Entra em vigor nesta quarta-feira (1) a bandeira vermelha 1 nas contas de luz, decisão que recoloca a energia elétrica no centro do debate inflacionário. A bandeira vermelha 1, acrescenta R$ 4,46 a cada 100 kWh, dando um alívio para os R$ 7,87 a cada 100 kWh, cobrados na bandeira tarifária patamar 2, que ficou vigente entre agosto e setembro. Confira na tabela os detalhes:
Bandeira | Adicional por 100 kWh | Equivalente (R$/kWh) |
---|---|---|
Verde | Sem acréscimo. | Sem acréscimo. |
Amarela | R$ 1,885 | R$ 0,01885 |
Vermelha – Patamar 1 | R$ 4,46 | R$ 0,04463 |
Vermelha – Patamar 2 | R$ 7,87 | R$ 0,07877 |
Para Andrea Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, a combinação de chuvas abaixo da média e a possibilidade de um novo fenômeno climático cria uma assimetria relevante para a trajetória de preços, algum alívio em 2025, mas riscos maiores em 2026.
Nesse sentido, o risco hidrológico é o fator-chave. Em um cenário de seca semelhante ao de 2015, quando foi necessário acionar instrumentos de emergência, o impacto sobre a inflação pode ser significativo. Embora as projeções atuais para o subgrupo de energia apontem alta de 4,5% em 2025 e de 2,6% em 2026, Ângelo enxerga viés de baixa para 2025 e viés de alta para 2026, refletindo incertezas sobre a recomposição de reservatórios e o custo do despacho térmico.
Bandeira vermelha 1 agora garante tranquilidade adiante?
Andrea Ângelo observa que a bandeira vermelha 1 em outubro decorre do baixo nível de reservatórios e da necessidade de acionar termelétricas, cuja geração é mais cara. Além disso, a intermitência da geração solar e a concentração da demanda no horário de ponta intensificam o custo marginal do sistema. “Por outro lado, as chuvas recentes e estatísticas mais favoráveis da CCEE trouxeram algum alívio de curtíssimo prazo, suficiente para migrar do patamar 2 para o patamar 1, mas ainda insuficiente para garantir bandeiras mais amenas no horizonte de 2026“, destaca Ângelo.
Enquanto isso, a Warren incorporou bandeira amarela ao cenário base para o fim de 2025, sinalizando que a normalização hídrica pode ocorrer, porém de forma gradual. O recado ao consumidor e aos formuladores de política é que a volatilidade das bandeiras seguirá como vetor de incerteza para a inflação de serviços administrados e para as contas de luz.
Como a energia pode afetar a inflação em 2025 e 2026?
De acordo com Ângelo, 2025 tende a registrar um comportamento mais benigno, com viés de baixa frente à projeção de 4,5% para a energia elétrica. Isso porque parte da pressão recente já foi precificada e há chance de recomposição dos reservatórios ao longo do período úmido. Além disso, a base de comparação elevada e eventual redução do despacho térmico podem aliviar a conta tarifária no agregado do ano.
Por outro lado, 2026 embute riscos maiores. A estrategista projeta bandeira vermelha 1 no primeiro semestre, com deterioração para bandeira vermelha 2 entre maio e agosto, e retorno à bandeira amarela de setembro a dezembro. A leitura é que, mesmo com algum alívio pontual, a persistência de um regime de chuvas desfavorável e a demanda firme no horário de ponta manteriam o custo estrutural elevado.
Qual o cronograma de bandeiras esperado pela Warren?
- Outubro de 2025: bandeira vermelha 1 já confirmada.
- Fechamento de 2025: cenário base com bandeira amarela.
- 2026 – 1º semestre: predominância de bandeira vermelha 1.
- 2026 – maio a agosto: bandeira vermelha 2 (cenário mais adverso).
- 2026 – setembro a dezembro: bandeira amarela.
Nesse sentido, o encarecimento da geração elétrica, via maior uso de térmicas, tende a pressionar os custos do sistema e a inflação administrada, especialmente no segundo e terceiro trimestres de 2026. O mapeamento de bandeiras, portanto, torna-se insumo para calibrar projeções de IPCA, especialmente nos núcleos mais sensíveis à energia.
Implicações para consumidores, empresas e política econômica
Para os consumidores, o sinal é de cautela no orçamento doméstico, com atenção ao consumo no horário de ponta e a programas de eficiência energética. Para as empresas, sobretudo as eletrointensivas, há recomendação de reforço em gestão de risco (hedge de energia, contratos de longo prazo e revisão de repasse de custos).
Além disso, do ponto de vista de política econômica, bandas mais restritivas em 2026 podem atrasar a convergência da inflação de administrados, exigindo monitoramento atento do Banco Central sobre a dinâmica de preços e expectativas. Enquanto isso, concessionárias e reguladores devem avaliar eventuais reprogramações tarifárias, respeitando o equilíbrio econômico-financeiro e a modicidade tarifária.