A esquerda foi às ruas e a direita tomou as redes sociais. Esse é um resumo básico das reações à aprovação da PEC da Blindagem na Câmara, o texto que exige autorização do Congresso para processar parlamentares e permite que prisões em flagrante sejam revistas em votação secreta. O espírito de corpo em torno da emenda foi tão grande que amealhou votos dos deputados de esquerda, incluindo doze do PT.
A PEC, mesmo com o apoio de alguns parlamentares petistas, mexeu com a esquerda, que organizou atos em dezenas de cidades, com artistas, políticos e movimentos sociais. Foi um movimento midiático e conveniente. A PEC virou uma chance de reposicionamento moral, depois de tantos anos de desgaste com escândalos como o Mensalão e Lava Jato.
Como estamos em um mundo polarizado, a reação dos setores mais extremistas da direita foi o de tentar defender o indefensável – já que a esquerda abraçou primeiro a bandeira contrária à blindagem dos congressistas. Muitos bolsonaristas repisaram o velho argumento de que a PEC só foi aprovada por conta da atuação do Supremo Tribunal Federal e, em especial, a do ministro Alexandre de Moraes. Com isso, mais uma vez, a temperatura dos debates digitais começou a disparar.
Ao sentir a pressão, parlamentares do PL e Republicanos resolveram justificar a PEC, falando em “excessos do STF”, “equilíbrio entre os poderes” e “restauração do texto original da Constituição” (alguns influenciadores igualmente entraram em campo: uns fazendo posts em cima do muro, outros sendo mais explícitos). Muitos desses políticos, porém, vociferavam contra a bandidagem durante a campanha de 2018. Agora, contudo, querem estabelecer o voto secreto pra decidir se um colega pode ou não ser algemado.
Os extremos dos dois lados viram na PEC um pretexto para trabalhar a própria imagem. A esquerda usou o texto para se posicionar como uma espécie de vitrine de virtude. Já a direita brandiu a proposta de emenda como um escudo contra o Judiciário. Nenhum dos dois, no entanto, falou sobre o que realmente importa: o cidadão comum, que não tem bancada, não tem artista famoso, não tem influenciador pra defendê-lo. A PEC não protege o povo: apenas ampara quem já está protegido demais.
E enquanto o debate gira em torno de quem gritou mais alto, se a direita ou a esquerda, o Congresso segue votando em silêncio. Todo esse processo mostra que, quando o sistema se protege, não há ideologia que separe o certo do errado. Só resta o instinto de sobrevivência e isso o Centrão tem de sobra. Nessa hora, o eleitorado vira detalhe. Um detalhe barulhento e incômodo — mas descartável. Até 2026.