O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, avalia que a leitura do PCE veio “tranquila”, em linha com o consenso, ajudando a esfriar a escalada recente dos yields nos EUA. Além disso, após uma sequência de dados de atividade mais fortes, PMI, vendas de casas e revisão do PIB, o mercado reprecificou parte do otimismo com cortes de juros mais agressivos. Nesse sentido, o alívio de hoje não apaga o recado da semana: a economia segue resiliente e o Fed tem menos espaço para acelerar a flexibilização.
Por outro lado, William aponta que a comunicação do Fed segue orientando corte na reunião de outubro, com grande chance de um segundo em dezembro. Enquanto isso, a trajetória posterior dependerá do mercado de trabalho, o foco saiu da inflação (mais comportada) e migrou para emprego e renda. Em suma, os próximos prints de JOLTS, ADP e payroll devem “dizer quanto de juros cabe” em 2025, evitando extrapolações sobre um ciclo muito profundo.
O que os dados da semana contam sobre a trajetória dos juros?
Ao longo da semana, a fotografia macro veio robusta, PMI acima do esperado, vendas de casas novas e usadas surpreendendo e pedidos de auxílio-desemprego ligeiramente abaixo do consenso. Além disso, a revisão em alta do PIB do 2º trimestre reforçou o quadro de atividade firme, puxando os yields para cima e limitando a precificação de cortes agressivos. Nesse sentido, o PCE em linha funcionou como um “freio de arrumação”, acalmando ânimos sem, contudo, reverter a mensagem central de resiliência.
Para William, o desfecho prático é um “caminho do meio”: flexibilização monetária, sim, mas calibrada. Por outro lado, a sinalização prospectiva do Fed sugere que, após os primeiros passos, o ciclo tende a ser raso, com taxa terminal de longo prazo orbitando a faixa de 3,25% a 3,50%, se as condições permitirem. Enquanto isso, qualquer surpresa de atividade pode atrasar cortes, e qualquer arrefecimento mais nítido do trabalho pode, ao contrário, abrir espaço adicional.
Corte de juros em outubro é dado? E depois?
Segundo William, o guidance do Fed embute elevada probabilidade de corte em outubro, seguido de novas chances em dezembro. Além disso, o chair Jerome Powell descreveu o último movimento como um “ajuste de risco”, ou seja, um adiantamento tático caso o mercado de trabalho esfrie mais rápido. Nesse sentido, o debate deixa de ser “se” haverá flexibilização e passa a ser “quanto” e “por quanto tempo”.
- Outubro: alta probabilidade de corte, coerente com a comunicação recente.
- Dezembro: viés favorável a mais um corte, condicionado aos dados de emprego e atividade.
- Após 2025: trajetória menos certa; projeções do Fed indicam ritmo contido e taxa de longo prazo perto de 3,25%–3,50%.
Mercado: respiro saudável ou mudança de tendência?
Depois de máximas sucessivas, o S&P 500 realizou em “modo respiro”, com leve valorização do dólar e avanço dos yields ao longo da semana. Além disso, William ressalta que a alta acumulada desde a correção de abril supera 30%, tornando plausível um ajuste técnico sem necessariamente romper a tendência de médio prazo. Nesse sentido, o combo “PCE em linha + dados de atividade firmes” sustenta uma pausa, não um novo bear market.
Por outro lado, a assimetria de curto prazo recomenda cautela tática: valuations esticados ficam mais sensíveis a surpresas macro que alterem o mapa de juros. Enquanto isso, setores mais dependentes de duration (tecnologia e crescimento secular) tendem a oscilar ao sabor dos yields, ao passo que segmentos cíclicos respondem mais a sinais de atividade.
Quais dados podem mexer com os juros nas próximas leituras?
Com a inflação menos ruidosa, o holofote está no emprego. Além disso, a sequência de divulgações pode redesenhar a curva em questão de dias, reforçando ou suavizando a aposta em cortes.
- JOLTS: abre a semana com a fotografia de vagas abertas e churn do mercado de trabalho.
- ADP: termômetro do emprego no setor privado; não é perfeito, mas costuma moldar expectativas.
- Payroll: peça central do quebra-cabeça; salários e criação líquida guiam a leitura de pressão de demanda.
Como o investidor pode navegar este ciclo de juros?
William sugere evitar extremos: nem contar com um afrouxamento “turbo”, nem ignorar que o ciclo começou. Além disso, disciplina de processo importa mais que “adivinhar” a próxima reunião: acompanhar emprego, salários, consumo e condições financeiras ajuda a entender a inclinação dos juros. Nesse sentido, duration deve ser calibrada com parcimônia; a diversificação entre qualidade, caixa saudável e temas cíclicos bem precificados tende a amortecer ruídos.
Por outro lado, o curto prazo segue headline-driven: movimentos bruscos em yields e dólar podem gerar volatilidade tática em ativos de risco. Enquanto isso, o investidor que foca horizonte mais longo se beneficia de entradas graduais, preferindo métricas de lucro e balanço a narrativas de momento. Em qualquer cenário, monitorar o balanço entre inflação (em arrefecimento) e emprego (em avaliação) continua sendo o mapa para entender a velocidade dos cortes.
Juros em modo “calibrar”, não “acelerar”
O PCE em linha trouxe fôlego, mas a semana lembrou que a economia americana segue resiliente. Além disso, a leitura de William Castro Alves converge para um ciclo de juros com começo evidente (outubro/dezembro) e profundidade ainda em aberto, dependente do mercado de trabalho. Nesse sentido, o investidor deve respeitar o dado — e não o desejo —, evitando extrapolações. Por outro lado, pausas técnicas em bolsa após forte rali são naturais e, sozinhas, não definem tendência. Enquanto isso, pragmatismo e método seguem sendo os melhores aliados até que os próximos prints de emprego digam quanta flexibilização realmente cabe em 2025.