O PIB dos Estados Unidos avançou 3,3% no segundo trimestre de 2025, segundo dados divulgados pelo Departamento de Comércio. O resultado veio dentro das expectativas do mercado, mas mostra que a economia americana segue resiliente mesmo sob juros elevados e tarifas adicionais impostas pelo governo. Para Fabio Fares, especialista em análise macro, o dado reforça a percepção de que a decisão do Federal Reserve (Fed) dependerá menos do PIB e mais de indicadores de emprego, como o payroll.
Segundo Fares, o PIB é um indicador considerado retrovisor, mas ainda assim ajuda a traçar um quadro da força da economia americana. “Já se esperava um número robusto, dado o desempenho positivo das empresas no segundo trimestre e o rebote da atividade em meio às tarifas. No entanto, o grande pivô do Fed será definido pelos próximos dados de mercado de trabalho”, afirmou.
O que o resultado do PIB sinaliza para o Fed?
Na avaliação de Fares, o crescimento do PIB não muda de forma significativa a leitura sobre a condução da política monetária. O especialista destacou que a expectativa está concentrada no próximo relatório de emprego (payroll). “Se o dado vier acima de 230 mil vagas, o Fed tende a empurrar o corte de juros para frente. Caso contrário, pode sinalizar um alívio já em setembro”, explicou.
O analista lembrou que o mercado já trabalha com projeções de criação de 220 mil a 230 mil vagas. Acima desse patamar, a interpretação seria de que o mercado de trabalho ainda está aquecido demais para permitir cortes no curto prazo. “O payroll será decisivo. O Fed quer equilibrar o combate à inflação sem perder de vista a necessidade de dar espaço para as empresas contratarem no longo prazo”, disse.
A inflação continua no radar?
Mesmo com a expansão do PIB, o desafio da inflação permanece. Fares destacou que as tarifas adicionais impostas recentemente devem manter os preços em torno de 2,8% a 3% nos próximos meses. “Não há sinal de descontrole, mas a inflação deve permanecer resiliente. Esse quadro reforça que o Fed terá de agir com cautela para não perder a credibilidade”, afirmou.
Além disso, o especialista ressaltou que o mercado já projeta um caminho gradual para cortes de juros, possivelmente em um modelo de “reunião sim, reunião não”, até o fim de 2026. “Um corte em setembro, se vier, será mais um sinal ao mercado do que uma guinada na política monetária. O Fed precisa mostrar que acompanha os dados, mas sem comprometer a estabilidade de preços”, observou.
O que esperar para os próximos meses?
De acordo com Fares, o desempenho da economia no segundo trimestre mostra que a desaceleração tem sido mais branda do que muitos analistas temiam. Ainda assim, os próximos meses devem ser marcados por incertezas. Entre os principais pontos de atenção estão:
- A evolução do mercado de trabalho americano e sua influência sobre o calendário de cortes de juros;
- O impacto das tarifas adicionais sobre preços e atividade econômica;
- A capacidade das empresas em manter resultados positivos diante de custos mais elevados;
- A reação dos mercados financeiros globais à combinação de PIB forte e inflação resiliente.
Enquanto isso, investidores acompanham atentamente a sinalização do Fed. O órgão precisa equilibrar a manutenção da credibilidade no combate à inflação com a necessidade de oferecer condições menos restritivas ao setor produtivo. “O Fed busca esse ponto de equilíbrio: não deixar a inflação escapar, mas também não travar completamente a atividade econômica”, concluiu Fares.