O crédito rural no Brasil continua marcado por contrastes. Enquanto o Plano Safra 2025/2026 prevê um volume recorde de R$ 516,2 bilhões, apenas R$ 113,8 bilhões contam com juros subsidiados. O restante segue regras de mercado, com maior burocracia e prazos de liberação que muitas vezes não acompanham o ritmo da produção. Nesse cenário, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) avançam como alternativa ágil, movimentando R$ 630 bilhões em maio e com previsão de superar R$ 1 trilhão até 2027.
Os FIDCs oferecem soluções customizadas para custeio de safra, capital de giro e investimentos, utilizando instrumentos como Cédula de Produto Rural (CPR) e garantias reais, como penhor de safra e alienação fiduciária de imóveis. “O produtor não pode mais depender de um crédito que chega atrasado ou em volume insuficiente. O melhor recurso é aquele que atende à necessidade do negócio no tempo certo”, afirma Gustavo Assis, CEO da Asset Bank.
Versatilidade e redução de riscos
Uma das principais vantagens dos fundos estruturados é a capacidade de atender toda a cadeia do agronegócio. O mesmo veículo pode contemplar pequenos produtores, agroindústrias e fornecedores de insumos, conectando diferentes elos e reduzindo o risco de inadimplência. Para investidores, essa configuração gera carteiras pulverizadas, com exposição a múltiplas culturas, regiões e perfis de tomadores, além de mecanismos de proteção como cotas subordinadas e garantias reais.
O avanço dos FIDCs acompanha o processo de profissionalização do agronegócio. Com a transição geracional, grupos familiares passaram a adotar práticas de gestão mais estruturadas, proteção patrimonial e análise criteriosa do custo de capital. O crédito deixou de ser apenas resposta emergencial e passou a ser tratado como componente estratégico do negócio.
Nova fronteira do financiamento rural
Na prática, os fundos estruturados permitem que o crédito chegue de forma mais previsível e compatível com a realidade produtiva do campo. “Hoje conseguimos oferecer crédito sob medida, com análise técnica feita em campo e liberação no momento certo da safra. Isso muda completamente a dinâmica de quem está na ponta, produzindo”, reforça Assis.
Ao aproximar o mercado de capitais do agro, os FIDCs representam uma mudança de paradigma no financiamento rural. Em vez de esperar por liberações estatais com prazos indefinidos, o produtor passa a operar com previsibilidade e estratégia. Diante da relevância do agronegócio — responsável por cerca de 25% do PIB nacional —, destravar o acesso ao capital é não apenas conveniência, mas questão de competitividade nacional. Fora da Faria Lima, os FIDCs já se consolidam como protagonistas de uma nova era no crédito rural, criando pontes sustentáveis entre investidores e produtividade no campo.