O relatório Focus desta semana trouxe sinais de melhora nas expectativas para o câmbio e para a inflação, embora riscos geopolíticos ainda permaneçam no radar. A depender do desenrolar da relação entre Brasil e Estados Unidos, após as recentes sinalizações do presidente Donald Trump, analistas avaliam que o risco altista para o dólar pode se reduzir, permitindo a retomada da tendência de depreciação global da moeda americana.
Segundo o economista Maykon Douglas, o movimento é relevante, pois conecta diretamente câmbio e inflação. “Se a boa química entre os governos se mantiver, o mercado volta a precificar um dólar mais fraco, o que ajuda a consolidar uma trajetória de inflação em queda. Mas esse alívio ainda depende de cautela, já que os riscos externos não desapareceram”, avalia.
O que o Focus revelou nesta semana?
O levantamento mostrou revisão para baixo nas expectativas do dólar em 2025 e 2026, com o câmbio projetado em R$ 5,48 neste ano. Para 2026, a projeção caiu para R$ 5,58. Essa redução, contudo, não se estendeu aos prazos mais longos, 2027 e 2028 permaneceram estáveis em torno de R$ 5,56. No caso da inflação, o IPCA recuou para 4,81% em 2025 e para 4,28% em 2026. Porém, as projeções longas continuam acima da meta, em 3,90% para 2027 e 3,70% em 2028, níveis considerados elevados frente ao centro do objetivo oficial. “Isso mostra quão necessário é que o Copom mantenha o discurso cauteloso e evite a precificação de cortes prematuros nos juros diante desse cenário de hiato do PIB positivo e de aperto no mercado de trabalho“, destaca o economista.
Principais atualizações do Focus
Indicador | 2025 | 2026 | 2027 | 2028 |
---|---|---|---|---|
IPCA (%) | 4,81 | 4,28 | 3,90 | 3,70 |
PIB (%) | 2,16 | 1,80 | 1,90 | 2,00 |
Câmbio (R$/US$) | 5,48 | 5,58 | 5,56 | 5,56 |
Selic (% a.a.) | 15,00 | 12,25 | 10,50 | 10,00 |
Dívida Líquida (% PIB) | 65,8 | 70,1 | 73,9 | 76,1 |
Resultado Primário (% PIB) | -0,51 | -0,60 | -0,40 | -0,18 |
Qual é a leitura do mercado para frente?
Além da relação entre câmbio e inflação, o Focus também reforçou expectativas de crescimento moderado para o PIB, com projeção de 2,16% em 2025 e queda para 1,8% em 2026. Enquanto isso, o setor externo mostra déficit em conta corrente de US$ 68,32 bilhões e superávit comercial de US$ 64,60 bilhões para 2025. Os números apontam equilíbrio, mas ainda exigem atenção em função da volatilidade internacional. Nesse sentido, o relatório Focus continua sendo um guia essencial para investidores e autoridades, ao refletir não apenas números, mas também a percepção do mercado diante das incertezas globais e domésticas.