A direita brasileira, evidentemente, defende o capitalismo e é inimiga de todos os tipos de socialismo. São, portanto, capitalistas por definição. E os defensores do livre mercado são entusiastas da meritocracia e da produtividade. Gostam de métricas para medir o sucesso e traçar estratégias de crescimento. Esse, no entanto, não é o cenário que se observa quando esses capitalistas pensam na política.
A impressão que temos é a de que os comandantes da direita (ou do Centrão) não buscam uma política de resultados. Quando entram em campo em uma disputa, é de forma amadora e geralmente motivada por reações emocionais de seus líderes. Por isso, esses líderes precisam de duas coisas. Uma é controle emocional; a outra é de um choque de gestão.
Sem sangue frio e um olhar objetivo (como o dos empresários), os objetivos se perdem e a estratégia ganha retoques aleatórios. Para piorar, muitos dos direitistas se perdem ao abraçar causas que são verdadeiros tiros no pé. As recentes movimentações de Eduardo Bolsonaro e de Paulo Figueiredo nos Estados Unidos, comemorando o tarifaço americano, mostram que boa parte dos bolsonaristas se fechou em uma bolha e não consegue fazer uma leitura correta do que pensa a sociedade brasileira.
Os mais conservadores, ainda por cima, estão mais preocupados em salvar o bolsonarismo do que derrotar o petismo. Vamos transportar esse comportamento para a esfera corporativa: um empresário iria colocar em risco o futuro de sua companhia para salvar um produto ou – vá lá – um de seus executivos? Dificilmente. Mas, no fundo, é isso que os direitistas mais radicais estão fazendo: arriscando uma derrota em 2026 para reabilitar o ex-presidente Jair Bolsonaro ou turbinar um membro de seu clã no ano que vem.
Declarações em alto e bom som ou cochichos nos bastidores dos bolsonaristas mais afoitos mostram que não há espaço para a negociação política em seu ideário. Assim, Jair Bolsonaro é a prioridade número 1 para as próximas eleições presidenciais, mesmo estando o ex-presidente inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral e condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Caso não tenha sucesso nesta dificílima missão, esse extrato da direita brasileira quer emplacar Eduardo Bolsonaro na cabeça de uma chapa presidencial e Guilherme Derrite para concorrer ao governo de São Paulo.
Como diria Garrincha ao técnico Vicente Feola, seria preciso antes combinar com os russos. Todos os movimentos da direita mais extremada são planejados como se o eleitorado apoiasse integralmente o bolsonarismo. Entretanto, o que as pesquisas mostram é um esgotamento deste movimento. Os bolsonaristas até podem se recuperar no futuro, mas a fotografia do momento não lhes é muito favorável.
A pesquisa Quaest de setembro, por exemplo, escancarou o desgaste: 76% dos brasileiros preferem que outro nome que não Bolsonaro represente a direita em 2026, sinalizando uma fadiga política que transcende a inelegibilidade. A rejeição a uma eventual anistia do ex-presidente também cresceu — 58% são contra qualquer tipo de perdão institucional a Bolsonaro, uma percepção que existe mesmo entre eleitores conservadores.
Os mais radicais, no entanto, não acreditam nessas pesquisas. É, evidentemente, um direito deles. Mas um empresário confiaria apenas em seu próprio instinto? Talvez não. O que faria um executivo tarimbado em uma situação dessas? Provavelmente contrataria uma pesquisa independente para checar esses dados. Mas não é o que a direita brasileira prefere fazer. Simplesmente embarca em uma narrativa e vai em frente.
Para piorar, as mentes mais preparadas e estratégicas do conservadorismo nacional ficam submersas durante a troca de tiros proporcionada pela polarização, afastadas pelos brucutus do radicalismo. É preciso resgatar a sabedoria desses líderes e trazer um pouco mais de tática refinada para compensar o protagonismo dos mais exaltados.
A direita brasileira, assim, vive hoje um impasse estratégico: sem Jair Bolsonaro como eixo aglutinador, suas correntes — tradicional, centrista e radical — se dispersam em disputas internas, agendas conflitantes e pré-candidaturas que se anulam mutuamente. Em vez de construir pontes, brigam pelo espólio político do ex-presidente, enfraquecendo a capacidade de articulação e abrindo espaço para adversários como Lula. Falta ao grupo um líder estrategista, alguém que consiga ter uma habilidade frequente nos empreendedores: a ambidestria, a capacidade de lidar com problemas do cotidiano e, ao mesmo tempo, lançar sementes para preparar o futuro.
A fragmentação da direita brasileira revela o distanciamento entre discurso e prática de seus próprios princípios capitalistas. Se verdadeiramente acreditam nos valores do capitalismo — mérito, eficiência e resultados mensuráveis —, seus líderes deveriam atuar na política do mesmo modo: unificando estratégias, premiando vitórias concretas, analisando as razões dos fracassos e buscando sempre a reformulação. O excesso de facções e a incapacidade de construir alianças sólidas mostram o quanto a direita se perde em disputas e personalismos, desperdiçando oportunidades sólidas de aprendizado.
É evidente que, neste universo político, é preciso de uma sensibilidade própria dos congressistas, dirigentes partidários, prefeitos e governadores. Mas uma mentalidade empresarial (segundo a qual consensos são metas estratégicas e derrotas servem de parâmetros para a evolução de projetos) adaptada à esfera pública teria a capacidade de gerar resultados positivos duradouros. Essa seria uma vantagem competitiva que a esquerda dificilmente conseguiria capacidade de copiar – por motivos mais que óbvios.