O Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira (30) em queda, revertendo o movimento positivo observado pela manhã e refletindo a piora do humor internacional. A ameaça de paralisação do governo norte-americano (shutdown), a queda do petróleo e ajustes técnicos no câmbio ditaram o tom da sessão.
Destaques do fechamento
- O índice fechou em campo negativo, após abrir em forte alta, influenciado pelo cenário externo mais adverso.
- O dólar avançou levemente frente ao real, refletindo tanto fatores técnicos domésticos quanto o ambiente internacional mais tenso.
- Entre as ações que mais pressionaram o índice estiveram Petrobras e outras petroleiras, afetadas pela queda da cotação do barril.
- O volume financeiro negociado se manteve elevado, sinalizando ainda forte participação de investidores estrangeiros.
Fatores que influenciaram o dia
- Risco de shutdown nos EUA
A crescente possibilidade de paralisação do governo norte-americano trouxe cautela aos mercados globais, levando investidores a buscar ativos mais seguros, como o dólar e os Treasuries. - Dados econômicos norte-americanos
O relatório JOLTS mostrou mais vagas abertas do que o previsto, reforçando a ideia de que o mercado de trabalho segue aquecido. Esse dado fortalece a expectativa de juros altos por mais tempo, algo visto como negativo pelos mercados de risco. - Formação da Ptax e câmbio
No Brasil, a formação da Ptax contribuiu para a pressão de alta no dólar, que subiu levemente no dia. - Queda do petróleo
A desvalorização da commodity pesou sobre ações ligadas ao setor de energia, em especial Petrobras, que figurou entre as principais quedas do índice.
Análise do mercado
Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, explicou:
“Temos dois fatores centrais atuando em conjunto. De um lado, o cenário internacional ficou mais pesado, com bolsas virando para o negativo diante da crescente possibilidade de um shutdown nos Estados Unidos. Isso gera cautela global e aumenta a procura por ativos mais seguros, o que costuma valorizar o dólar. De outro lado, aqui dentro, a formação da Ptax puxou o câmbio para cima, já que nas janelas de apuração vimos um movimento consistente de alta. Por isso, vemos o dólar em leve alta hoje.
A isso se soma a preocupação adicional depois das falas de Donald Trump, que reforçou a chance de paralisação do governo americano ao afirmar que ‘provavelmente’ ela vai acontecer. Ou seja, o movimento não é apenas técnico da Ptax, mas também reflexo de um ambiente externo mais tenso, o que explica essa leve apreciação do dólar.
O JOLTS veio acima do esperado, sinalizando um mercado de trabalho ainda aquecido (…). Mesmo assim, o JOLTS não foi recebido de forma positiva, pois fortalece a tese de juros altos por mais tempo, algo que adiciona uma camada de cautela ao cenário.
No começo do dia, a Bolsa chegou a descolar do cenário internacional e abriu em forte alta (…). Aos poucos, o mercado voltou a se alinhar ao humor externo, que piorou diante da ameaça de shutdown nos EUA. A queda do petróleo também pesou, sobretudo em Petrobras e outras petroleiras, o que ajudou a virar o índice para o campo negativo. Sem dúvidas, a pressão internacional acabou prevalecendo, trazendo a Bolsa de volta para perto das mínimas do dia.
No mês, em setembro, sem dúvida, tivemos um cenário de otimismo global, puxado pela expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos (…). Hoje vemos claramente o reflexo do impasse em relação ao shutdown. O Ibovespa recua e o dólar sobe, acompanhando a cautela global (…). O que faz preço mesmo hoje são as questões externas como shutdown, tarifas propostas por Trump e expectativas sobre a política monetária americana.”
Perspectivas
Apesar da cautela predominante no pregão, analistas apontam que o fluxo estrangeiro continua positivo para a Bolsa brasileira, sustentado pela atratividade dos juros reais elevados no país. No curto prazo, no entanto, a volatilidade deve permanecer alta, em função da reunião do Fed e da definição sobre o shutdown nos EUA.