O julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou Jair Bolsonaro e outros sete réus também trouxe repercussões no campo político e jurídico. O professor e constitucionalista André Marsiglia destacou que a questão da inelegibilidade do ex-presidente não está diretamente vinculada ao julgamento do STF, mas sim à Justiça Eleitoral. No entanto, a condenação reforça a situação já existente e reacende o debate sobre anistia.
Segundo Marsiglia, “a questão da inelegibilidade de Bolsonaro está relacionada à Justiça Eleitoral. Foi por lá que ele se tornou inelegível. Agora, com esse julgamento, isso fica reforçado”. O especialista observa que os fatos que levaram à inelegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são semelhantes aos que fundamentaram a condenação pelo STF, o que amplia os efeitos políticos e jurídicos sobre o futuro do ex-presidente.
A anistia poderia mudar a situação de Bolsonaro?
Marsiglia explica que, se aprovada, uma eventual anistia poderia impactar não apenas o processo criminal, mas também a inelegibilidade. “Não tem como a anistia não abarcar a inelegibilidade dele, por conta de que os fatos que levaram à perda de seus direitos políticos foram basicamente os mesmos que resultaram na condenação do processo do golpe”, afirmou.
Nesse sentido, a discussão sobre anistia torna-se central para a estratégia política. Para os críticos de Bolsonaro, o risco de sua reinserção no jogo eleitoral é o principal motivo da resistência à medida. Já para apoiadores, a anistia poderia restaurar a legitimidade política do ex-presidente, abrindo caminho para futuras disputas eleitorais.
O impacto da divergência do ministro Fux
Outro ponto relevante do julgamento foi o voto divergente do ministro Luiz Fux, que rompeu a expectativa de unanimidade na decisão. A reação entre colegas de Corte, marcada por incômodo e até certo desprezo, trouxe à tona discussões sobre a credibilidade institucional do STF.
Marsiglia ressalta que a divergência é essencial para a democracia: “A ideia de unanimidade, sobretudo em um caso tão complexo como esse, não me parece ser solidez da Corte. Ao contrário, a divergência me parece ser solidez democrática”. Para o professor, a pluralidade de visões dentro da Suprema Corte fortalece o debate jurídico e evita a percepção de alinhamento político homogêneo.
Divergência fragiliza ou fortalece o STF?
Segundo o constitucionalista, a falta de percepção de que o contraditório faz bem ao tribunal pode afetar não apenas a credibilidade do STF, mas também do debate público como um todo. “Se acreditarmos que todos têm de pensar igual, como fica a imprensa? Como ficam as universidades? Como fica o debate jurídico?”, questionou.
Dessa forma, a divergência no julgamento de Bolsonaro não deve ser vista como fragilidade institucional, mas sim como expressão da democracia. O contraditório garante legitimidade e reforça que as decisões da Corte resultam de debates amplos e técnicos.
Quais os próximos desdobramentos?
O cenário político permanece em aberto. A inelegibilidade de Bolsonaro, embora já definida pela Justiça Eleitoral, ganha novo peso com a decisão do STF. Ao mesmo tempo, o debate sobre anistia deve se intensificar no Congresso, aumentando a tensão entre Poderes.
Enquanto isso, a divergência de votos dentro do STF pode redefinir a percepção pública sobre a Corte. Para Marsiglia, o fortalecimento da democracia depende justamente da coexistência de opiniões distintas e da manutenção do espaço para o contraditório. O futuro de Bolsonaro e os rumos do Supremo estão, portanto, diretamente conectados no tabuleiro político e jurídico do país.