Na última comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom), a linguagem adotada gerou discussões sobre os próximos passos do Banco Central em relação à política monetária. A decisão de manter a Selic em 15% e a afirmação de que o juro poderá ser elevado novamente, caso o cenário fiscal e internacional se agrave, trouxeram à tona um cenário de cautela e comprometimento com o controle da inflação.
A decisão do Copom em continuar com o ciclo de juros elevados não foi surpresa para muitos especialistas. O economista VanDyck Silveira destaca que a comunicação do Banco Central reforçou sua seriedade em atingir a meta de inflação, indicando que qualquer movimento que contrarie esse objetivo, como um eventual corte de juros, não acontecerá tão cedo. “Essa postura é uma forma do Banco Central reafirmar sua credibilidade diante do mercado“, afirma o economista. Segundo ele, a taxa de 15% de juros reais de 10% ainda é muito elevada e, paradoxalmente, tem mantido o mercado de trabalho aquecido e o desemprego em queda.
O impacto do gasto público no contexto da Selic
No entanto, VanDyck vê um cenário contraditório. A atividade econômica continua a crescer devido ao “oxigênio” do gasto fiscal desenfreado, mas isso coloca em risco a eficácia do controle da inflação. “O problema central é que o governo está gastando de forma desenfreada, o que mantém a demanda agregada em crescimento, principalmente no setor de serviços. Mesmo com uma Selic elevada, a inflação de serviços permanece alta“, alerta.
Para o economista, a alta taxa de juros não teria impacto no mercado de trabalho e na atividade econômica, caso o governo não estivesse injetando tanto dinheiro no mercado. Ele destaca que o governo tem adotado uma postura de contrabalanço, tentando evitar que o crescimento do consumo gere pressões inflacionárias maiores. “É um contrassenso. Com uma taxa de juros de 15%, o mercado de trabalho deveria estar desacelerando, mas não está. Isso é um reflexo do gasto público excessivo“, aponta VanDyck.
Em sua análise, o economista acredita que a hesitação do Banco Central nas decisões de política monetária atrasou o processo de controle da inflação. “O Copom demorou para agir e, ao agir de forma mais gradual, permitiu que o mercado precificasse os juros de maneira mais acomodada“, observa. Ele sugere que uma ação mais agressiva, com uma elevação de dois pontos na taxa de juros de uma vez, teria sido mais eficaz para controlar as expectativas do mercado e acelerar o processo de redução da inflação.
Desafios no Cenário Fiscal e Internacional
Para VanDyck, o cenário fiscal e o impacto das políticas internacionais têm sido fatores determinantes na postura do Copom. Ele reforça que, com o cenário fiscal desorganizado e um ano eleitoral pela frente, a inflação tende a permanecer acima da meta estabelecida. “Em 2024, a inflação do Brasil deve continuar elevada devido ao gasto público e à falta de controle sobre as contas fiscais“, explica.
Em relação ao contexto internacional, o economista observa que o cenário global também influencia a postura do Banco Central. “A política monetária global também está caminhando para uma postura mais cautelosa, o que coloca mais pressão sobre os países emergentes, como o Brasil, para ajustarem suas economias a essa realidade“, comenta.
VanDyck finaliza sua análise ressaltando que, apesar da postura ortodoxa do Copom, o Brasil enfrenta um cenário de incerteza fiscal e internacional que deve impactar as projeções de inflação e de juros nos próximos meses. “O Banco Central está tentando fazer o possível para ancorar a inflação, mas os desafios são enormes e, infelizmente, o governo não tem ajudado muito a situação“, conclui.