A Ambipar entrou com pedido de tutela cautelar no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) para evitar o vencimento antecipado de dívidas que podem chegar a quase R$ 11 bilhões. O movimento ocorre após pressões de credores internacionais, sobretudo o Deutsche Bank, que exigiu garantias adicionais devido a perdas com contratos de swap e desvalorização de títulos da companhia.
O banco alemão, que tem exposição de aproximadamente US$ 550 milhões à Ambipar, chegou a cobrar aportes imediatos estimados em R$ 60 milhões, além de já ter provocado desembolsos superiores a R$ 200 milhões. A decisão da Justiça concedeu uma liminar que suspende a cobrança por 30 dias, período em que a empresa tentará renegociar com seus credores. Caso contrário, o risco de uma recuperação judicial se torna mais próximo.
Em fato relevante, a empresa justificou que o objetivo da medida judicial é propiciar a continuidade das atividades empresariais e proteger os ativos do grupo enquanto busca junto aos credores alternativas viáveis para equacionar seus compromissos financeiros. Veja aqui a íntegra do comunicado enviado ao mercado.
Operações financeiras complexas e riscos cambiais
A origem da crise está relacionada a operações com green bonds, emitidos em dólar, e derivativos de swap cambial. Segundo o analista Julio Souza Borba, da Options & Co, a Ambipar buscou proteger-se da volatilidade entre dólar e real, já que boa parte de sua receita é gerada em reais. No entanto, a estratégia expôs a empresa a exigências adicionais de garantias quando os preços de mercado se moveram contra suas posições.
“A situação da Ambipar envolve complexas operações financeiras e desafios de governança. Foi concedido um prazo de 30 dias para regularizar a situação, sob risco de entrar em recuperação judicial e gerar impactos negativos para seus credores”, afirmou Borba. O especialista acrescenta que o momento é de cautela: “A recomendação para investidores é encerrar posições no papel. A posição neutra parece ser a alternativa mais prudente neste momento.”
Governança e mudanças internas agravam a percepção de risco
Além dos riscos financeiros, a companhia enfrenta turbulências na governança. A saída do diretor financeiro e a decisão de lançar até R$ 3 bilhões em debêntures para recomprar títulos no mercado aumentaram a desconfiança entre investidores. Para Borba, esses fatores revelam “questões sobre a real representação do patrimônio” e limitam a confiança na estratégia corporativa da empresa.
Impacto imediato no mercado
Nesta quinta (25), a empresa brasileira de soluções ambientais teve um desempenho ruim na Bolsa. No pior momento, os papéis chegaram a recuar mais de 50 %, e fecharam com queda de 24,24 %. No acumulado de 2025, a desvalorização já supera 58%.
O UBS BB reafirmou recomendação neutra para as ações da Ambipar, com preço-alvo de R$ 12. O banco destacou que a liminar concedida pelo TJ-RJ confirma preocupações recorrentes do mercado em relação à governança e ao nível de alavancagem da companhia. “O cenário reforça a visão de que o risco de crédito da empresa permanece elevado”, pontuou em relatório.
Perspectivas para investidores
O caso da Ambipar reúne uma combinação de fatores que amplia a percepção de risco: alta alavancagem, governança fragilizada, pressões cambiais e forte volatilidade no preço das ações. Diante desse quadro, analistas convergem para uma posição de cautela.
Segundo Borba, para quem já obteve ganhos com a queda das ações, “o momento é de realizar lucros”. Para novos investidores, a ausência de visibilidade sobre a real extensão do problema torna a exposição pouco atrativa.
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