A taxa de desemprego no Brasil caiu de 5,8% para 5,6% no trimestre encerrado em julho, abaixo do consenso de mercado que projetava 5,7%. Esse é o menor patamar desde o início da série histórica, segundo os dados da PNAD, divulgados pelo IBGE. Com o ajuste sazonal, a taxa passou de 5,85% para 5,68%, marcando a sexta queda consecutiva e confirmando a tendência de fortalecimento do mercado de trabalho.
Essa redução foi puxada por dois fatores em conjunto, a leve retração de 0,1 ponto percentual na taxa de participação e a alta de 0,15% no número de pessoas ocupadas. Os dados confirmam que a recuperação do mercado de trabalho ocorre de forma consistente, com crescimento da ocupação formal e menor dependência da informalidade, um ponto considerado positivo pelos analistas.

Qual a composição da queda no desemprego?
O nível de ocupação renovou a máxima histórica, refletindo a expansão do emprego formal, que cresceu 0,15% na margem dessazonalizada e acumula alta anual de pouco mais de 3,8%. O emprego informal, por sua vez, apresentou retração de 0,1% em relação à leitura anterior, contribuindo para uma melhoria qualitativa na composição da força de trabalho.
Outro destaque foi a evolução da massa salarial efetiva, que avançou 0,5% em termos reais frente ao trimestre móvel anterior. Esse resultado foi impulsionado tanto pelo aumento no número de trabalhadores quanto pela alta de 0,57% no salário médio efetivo, reforçando o poder de compra das famílias.
Impacto da formalização e da renda
De acordo com o economista Maykon Douglas, o mercado de trabalho brasileiro vem acumulando recordes consecutivos, sustentado principalmente pelo emprego formal. “A relação entre informais e empregados caiu para abaixo de 38% em julho, pela primeira vez desde meados de 2020. Ou seja, trata-se de uma trajetória bastante positiva também do ponto de vista qualitativo”, avalia.
Esse movimento de formalização é relevante porque amplia a arrecadação tributária e fortalece a rede de proteção social. Além disso, garante maior estabilidade para trabalhadores e empregadores, contribuindo para a sustentabilidade do crescimento econômico em um cenário de desaceleração global.
O que explica a persistência da inflação de serviços?
“O mercado de trabalho tem sido um dos fatores por trás da lenta desinflação do núcleo de serviços. Isso ocorre porque esse segmento é altamente sensível às condições de demanda“, explica o economista. Com uma massa salarial em crescimento real de quase 6,3% nesta leitura, setores como alimentação fora de casa, educação e serviços pessoais seguem registrando preços firmes.
Nesse sentido, mesmo com sinais de desaceleração da economia, a renda maior das famílias tem sustentado o consumo em determinados segmentos. Isso explica por que a inflação subjacente não cede na mesma velocidade observada em outros grupos, como bens industriais ou alimentos in natura.
Qual a perspectiva para a política monetária após dados de desemprego?
Segundo Douglas, a interação entre mercado de trabalho aquecido e inflação resiliente limita a margem de manobra do Banco Central. “Dada essa dinâmica conjunta entre emprego e inflação subjacente, o Copom não tem espaço para alterar o cerne da sua comunicação no momento. Deve manter firme seu objetivo de preservar a taxa Selic no atual patamar por tempo suficiente para reequilibrar os preços”, destaca.
Em outras palavras, o dado representa um desafio adicional para a política monetária. O crescimento da renda pressiona a demanda por serviços, retardando o processo de convergência da inflação à meta. Assim, mesmo diante da desaceleração econômica, a autoridade monetária deve manter uma postura cautelosa.
Próximos passos do mercado de trabalho
Para os próximos meses, analistas esperam que o ritmo de geração de vagas continue positivo, mas em um compasso mais lento. A tendência de formalização, no entanto, deve permanecer como destaque, refletindo mudanças estruturais na economia e maior inserção em setores que oferecem vínculos com carteira assinada.
Além disso, a trajetória da renda e da massa salarial será determinante para avaliar os impactos sobre o consumo e a inflação. Caso a renda continue avançando acima da média histórica, a pressão sobre o núcleo de serviços deve persistir, reforçando o dilema entre crescimento e estabilidade de preços.