O Brasil mantém-se como destaque no cenário internacional quando o assunto é carry trade. O diferencial de juros, com a Selic estacionada em 15% até pelo menos 2026, continua sendo um fator de atração para investidores em busca de retorno mais elevado. Ao mesmo tempo, o Federal Reserve já iniciou cortes de juros e sinalizou mais reduções ao longo do ano, reforçando ainda mais o apelo do mercado brasileiro.
O carry trade é uma estratégia financeira utilizada por investidores que consiste em tomar empréstimos em países com juros mais baixos e aplicar esse capital em mercados que oferecem taxas mais elevadas, buscando lucrar com o diferencial de rendimento. No caso do Brasil, a Selic em patamar alto atrai fluxo externo, pois garante retorno maior em comparação a países desenvolvidos, mesmo considerando os riscos adicionais de câmbio e de instabilidade econômica.
De acordo com Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, esse diferencial segue relevante, mas encontra limites diante de um quadro de fundamentos fiscais frágeis e incertezas eleitorais. Segundo ele, apesar do desempenho positivo do real frente ao dólar em 2025, com valorização de cerca de 14%, enquanto a moeda americana recuou 11% no cenário global, o ambiente doméstico impõe desafios para a sustentabilidade desse movimento.
Até que ponto o diferencial de juros sustenta o carry trade?
Mathias destaca que a valorização adicional do real, acima do que se observa em outras moedas, foi de apenas três a quatro pontos percentuais. Esse ganho, na visão dele, já demonstra sinais de esgotamento. “A partir do rompimento da faixa dos R$ 5,40, houve um movimento técnico que empurrou a cotação para R$ 5,30. Mas o câmbio tem limites, principalmente quando se considera o risco fiscal elevado e a incerteza política”, afirmou.
Nesse sentido, embora o diferencial de juros ainda ofereça suporte, o cenário não permite esperar que o Brasil siga recebendo fluxo além do que o movimento global já proporciona. O estrategista reforça que os fundamentos domésticos não são suficientes para ampliar o ganho cambial sem novas pressões externas.
Perspectivas para o câmbio até o fim de 2025
Além da taxa de juros, outros fatores devem influenciar o comportamento do câmbio nos próximos meses. Entre eles, destacam-se:
- Sazonalidade de fim de ano, marcada por maiores remessas e saídas de capital;
- Déficit em transações correntes, atualmente em torno de 3,5% do PIB;
- Possibilidade de cortes mais acentuados na Selic a partir de janeiro de 2026, levando a taxa para 11%.
Enquanto isso, os mercados já precificam novos cortes nos Estados Unidos, o que pode reduzir parte do apelo do carry trade brasileiro. Mathias projeta que, até meados do ano, o câmbio deve permanecer entre R$ 5,20 e R$ 5,30, mas tende a se deslocar para a faixa de R$ 5,50 a R$ 5,80 no final de 2025, diante da piora do quadro externo e doméstico.
Carry trade em foco: quais cuidados tomar?
O estrategista lembra que o câmbio é, por natureza, volátil e sujeito a movimentos inesperados. “Câmbio existe para desmoralizar economista”, disse, ressaltando a dificuldade de prever a dinâmica de curto prazo. No entanto, os próximos meses trazem riscos claros: déficit em transações correntes, incerteza eleitoral e fragilidade fiscal. Esses pontos podem anular parte do benefício do diferencial de juros.
Por outro lado, a manutenção da Selic em patamar elevado, aliada ao ambiente global de cortes pelo Fed, ainda coloca o Brasil em posição atrativa no curto prazo. A dúvida é se esse diferencial seguirá sendo suficiente para sustentar fluxos relevantes de capital, ou se a instabilidade interna limitará os ganhos do real.