A bolsa brasileira voltou a renovar máximas nesta semana, em um movimento influenciado pelo ambiente internacional mais favorável e pelas especulações sobre uma possível aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. Apesar das incertezas, o mercado acionário segue beneficiado pelo fluxo de capital estrangeiro e pelo otimismo global diante da expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos.
Em entrevista ao BM&C News, o economista Alex André destacou que o avanço da bolsa reflete muito mais o cenário macroeconômico internacional do que um fator isolado relacionado à política brasileira. “A sinalização de diálogo entre Trump e Lula ajuda a criar narrativas positivas, mas não é determinante para os recordes recentes do índice“, analisa.
O que explica o movimento da bolsa?
De acordo com Alex André, o principal motor da alta das bolsas globais é a perspectiva de flexibilização monetária pelo Federal Reserve. “O Fed abriu a porteira para cortes de juros, e isso impulsiona a busca por risco. O investidor passa a comprar bolsa americana, brasileira e de outros emergentes. Com isso, moedas ganham força e os índices acionários renovam máximas”, explicou.
No Brasil, a valorização recente é também resultado da defasagem em relação a outros mercados. Enquanto bolsas desenvolvidas já vinham se valorizando, a brasileira ainda apresentava atraso, o que agora vem sendo corrigido. “O movimento atual fecha esse gap, e a bolsa brasileira aproveita o fluxo estrangeiro”, disse o economista.
A aproximação entre Lula e Trump influencia a bolsa?
O encontro entre Lula e Trump, com direito a elogios e especulações sobre uma agenda conjunta, foi interpretado por parte do mercado como um sinal positivo. No entanto, Alex André pondera que o impacto direto foi limitado. “Não foi esse o motivo para a bolsa bater recorde. O índice já vinha em trajetória de alta e cada ponto a mais representa um novo topo histórico. O episódio reforçou expectativas, mas não foi o protagonista”, afirmou.
Segundo ele, há risco de exagero na forma como manchetes associaram a alta da bolsa exclusivamente ao gesto de Trump. “É perigoso colocar esse peso em cima de um comentário de 20 ou 30 segundos. O contexto global é que explica a força do mercado de renda variável”, ressaltou.
Quais fatores pesam no radar do mercado?
O economista destacou que, além da política monetária americana, há outros elementos que contribuem para a valorização da bolsa brasileira:
- Força das moedas emergentes frente ao dólar.
- Expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve.
- Fluxo de capital estrangeiro buscando ativos de risco.
- Correção da defasagem da bolsa brasileira em relação a outros mercados.
Por outro lado, a política fiscal brasileira segue como ponto de preocupação. Alex André lembrou que o governo ainda não apresentou soluções consistentes para o equilíbrio das contas públicas. “O governo gasta mais do que deveria, e isso mantém a apreensão dos investidores. A alta da bolsa não pode ser lida como uma aprovação da política fiscal”, avaliou.
Política e economia caminham juntas?
Na avaliação de Alex André, a cena política internacional e os discursos entre líderes podem influenciar expectativas, mas não substituem fundamentos econômicos. “O governo Lula não contribuiu diretamente para essa aproximação. Quem articulou foram empresários e grupos de lobby próximos a Trump. A diplomacia brasileira ficou em segundo plano”, analisou.
Ele acrescentou que a política internacional funciona muitas vezes como um espetáculo, no qual gestos e declarações têm peso simbólico, mas os efeitos práticos dependem de negociações concretas. “O elogio pode trazer esperança, mas o que realmente fará diferença são medidas efetivas, como redução de tarifas e acordos comerciais”, disse.
O que esperar para a bolsa nos próximos meses?
Apesar do otimismo recente, Alex André recomenda cautela. Segundo ele, ainda há muitas incertezas no cenário fiscal doméstico e na política internacional. “O mercado pode continuar testando novas máximas, mas não se deve ignorar os riscos. Uma agenda de cortes de juros no Brasil e nos Estados Unidos pode sustentar o movimento, mas a falta de disciplina fiscal pode frear a atratividade do país”, alertou.
Assim, o avanço da bolsa brasileira deve ser visto como reflexo de um contexto global de maior apetite por risco, mais do que resultado de uma aproximação pontual entre líderes políticos. Para os investidores, a recomendação é acompanhar de perto tanto os desdobramentos da política monetária quanto a evolução do cenário fiscal doméstico.