O IPCA de agosto, que será divulgado nesta quarta-feira (10), deve registrar deflação mensal, de acordo com a maior parte das projeções do mercado. A inflação deve ser puxada por fatores específicos como o bônus tarifário de Itaipu, a queda em alguns alimentos e combustíveis e efeitos pontuais em serviços. Caso confirmado, será o primeiro resultado negativo do índice em dois anos.
Embora o movimento represente um alívio imediato ao consumidor, analistas ressaltam que não se trata de uma mudança estrutural da inflação brasileira. O acumulado em 12 meses segue em torno de 5%, acima da meta do Banco Central, o que deve manter a política monetária em compasso de cautela. Além disso, a pressão dos serviços permanece no radar, reforçando o caráter temporário da deflação esperada.
O que está por trás da expectativa dos dados de inflação?
Leonardo Costa, economista do ASA, avalia que o principal vetor é o comportamento da energia elétrica. “O bônus tarifário de Itaipu terá papel central nesse movimento, embora o acionamento da bandeira vermelha 2 deva limitar parcialmente o impacto. Esse efeito é temporário, e a energia tende a voltar a pressionar em setembro”, explica.
Nos alimentos, a expectativa também é de queda, com destaque para os in natura. Já nos serviços, o cenário é oposto, deve haver aceleração, apesar de deflação pontual em cinema, resultado de descontos durante a Semana do Cinema no fim de agosto.
- Energia elétrica: queda com impacto do bônus de Itaipu, mas bandeira vermelha reduz efeito.
- Alimentos: deflação esperada nos in natura.
- Serviços: tendência de aceleração, salvo casos pontuais como cinemas.
- Combustíveis: devem contribuir para a queda, mas sem alterar o quadro estrutural.
Essa deflação muda o quadro da inflação?
Para João Kepler, CEO da Equity Group, o resultado precisa ser lido com prudência. “A expectativa de deflação do IPCA em agosto é relevante, mas é um movimento pontual. Não indica mudança estrutural na trajetória da inflação”, avalia. Ele ressalta que o acumulado em 12 meses ainda preocupa e exige planejamento de médio e longo prazo, tanto para consumidores quanto para empreendedores.
Na visão de Kepler, os momentos de oscilação podem trazer oportunidades. “É justamente nesse ambiente que surgem chances para quem adapta rapidamente os negócios e transforma instabilidade em crescimento”, afirma.
Qual a importância do IPCA para o mercado?
Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, destaca que o IPCA é um termômetro de confiança para toda a economia. Quando as projeções apontam desaceleração, mesmo que temporária, o ambiente tende a ganhar previsibilidade. Isso favorece planejamento, expansão e alocação de capital em projetos de médio e longo prazo.
Segundo Patrus, é preciso observar dois cenários distintos:
- Inflação sob controle: gera ambiente de confiança, reduz custo de oportunidade e favorece startups e investimentos de risco.
- Inflação persistente: leva a juros elevados por mais tempo, encarece crédito, limita consumo e aumenta a seletividade dos investidores.
“Cada décimo a mais ou a menos no IPCA muda o ritmo de decisões estratégicas. É um guia não apenas estatístico, mas determinante para a velocidade da atividade econômica”, reforça Patrus.
Como o Banco Central deve reagir à inflação?
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, projeta que a leitura de agosto será em torno de retração de 0,15%. Ele, no entanto, alerta que o dado deve ser visto como fotografia momentânea. “O resultado será explicado por fatores muito específicos. Não há mudança estrutural, e o acumulado em 12 meses segue acima da meta do Banco Central. Isso significa que dificilmente veremos cortes na Selic no curto prazo”, observa.
Ros ressalta que investidores precisam adotar estratégias de médio e longo prazo. “É importante interpretar o IPCA não como tendência, mas como sinal de curto prazo. A proteção de capital continua sendo prioridade”, afirma.
Principais pontos de atenção para o mercado
- Primeira deflação em dois anos: estimativa de -0,15% em agosto.
- Causas pontuais: energia (bônus de Itaipu), alimentos e combustíveis.
- Serviços em alta: tendência de aceleração reforça pressão estrutural.
- Acumulado em 12 meses: em torno de 5%, acima da meta do BC.
- Postura do Banco Central: manutenção da Selic em patamar elevado.
- Impactos para investidores: necessidade de estratégias de longo prazo e cautela com otimismo exagerado.
A expectativa de deflação no IPCA de agosto traz algum alívio imediato, mas não altera o quadro estrutural da inflação no Brasil. O mercado deve continuar atento à trajetória dos preços de serviços, à política de energia elétrica e às decisões do Banco Central.
Para consumidores, o efeito é um respiro no curto prazo. Já para empresas e investidores, a leitura serve como alerta para não se deixar levar por movimentos pontuais. Como reforçam os analistas, compreender a dinâmica do IPCA é essencial para antecipar cenários, proteger capital e aproveitar oportunidades de crescimento sustentável em meio à volatilidade.