Nos últimos anos, o Banco do Brasil, uma das instituições financeiras mais tradicionais do país, tem enfrentado desafios em sua performance financeira. Bancos relativamente novos, como o BTG Pactual, têm se destacado no mercado, superando o desempenho do banco estatal, que historicamente dominou o setor. O contraste fica evidente quando observamos o valor de mercado e os resultados recentes, bancos como BTG Pactual e Itaú aproveitaram melhor os ciclos do mercado de capitais e a automação de processos. O que será que o Banco do Brasil tem feito de errado para “perder” para essas instituições menores e mais ágeis?
Com uma estrutura sólida e uma vasta base de clientes, o Banco do Brasil continua sendo uma das maiores instituições financeiras do Brasil. No entanto, os números recentes mostram que o desempenho financeiro do banco está ficando para trás quando comparado a competidores como o BTG Pactual. A pergunta que surge é: qual é a razão desse descompasso entre os gigantes tradicionais e os bancos mais novos?
Segundo Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, a nova fronteira competitiva dos bancos está na rapidez para digitalizar a operação e reduzir custos sem perder capacidade de aquisição de clientes. Nesse sentido, instituições que “nasceram digitais” ou se tornaram hábeis na transformação, como o Itaú, conseguiram ampliar margens e capturar clientes mais digitais. Por outro lado, o Banco do Brasil enfrenta travas estruturais e um ritmo menos acelerado de mudança, o que ajuda a explicar o descompasso recente frente aos pares privados.
Ranking dos bancos: desempenho no último trimestre
Quando analisamos os resultados financeiros de cada banco com base no valor de mercado, temos uma visão clara de como os bancos mais novos estão se destacando. Abaixo está uma tabela com os dados mais recentes disponibilizados pela plataforma ComDinheiro, organizados do maior para o menor valor de mercado:
| Posição | Banco | Valor de Mercado (R$ bi) | Lucro Líquido (12m) – R$ bi | Variação LL 3 anos (12m) | Valor de Mercado em 27/08/2020 (R$ bi) | Diferença (R$ bi) | % em Valor de mercado |
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| 1 | ITUB4 | 376,45 | 43,82 | 55,80% | 231,16 | 145,29 | 63% |
| 2 | BPAC11 | 208,55 | 13,20 | 106,33% | 100,89 | 107,66 | 107% |
| 3 | BBDC4 | 160,66 | 20,97 | -12,28% | 180,07 | -19,40 | -11% |
| 4 | BBAS3 | 116,79 | 18,77 | -21,84% | 93,84 | 22,95 | 24% |
| 5 | SANB11 | 102,97 | 11,86 | -23,46% | 107,60 | -4,63 | -4% |
O case do BTG Pactual chama atenção: mesmo sendo “mais novo”, consolidou-se como segundo maior em valor de mercado. com R$ 208,55 bilhões. Além disso, o Itaú reforçou a liderança ao combinar escala com adoção rápida de ferramentas digitais e disciplina na alocação de capital. Por outro lado, Bradesco e Santander sofreram erosão de valor, e o Banco do Brasil, embora tenha avançado desde 2020, não acompanhou o ritmo dos líderes.
O que está impulsionando o crescimento dos bancos menores?
De acordo com Saravalle, “esses bancos que conseguiram se antecipar à digitalização, reduziram custos, elevaram eficiência e conquistaram clientes mais”. Além disso, “o BTG tem linhas muito fortes e soube surfar o mercado de capitais”, o que amplia receitas não dependentes do crédito tradicional. “A diversificação em investment banking, asset management, crédito estruturado e plataformas de investimentos cria múltiplos motores de crescimento“, avalia o CIO da MSX Invest.
Enquanto isso, a cultura de testes rápidos, time-to-market curto e decisões orientadas por dados favorece ajustes finos de produtos, preços e risco. Por outro lado, estruturas mais pesadas e fluxos de decisão mais longos, típicos de grandes organizações, tendem a retardar ganhos de eficiência e a captura de novas frentes de receita.
O que o Banco do Brasil tem feito de errado?
O diagnóstico é menos sobre “erro” isolado e mais sobre velocidade e foco. Saravalle observa que o “Banco do Brasil sofre em uma carteira específica de crédito para o agro”, o que adiciona volatilidade ao resultado. Por outro lado, o BB tem ativos valiosos, capilaridade, base de clientes e relacionamento público-privado, que ainda podem ser monetizados de forma mais intensa com tecnologia e analytics.
Nesse sentido, o banco estatal parece avançar a passo lentos, onde os pares já capturaram ganhos significativos com automação de ponta a ponta, originação digital com custo marginal baixo, personalização em escala e expansão de receitas de serviços de alto valor agregado. Enquanto isso, a pressão competitiva de plataformas e casas de investimento empurra o setor para modelos mais leves e modulares.
Quais lições o Banco do Brasil pode aplicar para recuperar terreno?
Para reduzir o hiato frente aos líderes, especialistas apontam um conjunto de ações prioritárias, com foco em execução e métricas de eficiência:
- Acelerar a transformação digital: automatizar processos fim a fim (crédito, cobrança, onboarding, atendimento) e reduzir o custo-servir por cliente.
- Eficiência operacional: metas claras de custo/receita, produtividade por canal e reciclagem de capital em produtos de maior retorno ajustado ao risco.
- Diversificação de receitas: ampliar motores de alto ROE (mercado de capitais, gestão de patrimônio, seguros, meios de pagamento).
- Personalização em escala: usar dados para precificar risco, aumentar “take rate” em segmentos premium e melhorar lifetime value.
- Governança de portfólio de crédito: reduzir concentração em carteiras mais voláteis, como o agro, com hedges e políticas anticíclicas.
- Velocidade de implementação: encurtar ciclos de entrega e adotar arquitetura tecnológica modular para acelerar lançamentos.
Como o Banco do Brasil pode recuperar o território?
O Banco do Brasil tem os recursos necessários para se recuperar, mas isso exigirá uma mudança estratégica significativa. Adotar uma abordagem mais voltada para o digital, focar na inovação e reduzir a burocracia interna são passos essenciais para competir com os bancos menores, que têm mostrado uma visão mais ousada e ágil do setor financeiro.
Com base na análise do desempenho dos bancos e do especialista, fica claro que o Banco do Brasil precisa repensar sua abordagem para garantir sua posição no setor. A transformação digital, a inovação nos serviços e o foco em nichos de alto retorno são essenciais para que a instituição se recupere e continue relevante no mercado financeiro.