Há um mês, a Avenue passou a oferecer aos brasileiros os ETFs UCITS, conhecidos como “ETFs irlandeses”. Desde então, a procura superou as expectativas da corretora: cerca de 8 mil clientes investiram em pelo menos um dos 80 produtos listados desde o lançamento. “Sabíamos que seríamos os primeiros a trazer esse produto para o país. A adesão foi além do que esperávamos”, afirmou Alexandre Artmann, COO da Avenue, em evento para jornalistas.
Para viabilizar a negociação, foram necessários aproximadamente seis meses de adaptação tecnológica e regulatória. A integração permitiu que investidores brasileiros passassem a operar diretamente na Bolsa de Londres, sem a necessidade de intermediários adicionais.
As operações seguem o horário das bolsas europeias, das 4h às 12h30 (horário de Brasília), e contam com liquidação em dois dias úteis.
O diferencial tributário
O grande atrativo dos ETFs irlandeses está na forma como os rendimentos são tratados. Nos Estados Unidos, dividendos distribuídos aos investidores sofrem retenção na fonte, que pode chegar a 30%, e o investidor decide se reinveste ou não. Já nos ETFs UCITS, os proventos são automaticamente reinvestidos pelo gestor dentro do próprio fundo.
Esse modelo de fundos acumuladores posterga a tributação para o momento da venda da cota. Além disso, a retenção na Europa varia de 0% a 15%, dependendo da estrutura, reduzindo a perda de rentabilidade no longo prazo.
Proteção contra o estate tax
Outro ponto de destaque é a sucessão patrimonial. Por serem domiciliados fora dos Estados Unidos, os ETFs UCITS não estão sujeitos ao chamado estate tax — imposto de herança americano que pode chegar a 40% sobre o valor investido por estrangeiros.
Essa regra sempre foi um entrave para investidores brasileiros de maior patrimônio, que buscavam alternativas para evitar esse risco sucessório. Agora, os ETFs irlandeses surgem como uma solução viável para essa preocupação.
A visão da gestora
Grande parte dos produtos oferecidos pela Avenue é administrada pela BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. Para a empresa, a entrada dos ETFs UCITS no Brasil gera mudanças significativas no comportamento do investidor. “Devemos ver dois movimentos: novo dinheiro chegando para um instrumento mais eficiente e investidores migrando de produtos americanos para o ambiente europeu”, avaliou Cristiano Castro, diretor de desenvolvimento de negócios da BlackRock.
Mercado em expansão

O avanço no Brasil ocorre em meio ao crescimento global do setor. Em 2024, os ETFs registraram entradas recordes de US$ 1,9 trilhão, elevando o volume sob gestão para US$ 14,7 trilhões. Em meados de 2025, esse montante já ultrapassa US$ 17 trilhões, distribuídos em mais de 14 mil produtos listados em 81 bolsas ao redor do mundo.
Na Europa, os ETFs UCITS vêm ganhando força: captaram € 261 bilhões em 2024 e já somam € 270 bilhões em 2025 (até setembro), com mais de um terço desse volume sob gestão da BlackRock.
No Brasil, por outro lado, o mercado de ETFs ainda é pequeno. Somando todos os produtos listados na B3, o patrimônio está em torno de R$ 65 bilhões, equivalente a menos de 1% da indústria de fundos local. O contraste mostra o potencial de crescimento que a Avenue pretende explorar.
Desafios e próximos passos
Apesar do avanço, especialistas apontam que o desafio agora é educacional. Muitos investidores brasileiros ainda desconhecem as diferenças entre ETFs americanos e UCITS, bem como seus impactos tributários. “A parte educacional é fundamental. Temos feito eventos e trabalhado com a imprensa para explicar as vantagens do produto”, destacou Artmann.
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