O Ibovespa encerrou o pregão de hoje em 145.306 pontos, com queda de 0,81%. O movimento ocorre após dias de sucessivos recordes e foi marcado por ajustes técnicos, realização de lucros e aumento da cautela entre investidores. A volatilidade predominou, refletindo tanto fatores internos quanto externos.
Além disso, a sessão foi fortemente influenciada pela queda da Ambipar (AMBP3), que chegou a despencar mais de 50% antes de reduzir parte das perdas. Investigações da CVM, saída do CFO e pressões de credores agravaram a desconfiança sobre a governança da empresa, colocando seus papéis no centro das atenções.
O que dizem os analistas sobre a crise da Ambipar?
Para Júlio Borba, analista da Options & Co., a queda reflete problemas estruturais de governança e alavancagem:
“A Ambipar subiu muito no passado porque suas ações foram usadas pelo Banco Master em exigências de capital. Isso inflou os preços. Agora, com dívidas em dólar e necessidade de swaps, a empresa é pressionada a aportar um capital que não tem. Sem isso, pode enfrentar insolvência ou até recuperação judicial.”
O analista ainda alertou: “Não dá para ter otimismo. Já recomendávamos evitar antes da queda. Também não faz sentido entrar vendido, porque o free float sumiu. O mais prudente é ficar de fora.”
Como a macroeconomia influencia o mercado neste momento?
Segundo Flávio Conde, head de renda variável da Levante, os últimos dados macroeconômicos reforçam a expectativa de estabilidade dos juros no Brasil e cortes graduais nos EUA:
- Brasil: IPCA-15 em 0,48% (esperado 0,51%), acumulando 5,30% em 12 meses.
- EUA: PCE em 2,6% (esperado 2,5%) e PIB revisado de 3,3% para 3,8% no 2º trimestre.
“Isso não muda a trajetória de juros: Selic deve ficar em 15% até o fim do ano, e o Fed deve cortar 0,25 em outubro e mais 0,25 em dezembro. Esse movimento será positivo para as bolsas e tende a enfraquecer o dólar”, explicou Conde.
Quais ações chamaram atenção no pregão de hoje?
Além da Ambipar, outras companhias também se destacaram na análise de Flávio Conde:
- Raízen (RAIZ4): não é oportunidade; dívida de R$ 63 bi bruta e R$ 49 bi líquida pesa nos resultados.
- Azul (AZUL4): setor aéreo é arriscado; custos em dólar inviabilizam modelo sustentável.
- Assaí (ASAI3): queda de 6% por disputa de R$ 36 mi; mercado retirou R$ 650 mi, reação considerada exagerada.
- Usiminas (USIM5): resultados fracos, mas excesso de importação de aço chinês/turco pressiona setor; pode valer posição parcial.
O que esperar do Ibovespa nos próximos pregões?
Enquanto isso, a expectativa é de cautela até a reunião entre Lula e Donald Trump na próxima semana. Para Flávio Conde, o viés é positivo, com chance de redução de tarifas em alguns produtos, o que poderia impulsionar o mercado. Já a médio prazo, o ciclo de queda de juros nos EUA pode trazer liquidez global para emergentes, beneficiando especialmente o Brasil.
“Estamos num momento de alta estrutural para a bolsa. O Brasil negocia a um P/L entre 8 e 9, contra 25 nos EUA e 18 na Ásia. Com a Selic em queda, o Ibovespa deve encontrar espaço para novas valorizações”, concluiu o analista.