O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (8) trouxe revisões pontuais nas projeções econômicas, com destaque para a queda nas expectativas de crescimento do PIB em 2025 e para a redução gradual nas estimativas de inflação de longo prazo. Segundo o economista Maykon Douglas, o relatório reflete um ambiente em que a atividade mostra sinais de desaceleração, enquanto a política monetária segue firme em ancorar expectativas.
Para Douglas, os dados recentes da indústria e a perspectiva de fraqueza no comércio e nos serviços durante o terceiro trimestre confirmam o ajuste nas projeções. “O PIB de julho veio acima do consenso, mas reforçou a narrativa de perda de fôlego, especialmente em setores sensíveis ao juro alto. O mercado está apenas antecipando o que os indicadores já sinalizam”, afirmou.
O que mudou nas projeções do Focus?
As expectativas para o PIB de 2025 recuaram de 2,19% para 2,16%. Para os anos seguintes, a tendência também foi de pequenas baixas de 1,85% em 2026 e 1,88% em 2027. Apenas 2028 permaneceu estável em 2,00%. Douglas observa que esse movimento demonstra que o ciclo de juros mais longo terá efeitos prolongados sobre o crescimento econômico.
No caso da inflação, as projeções para o IPCA mostraram estabilidade em 2025 (4,85%) e leve queda em 2026 (4,30%). Para 2027, houve nova redução para 3,93%, a terceira consecutiva, enquanto 2028 recuou para 3,70%. “A queda das expectativas longas de inflação é uma evidência de que a comunicação dura do Copom e o patamar elevado da Selic estão conseguindo reancorar gradualmente as projeções”, avaliou Douglas.
Taxa de câmbio e política monetária no Focus
As projeções para o câmbio também foram ajustadas levemente para baixo, com o dólar esperado a R$ 5,55 em 2025 e R$ 5,60 em 2026. Já a Selic não apresentou mudanças, com manutenção das expectativas em 15% ao ano para 2025 e queda gradual até 10% em 2028.
Segundo Douglas, esse quadro mostra que o mercado não vê espaço para cortes mais rápidos. “A inflação ainda está acima do centro da meta, e a incerteza fiscal permanece elevada. O BC precisa manter a postura vigilante para consolidar a convergência das expectativas”, disse.
Setor externo e contas públicas: sinais de alerta?
As projeções para o setor externo seguem mistas. O déficit em conta corrente de 2025 foi elevado para US$ 65,41 bilhões, enquanto o superávit da balança comercial permaneceu em US$ 65 bilhões, devendo avançar até US$ 79,9 bilhões em 2027. O investimento direto no país se mantém estável em US$ 70 bilhões.
Na frente fiscal, a dívida líquida do setor público continua projetada em 65,80% do PIB em 2025, chegando a 76,00% em 2028. O resultado primário permanece negativo (-0,52% em 2025), e o déficit nominal piorou para -8,50%. Para Douglas, “a deterioração das contas públicas limita o espaço de manobra da política monetária e ajuda a explicar a cautela do Copom”.
Qual é a leitura para os próximos meses?
A avaliação de Douglas é que o terceiro trimestre começa pressionado, e a tendência de desaceleração deve se manter. A combinação entre juros altos, moderação no consumo e riscos fiscais mantém o viés de baixa para o crescimento. “Ainda há fatores atenuantes, como os precatórios e o novo consignado, mas o cenário estrutural é de economia perdendo tração”, resumiu.
Assim, o Focus desta semana reforça dois pontos principais: por um lado, a atividade mostra sinais de enfraquecimento, levando a cortes nas projeções do PIB, por outro, as expectativas de inflação continuam cedendo no horizonte relevante, o que indica que a estratégia de manter juros elevados por um período prolongado tem surtido efeito.
- PIB 2025: 2,16% (queda)
- IPCA 2027: 3,93% (redução pela terceira semana)
- Câmbio 2025: R$ 5,55 (queda)
- Selic 2025: 15,00% (estável)
- Dívida líquida 2028: 76% do PIB
Para o economista Maykon Douglas, o momento exige equilíbrio entre firmeza monetária e atenção ao quadro fiscal. “A reancoragem das expectativas é um processo em curso, mas ainda frágil. O Banco Central precisará manter a cautela por mais tempo do que o mercado gostaria”, concluiu.