Você sabia que paga mais pela gasolina do que parece? O valor que aparece na bomba pode enganar, isso porque enquanto o consumidor acredita estar pagando R$ 6,89 por litro na bomba, na realidade a gasolina pura, chamada de gasolina A, pode chegar a custar quase R$ 9 efetivamente. Esse cálculo leva em conta a mistura obrigatória de 30% de etanol, que além de ‘mascarar’ o preço real da gasolina, também diminui a autonomia do carro.
Desde agosto a gasolina vendida nos postos brasileiros contém 30% de etanol anidro, formando o que se chama de gasolina C. Esse detalhe muda toda a equação e o consumidor paga menos por litro na placa, mas percorre menos quilômetros com cada abastecimento. Por outro lado, a falta de transparência na formação do preço real levanta críticas sobre como o país trata sua política energética e o bolso do motorista.
Qual é o preço real da gasolina?
O valor na bomba corresponde à mistura de 70% gasolina A + 30% etanol anidro. Se o litro exibido é R$ 6,89 e o etanol custa R$ 3,30, é possível isolar o preço da gasolina A (G) pela seguinte lógica:
- Fórmula da mistura: 0,70 × G + 0,30 × 3,30 = 6,89
- 0,30 × 3,30 = 0,99
- 0,70 × G = 6,89 − 0,99 = 5,90
- G = 5,90 ÷ 0,70 = ≈ R$ 8,43
Em outras palavras, o motorista paga R$ 6,89 pela mistura, mas o preço implícito do componente gasolina pura dentro desse litro é de aproximadamente R$ 8,43. Além disso, como a autonomia por litro tende a cair com maior proporção de etanol, o custo por quilômetro rodado pode subir ainda mais.
Gasolina e etanol: impacto no bolso e na autonomia
Do ponto de vista do consumidor, dois efeitos aparecem simultaneamente, um preço médio por litro aparentemente menor (por conta do etanol mais barato) e um rendimento por litro menor (devido à energia específica do etanol). Nesse sentido, o que se “ganha” em preço de bomba pode se “perder” em autonomia, elevando o gasto total por quilômetro.
Além disso, a composição de 30% de etanol funciona como um amortecedor contábil do preço da gasolina pura, pois parte do litro é preenchida por um insumo mais barato. Por outro lado, isso reduz a transparência para o consumidor, que avalia o custo apenas pelo valor na placa do posto, sem enxergar claramente o quanto está pagando, de forma implícita, pela gasolina A.
Como o Brasil se compara a outros mercados?
Vários países adotam misturas de etanol na gasolina por razões ambientais e de diversificação energética. Mas as proporções usuais em economias avançadas costumam girar em torno de 10% (como nos blends E10), o que reduz menos a autonomia por litro e facilita a leitura do preço real do combustível principal. Nesse sentido, a calibragem da mistura no Brasil, atualmente mais elevada, intensifica os efeitos de autonomia e de percepção de preço.
O avanço de metas ambientais e a relevância do setor sucroenergético compõem o pano de fundo técnico e político desse desenho. Por outro lado, a experiência do consumidor final sugere oportunidades de transparência, como explicitar, de forma clara, o preço implícito da gasolina A e a parcela do etanol no litro vendido, bem como oferecer ao motorista informações sobre o impacto estimado na autonomia.