Nos EUA, a escolha do Fed causa estranheza. O PIB cresceu 3,3% no segundo trimestre e projeções apontam expansão semelhante no terceiro. O consumo se mantém resiliente, e mesmo assim Jerome Powell optou por afrouxar. O argumento oficial é a necessidade de se antecipar a um mercado de trabalho em desaceleração, mas os números de crescimento revisados para cima revelam um paradoxo: se a economia está mais forte do que se imaginava, por que cortar?
No Brasil, o movimento foi o inverso. Mesmo com sinais de desaceleração, o Copom manteve juros em 15%. A justificativa é clara: a inflação segue acima da meta, puxada por serviços, salários e expectativas ainda instáveis. Além disso, o cenário internacional impõe cautela, tarifas comerciais, volatilidade cambial e a própria incerteza sobre a trajetória dos EUA. Para o Banco Central, cortar cedo demais poderia reverter os ganhos no combate à inflação.
O contraste entre os dois bancos centrais é revelador. O Fed age como quem teme mais o risco de recessão do que a persistência inflacionária. O Copom, ao contrário, demonstra aversão a qualquer sinal de complacência. Um corta, mesmo diante de crescimento revisado para cima; o outro segura, mesmo diante de sinais de atividade em moderação.
Há também um elemento político em comum. Trump pressiona abertamente por juros menores, de olho em eleições futuras. No Brasil, o governo, embora mais discreto, também gostaria de ver a Selic cair para aliviar crédito e estimular investimento. Ambos os bancos centrais proclamam independência, mas nenhum está imune ao ambiente político. O desafio é preservar credibilidade sem parecer insensível ao custo social de juros altos ou ao risco de estímulo precoce.
Meu ponto de vista é que as duas decisões carregam fragilidades. O corte do Fed foi, talvez, apressado. Ao agir agora, gera a sensação de que prefere se antecipar a um risco de recessão que ainda não se confirmou plenamente, correndo o risco de reacender a inflação. A manutenção do Copom, embora justificável, é um seguro caro. Protege contra riscos inflacionários, mas prolonga o sufoco do crédito e ameaça esfriar a atividade mais do que o necessário.
Em política monetária, não existem escolhas perfeitas. Há sempre custos a pagar, e eles recaem sobre a economia real. O Fed corre o risco de perder credibilidade se a inflação voltar a subir. O Copom arrisca minar crescimento e emprego se mantiver a Selic elevada por tempo demais.
O paralelo é claro: de Washington a Brasília, o dilema é o mesmo: equilibrar inflação, crescimento e política em um tabuleiro global cada vez mais interligado. A história mostrará qual banco central leu melhor os sinais do tempo. Mas uma lição é certa: quando se trata de juros, tanto cortar cedo demais quanto segurar por muito tempo podem se revelar decisões custosas.
*Coluna escrita por Fabio Ongaro, economista e empresário no Brasil, CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Camara Italiana do Comércio de São Paulo – Italcam
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