros elevados por aqui. “Esse diferencial de juros vai continuar sendo atrativo, e o fluxo vai permanecer em parte para os emergentes”, destacou.
No entanto, o especialista ressalta que a bolsa brasileira ainda é sustentada principalmente por investidores estrangeiros, uma vez que o investidor institucional local se mostra deficitário e a participação da pessoa física segue pequena. Isso torna o movimento mais frágil e dependente de fatores externos, como o posicionamento do Federal Reserve e a evolução do cenário geopolítico global.
Qual o peso do fiscal para o rali de Natal?
O fator fiscal, segundo Bertotti, é central para determinar a intensidade e a sustentabilidade de um eventual rali de Natal. O governo tem apresentado medidas fora do orçamento e sinais de populismo em um ano pré-eleitoral, o que aumenta a preocupação de investidores em relação ao médio e longo prazo. “O fiscal é o que vai trazer um apetite a risco muito maior para o nosso mercado”, reforçou o especialista.
Enquanto isso, a ata mais recente do Copom adotou um tom mais restritivo para ancorar as expectativas de inflação, mas deixou claro que há espaço para cortes graduais na taxa de juros. Ainda assim, sem uma política fiscal mais consistente, a confiança dos investidores pode ser abalada, comprometendo o fôlego da bolsa em dezembro.
O que mostram os resultados corporativos?
Bertotti lembrou que o terceiro trimestre deve apresentar continuidade em relação ao segundo, com boa parte das empresas reportando resultados em linha ou acima das expectativas. Muitas companhias vêm priorizando capital de giro e gestão de passivos, o que garante alguma resiliência. No entanto, a análise deve ser feita de forma setorial, já que alguns segmentos têm mostrado mais dificuldades.
- Indústria: segue como ponto de preocupação, com revisões de guidances para baixo.
- Agronegócio: enfrenta desafios, mas mantém relevância como motor de crescimento.
- Empresas cíclicas: se beneficiam do fluxo estrangeiro e da expectativa de queda de juros.
“Mais de 50% dos resultados recentes ficaram em linha com as expectativas, com várias empresas surpreendendo positivamente“, destacou o especialista. Esse desempenho ajuda a sustentar a confiança, ainda que o ambiente macroeconômico imponha cautela.
Quais os riscos para o fim do ano?
Entre os principais riscos apontados por Bertotti estão a manutenção da fragilidade fiscal, a inflação ainda acima da meta e o impacto das medidas populistas do governo em um ano eleitoral. Além disso, a dependência do capital estrangeiro torna a bolsa mais sensível a movimentos externos, especialmente em relação à condução da política monetária do Fed e aos desdobramentos geopolíticos.
Na leitura de Bertotti, há espaço para ganhos em dezembro, mas a intensidade dependerá da resposta fiscal do governo e do fluxo estrangeiro. Caso as condições se mantenham relativamente estáveis, o rali deve se materializar, beneficiando empresas cíclicas e setores que já têm mostrado desempenho positivo ao longo de 2025. Por outro lado, a ausência de medidas claras para conter gastos públicos pode limitar a força desse movimento.
Assim, investidores devem acompanhar de perto não apenas os resultados das companhias, mas também as sinalizações do governo e do Banco Central. O rali de Natal pode até ser uma realidade em 2025, mas será menos um presente e mais uma consequência de ajustes necessários para o equilíbrio fiscal e macroeconômico.