O mercado de trabalho brasileiro apresentou sinais de desaceleração em agosto. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), foram criadas 147.358 vagas formais no mês, número abaixo da mediana das projeções, que apontava 181.950 postos. O resultado também representa queda em relação a agosto de 2024, quando haviam sido gerados 232.513 empregos. Pelo dado sem ajuste sazonal, o saldo foi de apenas 68 mil vagas, o menor deste ano. E o menor para o mês, desde 2020.
No acumulado de 2025, o saldo é positivo em 1,50 milhão de empregos, enquanto nos últimos 12 meses o ganho é de 1,44 milhão de vagas. O estoque total de vínculos celetistas ativos atingiu 48,7 milhões, o que representa crescimento de 0,27% frente a julho.
Caged: Quais setores puxaram a geração de empregos?
A expansão foi concentrada em quatro dos cinco principais grupamentos econômicos. O setor de Serviços liderou a criação de vagas, com 81 mil novos postos, seguido por Comércio (32,6 mil), Indústria (19,1 mil) e Construção (17,3 mil). Apenas a Agropecuária registrou queda, com perda de 2,7 mil vagas. Dentro dos serviços, destacaram-se as áreas de administração pública, educação, saúde e seguridade social (+39 mil), além de alojamento e alimentação (+11,5 mil).
Desempenho regional e evolução salarial, segundo o Caged
Todas as cinco regiões brasileiras apresentaram saldos positivos em agosto. O Sudeste respondeu por 63,7 mil novas vagas, seguido pelo Nordeste (+55,3 mil), Norte (+12,1 mil), Centro-Oeste (+11,5 mil) e Sul (+4,7 mil). Em termos estaduais, os maiores saldos foram registrados em São Paulo (+45,5 mil), Rio de Janeiro (+16,1 mil) e Pernambuco (+12,7 mil). Apenas Rio Grande do Sul (-1,6 mil) e Roraima (-262) tiveram desempenho negativo.
O salário médio real de admissão ficou em R$ 2.295,01, com alta de 0,56% em relação a julho. Houve avanço nos setores de indústria (+1,8%) e administração pública/educação/saúde (+1,9%), enquanto construção (-1,3%) e agropecuária (-0,7%) registraram recuos.
O que dizem os especialistas?
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado confirma a perda de fôlego da economia. “O resultado de 147 mil novas vagas em agosto reforça que a economia brasileira ainda consegue gerar empregos, mas o ritmo bem menor em relação ao ano passado mostra um sinal claro de desaquecimento. Quando o emprego desacelera, é porque as empresas já estão sentindo os efeitos de crédito restrito, margens pressionadas e menor confiança para expandir.”
André Matos, CEO da MA7 Negócios, vê no cenário um convite à reorganização. “O dado mostra resiliência, mas o fato de ser o pior agosto desde 2020 indica que a economia está avançando em ritmo mais lento. Esse quadro pressiona empresas a repensarem sua forma de operar, reforçando a disciplina de custos e a eficiência como pilares para preservar margens e competitividade.”
Já Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, acrescenta que os ciclos mais fracos exigem visão estratégica. “Nos ciclos de menor intensidade econômica, são justamente as organizações que conseguem cortar desperdícios e elevar performance interna que preservam empregos e se colocam em posição privilegiada para capturar oportunidades futuras.”
Perspectivas
Os dados do Caged de agosto reforçam um movimento de moderação no mercado de trabalho brasileiro. Embora o saldo positivo continue sendo um indicativo de resiliência, a desaceleração no ritmo de criação de vagas acende sinais de alerta para empresas e formuladores de políticas públicas. O desafio, segundo os especialistas, será transformar o momento de menor fôlego em oportunidade de eficiência e preparo para o próximo ciclo de expansão econômica.