A agência de classificação de risco Moody’s acendeu um sinal amarelo para o Brasil ao mencionar a possibilidade de retaliação norte-americana depois da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. O tema foi debatido no BM&C News pelo economista VanDyck Silveira, que avaliou os erros de projeção da agência e os entraves estruturais que impedem o país de alcançar um grau de investimento sustentável.
Segundo Silveira, a melhora da perspectiva do Brasil no início do ano foi um “sonho de uma noite de verão”. Apesar do voto de confiança, não houve reformas capazes de sustentar o otimismo. Nesse sentido, ele argumenta que as instituições brasileiras continuam vulneráveis à captura por interesses de grupos e ideologias de governo, o que mina a credibilidade do país perante investidores.
Retaliação no radar?
O economista destacou que o mercado internacional tem simpatia pelo Brasil, o que gera otimismo exagerado. “Todo mundo gosta de acreditar que o Brasil vai dar certo”, afirmou. Contudo, o excesso de expectativas se choca com a realidade: o Estado responde por quase 40% do PIB e continua a intervir pesadamente na economia. Por outro lado, a falta de reformas estruturais mantém o país preso a ciclos de baixo crescimento e juros elevados.
Para VanDyck, enquanto não houver mudanças na forma como o Estado consome recursos e distribui subsídios, o Brasil dificilmente terá avanços significativos em inovação, ciência ou desenvolvimento. O contraste com países menores e mais competitivos, como a Suíça, exemplifica o atraso brasileiro.
Quais os riscos de retaliação dos EUA?
Além da questão interna, a Moody’s sinalizou preocupação com possíveis medidas de retaliação dos Estados Unidos. A condenação de Bolsonaro teria adicionado tensão ao ambiente externo, abrindo espaço para sanções comerciais e políticas. Nesse contexto, o economista lembra que a confiança internacional é frágil: basta um episódio de instabilidade para reverter ganhos recentes na percepção de risco.
Enquanto isso, a dependência brasileira de setores subsidiados, como a indústria automotiva, evidencia a dificuldade em diversificar e preparar a força de trabalho para novas áreas. “Treinar pessoas para outras indústrias é essencial, mas o Brasil insiste em proteger setores ineficientes”, disse Silveira.
O peso dos subsídios e políticas sociais
O economista ressaltou que parte relevante do PIB é destinada a transferências sociais e subsídios. Ele apontou que cerca de 7% do PIB vai para empresários “gatos gordos”, enquanto aproximadamente 23% é destinado a programas sociais. Nesse sentido, ele alerta que a indexação desses benefícios cria distorções fiscais e dificulta a sustentabilidade das contas públicas.
Por outro lado, Silveira enfatizou que políticas sociais são importantes, mas que deveriam ser acompanhadas por reformas capazes de reduzir desigualdades sem comprometer a eficiência econômica. A falta dessa combinação perpetua a estagnação e aumenta o custo de operar no país.
Brasil está condenado à estagflação?
Para VanDyck, o Brasil flerta com a estagflação, cenário de baixo crescimento combinado a inflação elevada. Ele relembrou os anos recentes de recessão profunda, com retração de mais de 3% do PIB por três anos seguidos, e destacou a fragilidade institucional revelada pelo impeachment de 2016. “Sem reformas que fortaleçam as instituições, não há perspectiva de melhora significativa”, avaliou.
Nesse sentido, a perspectiva de juros altos por tempo prolongado torna-se inevitável. O país, ao manter custos elevados de operação, desestimula investimentos de risco e incentiva aplicações financeiras conservadoras, como títulos atrelados ao IPCA ou CDBs.
O que precisa mudar para o Brasil recuperar credibilidade?
O entrevistado foi categórico: apenas com reformas estruturais, como a redução do tamanho do Estado e a criação de um ambiente de negócios mais competitivo, será possível reverter o quadro. Além disso, a educação deve ser tratada como prioridade para formar uma força de trabalho adaptável, capaz de se inserir em setores de maior demanda global.
Enquanto isso, sem avanços nessa direção, o Brasil seguirá preso a um modelo de alto custo, baixa produtividade e risco crescente de isolamento internacional. A advertência da Moody’s, ao associar a condenação de Bolsonaro ao risco de retaliação americana, reforça que a política interna e a geopolítica estão cada vez mais interligadas na avaliação de risco de crédito do país.