Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vivem um momento de transformação no sistema financeiro brasileiro. Com patrimônio líquido de R$ 630 bilhões em maio de 2025 e projeção de alcançar R$ 1 trilhão até 2027, esses fundos deixam de atuar apenas como veículos de securitização e passam a disputar espaço diretamente com os bancos na originação de crédito. O marco mais recente dessa mudança foi a autorização da Multiplike pelo Banco Central para operar como Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI).
Segundo maior FIDC do país, com patrimônio de R$ 3,7 bilhões, a Multiplike ganha autonomia para estruturar, conceder e distribuir crédito dentro de casa, reduzindo a dependência de intermediários e aumentando a rentabilidade. “Esse reconhecimento do Banco Central reforça nossa capacidade de avançar em compliance, solidez e segurança no mercado, ao mesmo tempo em que nos permite atuar de forma mais direta no crédito”, afirma Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
Do veículo de securitização à instituição financeira
A mudança de status marca uma evolução no papel dos FIDCs. Antes, dependiam de bancos ou financeiras para gerar operações de crédito. Agora, com a possibilidade de atuar como SCFI, passam a oferecer crédito de ponta a ponta, disputando diretamente com instituições tradicionais. Isso inclui a concessão de financiamentos ao consumidor, antecipação de recebíveis, crédito estudantil e em saúde, além de captação por meio de CDBs e letras de câmbio. Diferente dos bancos, porém, não podem oferecer conta-corrente, mantendo foco exclusivo em crédito e financiamento.
Supervisão reforça credibilidade
O aval do Banco Central impõe exigências rigorosas: patrimônio líquido mínimo, idoneidade e experiência dos administradores, governança corporativa, sistemas de controle, auditoria independente e plano de negócios de cinco anos. Para Eyng, esse rigor aumenta a confiança dos investidores. “Não se trata apenas de um novo negócio dentro do grupo, mas de um selo de confiança. Os fundos deixam de ser vistos apenas como instrumentos sofisticados de crédito e passam a ocupar espaço como instituições financeiras reguladas. É um movimento que tende a se repetir com outras gestoras nos próximos anos”, afirma.
Impactos no mercado
Com operações diversificadas em setores como construção civil, agronegócio e indústria, a Multiplike agora integra a regulação do Banco Central ao seu grupo econômico, que já era supervisionado por CVM, Anbima, administradores, auditorias e agências de rating internacionais. Para o mercado, o avanço reforça a profissionalização e a competitividade dos FIDCs, que deixam de ser apenas uma alternativa sofisticada e passam a se consolidar como protagonistas na oferta de crédito no país.