O xadrez político brasileiro pode ter sofrido uma reviravolta significativa após o presidente Donald Trump abrir uma porta de diálogo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e no centro deste tabuleiro está o deputado Eduardo Bolsonaro. Durante muito tempo, o parlamentar se considerou o único interlocutor de seu país junto à casa Branca (juntamente com o influenciador Paulo Figueiredo). “Sou o único brasileiro que tem acesso à Casa Branca – e isso incomoda muitos no Brasil”, publicou na plataforma X em 25 de agosto. O discurso de Trump na Organização das Nações Unidas, no entanto, pode indicar que está na hora de se iniciar uma conversa oficial com o governo brasileiro, esvaziando a eventual influência de Eduardo junto à esfera americana de poder.
Este revés vem justamente em uma semana na qual o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro não foi aceito pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, como líder da minoria, uma manobra que o isentaria das faltas registradas no plenário. Longe do Brasil, vivendo um “autoexílio” nos Estados Unidos, Eduardo se tornou alvo de processos por ausência parlamentar e corre o risco de perder o mandato justamente por conta da estadia prolongada em Arlington, Texas, onde está morando.
Poucos dias atrás, enfrentou outro contratempo: a Procuradoria-Geral da República o denunciou ao Supremo Tribunal Federal (Paulo Figueiredo também) por coação no processo que julgou o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe. Segundo a denúncia, eles usaram sanções econômicas nos Estados Unidos para pressionar o STF e evitar a condenação. O ministro Alexandre de Moraes deu 15 dias para que os denunciados se manifestem.
Eduardo tentou minimizar publicamente os acenos de Trump a Lula, descrevendo-os como fruto da “genialidade negociadora” do republicano. O clima entre políticos da base conservadora, entretanto, é de preocupação crescente com o isolamento estratégico do deputado neste novo cenário. Ao adotar bandeiras como sanções econômicas contra o próprio país e manter o tom beligerante nas redes sociais mesmo diante da mudança de ventos em Washington, o deputado flerta com a irrelevância – e pode ser lembrado mais como um símbolo da radicalização de 2018 a 2022 do que como opção política para o futuro.
Ele, porém, ainda não desistiu de ser candidato à presidência em 2026 e, se insistir nessa ideia, pode dividir os votos oposicionistas no primeiro turno. Muitos deputados acreditam que o colega tem plena consciência de que será derrotado no ano que vem, caso entre na disputa, e que pode proporcionar uma vitória a Lula. Mas seu verdadeiro objetivo seria o pleito de 2030, quando ele poderia ressurgir como um nome de peso para o eleitorado de direita.
Mas, antes que isso ocorra, deve enfrentar um processo de cassação na Câmara. Sobre isso, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou o seguinte em seu editorial de ontem: “Os atos de Eduardo Bolsonaro estão longe, portanto, de se qualificar como mero exercício de opinião e manifestação de pensamento, como sugerem certos paladinos da liberdade de expressão que tentam encontrar meios de blindar parlamentares de crimes que cometem. Não há outra definição para o que Eduardo fez e faz dia e noite: coagir o Judiciário e conspirar contra o próprio país. É por esse crime, e não por faltas, que ele precisa ser cassado.”
Uma frase de Winston Churchill define com precisão o estilo do deputado: “A teimosia é uma virtude quando se defende princípios, mas um vício quando se resiste à razão.” Os últimos atos de Eduardo Bolsonaro revelam uma obstinação que ultrapassa o limite da convicção e mergulha na negação da realidade. Essa postura não apenas compromete a credibilidade do Legislativo, como também enfraquece os pilares democráticos ao transformar o debate público em um campo de manobras pessoais.