Nesta quarta-feira (17), o mercado financeiro acompanha a Super Quarta, marcada pelas decisões do Federal Reserve (Fed) e do Comitê de Política Monetária (Copom). No Brasil, o Banco Central enfrenta o desafio de calibrar a política monetária em um ambiente de atividade em desaceleração e mercado de trabalho ainda resiliente. Nos Estados Unidos, a expectativa é de início do ciclo de cortes, em meio a dados conflitantes de inflação e emprego.
Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, a leitura do Copom deve considerar que a perda de fôlego da economia faz parte do processo de convergência da inflação. “A primeira coisa que a gente tem que ter na mente é que a atividade econômica é caminho para a convergência da inflação. O Banco Central não opera em trade-off, ele opera em regime de metas de inflação.”
Sanchez destacou o aparente contraste entre desaceleração do PIB e desemprego em mínimas. “Nós temos taxa de desemprego em patamares mínimos, só que estamos vendo uma desaceleração da atividade. Existe alguém que está mentindo nessa história? Na verdade, ninguém está mentindo.” Segundo ele, a força de trabalho não voltou ao nível pré-pandemia: “Nós tínhamos que ter uma força de trabalho ao redor de 112 milhões de pessoas e ela está em 108. A taxa de desemprego acaba ficando em patamares de mínima histórica, mas ela não pode ser comparada porque a força de trabalho parou de reagir segundo a normalidade anterior.”
Na avaliação do economista, a credibilidade da política monetária depende de uma desaceleração mais forte da atividade. “A construção da credibilidade vai além do horizonte relevante, permitirá que o Banco Central veja as expectativas grudarem no alvo da meta.”
Fed deve iniciar ciclo de cortes
Nos EUA, o foco está na decisão do Federal Reserve, que deve anunciar um corte de 0,25 ponto percentual. Para o economista Bruno Corano, esse movimento já está contratado. “O corte já está contratado. Eu, por vários meses, dizia que não acreditava no corte, mas recentemente houve uma mudança e Powell deu sinais claros. Arriscaria dizer que será 0,25 p.p., com um discurso de que precisam ir aos poucos.”
Segundo ele, a decisão não será unânime. “Não vai ser uma deliberação unânime, vai ter divergência.” Corano explicou que o principal fator por trás do corte é o mercado de trabalho jovem: “O desemprego entre jovens de 16 a 24 anos está em 10,5%, algo que não acontecia desde a pandemia. Isso é o que motiva esse corte.”
O outro lado da balança é a inflação, que voltou a acelerar. “O CPI em agosto subiu 0,4%, o dobro do que vinha subindo nos últimos meses”, afirmou. Para ele, os dados mostram um cenário de “ventos conflitantes”, exigindo cautela. A entrada de Stephen Miren no board do Fed, aprovada no Senado por apenas um voto, pode reforçar a ala favorável a cortes mais rápidos.
Declarações devem guiar o mercado
Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o consenso é de que os comunicados serão tão importantes quanto as próprias decisões. “Certamente teremos uma declaração muito cuidadosa, típica do Powell”, disse Corano. No Brasil, o Copom deve reforçar o compromisso com a convergência da inflação e a manutenção da credibilidade da política monetária.